tag:blogger.com,1999:blog-90352101936871780872024-02-20T16:34:08.524+00:00Pessoa para todas as ocasiõesEm contexto ou fora dele — Pessoa, sempre!Fernando Gouveiahttp://www.blogger.com/profile/06501541751354428397noreply@blogger.comBlogger905125tag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-7593906572754732122013-03-31T20:00:00.000+01:002013-04-09T18:14:22.803+01:00Quatro anos. Valete, Fratres!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihSEtrgFD96dNvlMz4EStHSCZT7f91hizkC1tnaXOsXw-v-YP5UmW6ux3EwQ_1CahbZC7qXNPWqIpc9DbHLAWEHX92z0htUDaQmISBd097QciOSaDABKm69zvxlj2oXglOgbgnkBNcH2qd/s1600/Pedro+Jubilot+%2528Bairro+Alto%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="300" width="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihSEtrgFD96dNvlMz4EStHSCZT7f91hizkC1tnaXOsXw-v-YP5UmW6ux3EwQ_1CahbZC7qXNPWqIpc9DbHLAWEHX92z0htUDaQmISBd097QciOSaDABKm69zvxlj2oXglOgbgnkBNcH2qd/s400/Pedro+Jubilot+%2528Bairro+Alto%2529.jpg" alt="«Não cites Fernando Pessoa em vão.»" /></a></div><div style="text-align: center; font-size:85%;">Stencil de autor desconhecido (Bairro Alto, Lisboa)<br />Fotografia de <span style="font-weight:bold;">Pedro Jubilot</span></div><br /><br />
<div class="editorial">O primeiro <i lang="en">post</i> deste blogue, <a href="http://pessoasempre.blogspot.com/2009/01/pessoa-sempre.html" title="primeiro post deste blogue">reza a lenda</a>, foi publicado há precisamente 4 anos. O objectivo a que nos propúnhamos era mostrar que <b>«o “Universo Pessoa” é tão vasto, que seria possível citá-lo a propósito de quase tudo»</b> (e, pensando bem, também a propósito de nada). Após 905 <i lang="en">posts</i>, em contexto ou fora dele, cremos bem que o conseguimos. Pelo caminho, esperamos ter estimulado alguém a ler Pessoa(s): nunca é em vão. (O mais provável, porém, é termos estado apenas a falar para uns poucos já “convertidos”.)<br /><br />
Quatro anos é muito tempo. Quatro é também um número apropriadamente pessoano: Caeiro, Reis, Campos, Pessoa.<br /><br />
Este blogue acaba aqui. <em lang="la">Valete, Fratres!</em><br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right; font-size:85%;">Maria Filomena + Fernando Gouveia</div></div>
<br />
<div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Nevoeiro”, <span style="font-style:italic;">Mensagem</span>, Terceira Parte, III, p. 191)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-42969186686606933592013-03-31T11:44:00.001+01:002013-03-31T11:52:08.936+01:00Páscoa chuvosaIlumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,<br />
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...<br />
<br />
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,<br />
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...<br />
<br />
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes<br />
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...<br />
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça<br />
E sente-se chiar a água no facto de haver coro...<br />
<br />
A missa é um automóvel que passa<br />
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...<br />
Súbito vento sacode em esplendor maior<br />
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo<br />
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe<br />
Com o som de rodas de automóvel...<br />
<br />
E apagam-se as luzes da igreja<br />
Na chuva que cessa...<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Chuva Oblíqua, II”, <span style="font-style:italic;">Poesia (1902–1917)</span>, p. 215)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-34058374617475400132013-03-31T03:00:00.000+01:002013-03-31T03:00:00.513+01:00Mudança para a hora de Verão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIfFDZlkXGibx8hWvhp-t_cvKPRfdboejCAh_OYD54OizoPoMrPvA-oGS7dL11fbxu9MaQvm1OkDjvtwDuI6ZQYXW4i3xhxabL_PohLSA2vE0ojXg9wPU1W91UWFxU88hP79_5WkhZ6-Kt/s1600/Cruzeiro+Seixas+%2528Hora+Absurda%2529.png" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="326" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIfFDZlkXGibx8hWvhp-t_cvKPRfdboejCAh_OYD54OizoPoMrPvA-oGS7dL11fbxu9MaQvm1OkDjvtwDuI6ZQYXW4i3xhxabL_PohLSA2vE0ojXg9wPU1W91UWFxU88hP79_5WkhZ6-Kt/s400/Cruzeiro+Seixas+%2528Hora+Absurda%2529.png" /></a></div><div style="text-align: center; font-size:85%;">«Hora Absurda»<br />Desenho de <span style="font-weight:bold;">Cruzeiro Seixas</span></div><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Hora Absurda”, <span style="font-style:italic;">Poesia (1902–1917)</span>, pp. 180–183)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-60458181238796615612013-03-29T01:06:00.000+00:002013-03-31T11:41:56.298+01:00Sexta-feira “Santa”Cabeça augusta, que uma luz contorna,<br />
Que há entre mim e o mundo que me faz<br />
(Porque em espinhos a auréola se torna?)<br />
Ansiar a minha morte e a tua paz?<br />
<br />
A tua história — Pilatos ou Caifás<br />
Quem tem? São sonhos que o narrar transtorna.<br />
Não é esse o Calvário a que te traz<br />
Tua sina onde todo o fel se entorna.<br />
<br />
Não. É em mim que se o Calvário ergueu.<br />
É em meu coração abandonado<br />
Que Ele, cabeça augusta, alto sofreu.<br />
<br />
Quem na Cruz onde está ermo e pregado<br />
O pregou? Foi Romano ou foi Judeu?<br />
Bate-me o coração. Meu Deus, fui eu!<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1931–1935 e não datada)</span>, p. 126)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-35664142167181656192013-03-27T00:49:00.000+00:002013-03-27T00:49:00.692+00:00Dia Mundial do TeatroTrês publicações, afora a nossa, nasceram há pouco para a pretensão de serem lidas.<br />
Uma é a «revista de arte» <span style="font-style:italic;">Teatrália</span>, [...]<br />
[...]<br />
A primeira é especialmente adorável.<br />
É proveniente da iniciativa dos alunos da Escola da Arte de Representar. E é ante-simpática ao mero ainda-não leitor dela porque nos enreda logo com uma vantagem — que os alunos da dita escola enquanto escrevem não representam.<br />
O conhecimento da revista é, porém, um pouco ensombrador desta vantagem antevista. É talvez, e apesar de tudo, melhor que os alunos representem.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “3”, <span style="font-style:italic;">Crítica</span>, p. 84)</div>
Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-50350690185232574712013-03-27T00:24:00.000+00:002013-03-27T00:24:00.723+00:00«Sou do tamanho do que vejo» (Peripécia Teatro)<iframe width="560" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/aeXHqyKTFOA" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-57359191220118258752013-03-27T00:21:00.000+00:002013-03-27T00:21:00.874+00:00Dia Mundial do Circo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3hZ0bpua0J0UJRHAlYNeUoWxwIyz4kIt-Ptc-U9MRKLc7eCfaOp4JS1nDtSUAAvt_7HylaZyZanwCpmXKImmhTVLrCG6T0gLtphLhfVhWmmjYZqRsZ4pFPOd758aylkVZZcaWiIQsb8vG/s1600/Cruzeiro+Seixas+%2528Estudo+para+%25C3%2581lvaro+de+Campos%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="283" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3hZ0bpua0J0UJRHAlYNeUoWxwIyz4kIt-Ptc-U9MRKLc7eCfaOp4JS1nDtSUAAvt_7HylaZyZanwCpmXKImmhTVLrCG6T0gLtphLhfVhWmmjYZqRsZ4pFPOd758aylkVZZcaWiIQsb8vG/s400/Cruzeiro+Seixas+%2528Estudo+para+%25C3%2581lvaro+de+Campos%2529.jpg" /></a></div><div style="text-align: center; font-size:85%;">«Estudo para Álvaro de Campos»<br />Desenho de <span style="font-weight:bold;">Cruzeiro Seixas</span></div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-8923041676172373912013-03-26T01:42:00.000+00:002013-03-26T01:50:56.463+00:00121 anos da morte de Walt Whitman (1892)<i lang="en">A magnificent type of poet who will survive by representativeness is Walt Whitman. Whitman has all modern times in him, from cruelty [?] to engineering, from humanitarian tendencies to the hardness of intellectuality — he has all this in him. He is far more permanent than (Schiller or) Musset, for instance. He is the medium of Modern Times. His power of expression is as consummate as Shakespeare’s. [...]</i><br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Impermanence”, <span style="font-style:italic;">Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias</span>, VIII, 45, p. 273;<br />em inglês no original)</div><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">[ Um tipo magnífico de poeta que sobreviverá pela sua representatividade é Walt Whitman. Whitman encerra em si todos os tempos modernos, da crueldade [?] à engenharia, da ternura humanitária à dureza da intelectualidade — tudo isto ele contém em si próprio. É muito mais permanente do que (Schiller ou) Musset, por exemplo. É o veículo dos Tempos Modernos. O seu poder de expressão é tão consumado como o de Shakespeare. [...] ]</span><br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(idem, p. 274; trad. Jorge Rosa)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-85374723448006899412013-03-25T00:36:00.000+00:002013-03-25T00:36:38.678+00:001 ano da morte de Antonio Tabucchi (2012)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AdMVhgxDHjDTDKpTxy-XCnE6xpM5_rO2q7SNLbX-EyjSpnvXOoGEnZ25aOs7pqArRmkGWKZNv8jPEiIfDp9HuQquJZn0smw2bIFe1ku1YYtOebKg-kZ7nCrhMt43le4qo3gxH8caphWn/s1600/livro+Antonio+Tabucchi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AdMVhgxDHjDTDKpTxy-XCnE6xpM5_rO2q7SNLbX-EyjSpnvXOoGEnZ25aOs7pqArRmkGWKZNv8jPEiIfDp9HuQquJZn0smw2bIFe1ku1YYtOebKg-kZ7nCrhMt43le4qo3gxH8caphWn/s400/livro+Antonio+Tabucchi.jpg" alt="capa de 'Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa' de Antonio Tabucchi" /></a></div>
Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-31505634455147140412013-03-23T01:01:00.000+00:002013-03-23T01:01:54.554+00:00Dia Mundial da MeteorologiaAmeaçou chuva. E a negra<br />
Nuvem passou sem mais...<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1902–1917)</span>, p. 253)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-44378420891041196392013-03-21T01:03:00.000+00:002013-03-21T01:03:00.028+00:00Dia Mundial da FlorestaUma árvore é Deus todo.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1902–1917)</span>, p. 324)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-78089751661348939492013-03-21T01:01:00.000+00:002013-03-21T01:01:00.766+00:00Dia Mundial da PoesiaA inspiração poética é um delírio equilibrado (mas sempre <em>um delírio</em>).<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Alexander Search, <span style="font-style:italic;">Aforismos e afins</span>, p. 60)</div><br /><br /><br /><br />É preciso acabar com o mito do poeta inspirado.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Álvaro de Campos, <span style="font-style:italic;">Aforismos e afins</span>, p. 61)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-80845604515843008682013-03-19T01:04:00.000+00:002013-03-19T20:07:09.171+00:00Dia do Pai<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs9r9O0u08BquGk6A7yAx-eghAR73RDk79Qr6pA3MlRdIlig_j4wqyHp6oCv0466IrH_FgzzHMT7rZlMTvrvE67_zYnkaH9I79bwJ1U1nNCZECkPLspFar1yDkjq3RzAYVkfB7NPOi_hmp/s1600/Miguel+Moreira.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUcS4ecPH91fYkBPkel0Drs2xSNeK833I9eLgpUJyQg0ctwg9udi8DNyv_TtEIDgpILuqQiXSk1zQJiY5cXww7mLFvxe8W8ccqpvgkGeTm1-NRnpHmlyLjN6_XYYxkoBA960llkJF3Kuw/s1600/Miguel+Moreira_496.jpg" alt="" /></a></div><div style="text-align: center; font-size: 85%;">Meia página da banda desenhada<br /><a href="http://www.lmigueldsm.blogspot.pt/"><i>As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal</i></a>,<br />de <a href="http://www.lmigueldsm.blogspot.pt/"><span style="font-weight: bold;">Miguel Moreira</span></a></div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-52202594429536460872013-03-18T01:12:00.000+00:002013-03-18T01:12:00.498+00:00169 anos do nascimento de Nikolai Rimsky-Korsakov (1844)<h4>SCHEHERAZAD</h4>
<div style="text-align: right; font-style: italic; font-size:85%; margin-right: 15em;">(Rimsky Korsakov)</div>
<br />
Conta-me contos até não haver<br />
Mais em mim que morrer...<br />
Até que num espaço entre vida e morte<br />
Se passe a minha sorte...<br />
<br />
Conta-me contos, lendas, suaves, tanto<br />
Que seja(m) uma só coisa<br />
Elas e o seu indefinido encanto...<br />
<br />
[...]<br />
<br />
Ah, conta, conta, e a vida esqueça em tudo!<br />
Conta, meus gestos tragam o veludo<br />
De serem só inadequadamente...<br />
Conta... E que ouvindo-te, sem querer,<br />
Como uma música que vem, meu ser<br />
Passe de pertencer ao mundo vão<br />
E fique a ser eternamente<br />
Uma figura num conto teu<br />
Qualquer coisa em teu mundo<br />
Vive só na tua imaginação.<br />
<br />
Ah, mais vale sonhar estar-te ouvindo<br />
Que ouvir-te! Conta... Vindo<br />
De ti, os contos passam devagar<br />
E a sua pompa é todo o céu e o ar...<br />
<br />
Conta... O silêncio abre alas de cetim<br />
Do teu conto até mim...<br />
Um séquito de sombras é de prata<br />
No que em ti se desata<br />
De pertencer-me e vem até aos dedos<br />
Com que desfolhas esses vãos segredos...<br />
<br />
O sultão escutava-te eu a ouvir...<br />
Ouvi a tua voz só por possuir<br />
O sentido oposto do teu conto...<br />
Tudo erra música que te narrava...<br />
[...]<br />
<br />
Scheherazad — quantas coisas<br />
Ficaram por contar que tu contaste...<br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1902–1917)</span>, pp. 345–346)</div><br /><br /><br /><span style="font-size:78%;">* 6 de março, segundo o calendário juliano, então em uso na Rússia.</span>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-69300571852019801042013-03-16T01:24:00.000+00:002013-03-16T01:24:22.797+00:0054 anos da morte de António Botto (1959)António Botto é o único português, dos que conhecidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância. Com um perfeito instinto ele segue o ideal a que se tem chamado estético, e que é uma das formas, se bem que a ínfima, do ideal helénico. Segue-o, porém, a par de com o instinto, com uma perfeita inteligência, porque os ideais gregos, como são intelectuais, não podem ser seguidos inconscientemente.<br />
[...]<br />
Se tivermos presentes estas considerações na análise do livro de António Botto, não nos será difícil determinar que esse livro representa uma das revelações mais raras e perfeitas do ideal estético, que se podem imaginar.<br />
[...]<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “António Botto e o Ideal Estético em Portugal”, <span style="font-style:italic;">Crítica</span>, pp. 173 e 180;<br />publicado originalmente na revista <span style="font-style:italic;">Contemporânea</span> n.º 3, de Julho de 1922)</div><br /><br /><br />
Meu querido José Pacheco:<br />
<br />
Venho escrever-lhe para o felicitar pela sua <span style="font-style:italic;">Contemporânea</span>, para lhe dizer que não tenho escrito nada, e para pôr alguns embargos ao artigo do Fernando Pessoa.<br />
[...]<br />
Ideal estético, meu querido José Pacheco, ideal estético! Onde foi essa frase buscar sentido? E o que encontrou lá quando o descobriu? Não há ideias nem estéticas senão nas ilusões que nós fazemos deles. O ideal é um mito da acção, um estimulante como o ópio ou a cocaína: serve para sermos outros, mas paga-se caro — com o nem sermos quem poderíamos ter sido.<br />
[...]<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Álvaro de Campos, “De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos Escreve à <span style="font-style:italic;">Contemporânea</span>”, <span style="font-style:italic;">Crítica</span>,<br />pp. 186–187; publicado originalmente na revista <span style="font-style:italic;">Contemporânea</span> n.º 4, de Outubro de 1922)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-18116117896602236992013-03-15T13:37:00.000+00:002013-03-16T12:42:53.755+00:00... que o ministro Vítor Gaspar hoje* não está para tiVolta amanhã, realidade!<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Álvaro de Campos, <span style="font-style:italic;">Poesia</span>, 140, p. 428)</div><br /><br />
<div style="font-size:78%;">* <a href="http://iniciacaotedio.blogspot.pt/2013/03/o-alienado.html" title="'post' «O Alienado» no blogue «Iniciação ao Tédio»">E amanhã, claro, o «amanhã» é um novo «hoje»...</a></div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-80448913140489943602013-03-15T01:57:00.000+00:002013-03-16T01:34:45.921+00:0052 anos dos Massacres de Nambuangongo (Angola), início da Guerra Colonial (1961)(Malhas que o Império tece!)<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “O menino da sua mãe”, <span style="font-style:italic;">Poesia (1918–1930)</span>, pp. 252–253)</div>
Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-14269120658946319602013-03-14T18:56:00.000+00:002013-10-03T11:43:22.633+01:00Eleição do jesuíta argentino Jorge Bergoglio como Papa (Francisco I)[...] Nem consta que com ela alguém lucrasse, excepto [...] a Companhia de Jesus, que, por processos que não vêm ao caso, conseguiu, através dela, consolidar ainda mais a sua posição junto do Vaticano. Quem quiser conclusões que as tire: estão aqui o poço e o balde.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Da República (1910–1935)</span>, 150, p. 421)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-9855648677866312632013-03-14T02:03:00.000+00:002013-03-14T02:03:00.090+00:00134 anos do nascimento de Albert Einstein (1879)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifSow8pOiO6tUCZDP9TrbnW5QvTlvTLsHkYWz_MNHfwWqBz-bCatdTYI8krA5eVlQC3j4EI4WGlAGCSVLXxdrXK3bpWws9BDtn88d_LkKek6UYAUSGcdKi2YeEOexov0ZnEZ3D3Eve8BdN/s1600/Norberto+Nunes+%2528Deus+quer%252C+o+homem+cria%252C+a+obra+nasce...%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifSow8pOiO6tUCZDP9TrbnW5QvTlvTLsHkYWz_MNHfwWqBz-bCatdTYI8krA5eVlQC3j4EI4WGlAGCSVLXxdrXK3bpWws9BDtn88d_LkKek6UYAUSGcdKi2YeEOexov0ZnEZ3D3Eve8BdN/s400/Norberto+Nunes+%2528Deus+quer%252C+o+homem+cria%252C+a+obra+nasce...%2529.jpg" alt="homem a tocar violino" /></a></div><div style="text-align: center; font-size: 85%;">«Deus quer, o homem cria, a obra nasce...»*<br />Pintura de <a href="http://norbertonunes.blogspot.com/"><span style="font-weight: bold;">Norberto Nunes</span></a></div><br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">* (Fernando Pessoa, “O Infante”, <span style="font-style:italic;">Mensagem</span>, Segunda Parte, I, p. 127)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-21939955714892985342013-03-13T00:32:00.000+00:002013-03-13T00:32:23.966+00:0099 anos do «dia triunfal» da vida de Fernando Pessoa (1914) — data alternativaEu sou uma antologia.
<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1931–1935 e não datada)</span>, p. 117)</div>
<br /><br /><br />
Abismo de ser muitos! [...]
<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(idem, p. 472)</div><br /><br /><span style="font-size:84%;">Nota: Ver <a href="http://pessoasempre.blogspot.pt/2012/03/13-de-marco-de-1914-data-alternativa-do.html"><i lang="en">post</i> do dia 13 de Março de 2012</a> para o texto em que Pessoa apresenta esta data como a do surgimento do heterónimo Alberto Caeiro; ver <a href="http://pessoasempre.blogspot.com/2010/03/8-de-marco-de-1914-o-dia-triunfal-da.html"><i lang="en">post</i> do dia 8 de Março de 2010</a> para o texto em que Fernando Pessoa apresenta uma data alternativa.</span>
<br /><br /><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://s1299.beta.photobucket.com/user/Gazilion/library/" target="_blank"><img src="http://i1299.photobucket.com/albums/ag65/Gazilion/sardinha-animado.gif" border="0" alt=""/></a></div><div style="text-align: center; font-size:85%;">Animação a partir de desenhos de <span style="font-weight:bold;">Cristiano Sardinha</span></div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-16781257399023891772013-03-11T01:45:00.000+00:002013-03-11T01:45:00.331+00:00Localismo vs. Universalismo[...] Amar a nossa terra não é gostar do nosso quintal. [...]<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Entrevista sobre a Arte e a Literatura Portuguesas”, <span style="font-style:italic;">Crítica</span>, p. 197)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-25898753164520685152013-03-08T02:09:00.000+00:002013-03-09T00:18:02.597+00:00Dia Internacional da Mulher<i lang="en">[...] The women of Dickens are cardboard and sawdust to pack his men to us on the voyage from the space of dream. The joy and zest of life does not include woman [...].<br /><br />Dickens’ women are dolls, but all women are dolls. As some thinkers upheld it at Nicea (?), women have no souls. Their existence is bi-dimensional to the tri-dimensional psychism of men. Women are merely ornaments to man’s life — of his life as an animal, as enabling him to satisfy an instinct, of his life as a social being, as enabling him to continue the society he lives in and, working for, creates anew, of his life as an intellectual being as a decorative part of the outer world, with landscapes, china, pictures, old furniture... [...]</i><br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Charles Dickens”, <span style="font-style:italic;"> Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias</span>, IX, 8, pp. 308–309;<br />em inglês no original)</div><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">[ [...] As mulheres de Dickens são cartão e serradura para acondicionar os seus homens na viagem desde os espaços oníricos. Na alegria e entusiasmo da vida não há lugar para a mulher [...].<br /><br />As mulheres de Dickens são bonecas, mas todas as mulheres, afinal, o são. Como alguns pensadores afirmaram em Niceia (?), as mulheres não têm alma. A sua existência é bidimensional comparada com o psiquismo tridimensional do homem. As mulheres são meros ornamentos da vida do homem — da sua vida como animal, na medida em que lhe permite satisfazer um instinto, da sua vida como ser social, na medida em que lhe permite continuar a sociedade em que vive e que recria ao contribuir para ela, da sua vida como ser intelectual, como parte decorativa do mundo externo, com paisagens, louças, quadros, mobiliário antigo... [...] ]</span><br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(idem, p. 310; trad. Jorge Rosa)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-35254958187842380732013-03-08T00:21:00.000+00:002013-03-08T00:21:00.586+00:0099 anos do «dia triunfal» da vida de Fernando Pessoa (1914)O que Fernando Pessoa escreve pertence a duas categorias de obras, a que poderemos chamar ortónimas e heterónimas. Não se poderá dizer que são anónimas e pseudónimas, porque deveras o não são. A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora de sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.<br />
<br />
As obras heterónimas de Fernando Pessoa são feitas por, até agora, três nomes de gente — Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos. Estas individualidades devem ser consideradas como distintas da do autor delas. Forma cada uma uma espécie de drama; e todas elas juntas formam outro drama. Alberto Caeiro, que se tem por nascido em 1889 e morto em 1915, escreveu poemas com uma, e determinada, orientação. Teve por discípulos — oriundos, como tais, de diversos aspectos dessa orientação — aos outros dois: Ricardo Reis, que se considera nascido em 1887, e que isolou naquela obra, estilizando, o lado intelectual e pagão; Álvaro de Campos, nascido em 1890, que nela isolou o lado por assim dizer emotivo, a que chamou «sensacionista», e que — ligando-o a influências diversas, em que predomina, ainda que abaixo da de Caeiro, a de Walt Whitman — produziu diversas complicações, em geral de índole escandalosa e irritante, sobretudo para Fernando Pessoa, que em todo o caso não tem remédio senão fazê-las e publicá-las, por mais que delas discorde. As obras destes três poetas formam, como se disse, um conjunto dramático; e está devidamente estudada a entreacção intelectual das personalidades, assim como as suas próprias relações pessoais. Tudo isto constará de biografias a fazer, acompanhadas, quando se publiquem, de horóscopos e, talvez, de fotografias. É um drama em gente, em vez de em actos.<br />
<br />
(Se estas três individualidades são mais ou menos reais que o próprio Fernando Pessoa — é problema metafísico, que este, ausente do segredo dos Deuses, e ignorando portanto o que seja realidade, nunca poderá resolver.)<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, “Tábua Bibliográfica — Fernando Pessoa”, <span style="font-style:italic;">Crítica</span>, pp. 404–405)</div>
<br /><br /><br />
Em torno do meu mestre Caeiro havia, como se terá depreendido destas páginas, principalmente três pessoas — o Ricardo Reis, o António Mora e eu. [...]<br />
<br />
O Ricardo Reis era um pagão latente, desentendido da vida moderna e desentendido daquela vida antiga, onde deveria ter nascido — desentendido da vida moderna porque a sua inteligência era de tipo e qualidade diferente; desentendido da vida antiga porque a não podia sentir, pois se não sente o que não está aqui. [...]<br />
<br />
O António Mora era uma sombra com veleidades especulativas. Passava a vida a mastigar Kant e tentar ver com o pensamento se a vida tinha sentido. [...]<br />
<br />
Por mim, antes de conhecer Caeiro, eu era uma máquina nervosa de não fazer coisa nenhuma. Conheci o meu mestre Caeiro mais tarde que o Reis e o Mora, que o conheceram, respectivamente, em 1912 e 1913. Conheci Caeiro em 1914. Já tinha escrito versos — três sonetos e dois poemas («Carnaval» e «Opiário»). Esses sonetos e estes poemas mostram o que eu sentia quando estava sem amparo. Logo que conheci Caeiro, verifiquei-me. Cheguei a Londres e escrevi imediatamente a «Ode Triunfal». E de aí em diante, por mal ou por bem, tenho sido eu.<br />
<br />
Mais curioso é o caso do Fernando Pessoa, que não existe, propriamente falando. Este conheceu Caeiro um pouco antes de mim — em 8 de Março de 1914, segundo me disse. Nesse mês, Caeiro viera a Lisboa passar uma semana e foi então que o Fernando o conheceu. Ouviu ler <i>O Guardador de Rebanhos</i>. Foi para casa com febre (a dele), e escreveu, num só lance ou traço, a «Chuva Oblíqua» — os seis poemas.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Álvaro de Campos, “Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro”, 8,<br /><span style="font-style:italic;">Poemas Completos de Alberto Caeiro</span>, pp. 161–162)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-60893248626501082912013-03-06T01:37:00.000+00:002013-03-06T01:37:00.981+00:00Iconografia pessoana<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitXQTCEa1fi3iT9m6r8cnFXOHnR7C73oe2-9uk3uySZYmf-1mNJrQ9defVnDqPgOrbAdxDj2Nvr87PwU9_y-NuJfibvY3Nl-_XJ8aTZ_qqYG5nOZnDqwfKlcmoXuw3n3KCLEkEyQj3zvko/s1600/Helder+Oliveira+Actual-Expresso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left:1em; margin-right:1em"><img border="0" height="400" width="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitXQTCEa1fi3iT9m6r8cnFXOHnR7C73oe2-9uk3uySZYmf-1mNJrQ9defVnDqPgOrbAdxDj2Nvr87PwU9_y-NuJfibvY3Nl-_XJ8aTZ_qqYG5nOZnDqwfKlcmoXuw3n3KCLEkEyQj3zvko/s400/Helder+Oliveira+Actual-Expresso.jpg" /></a></div><div style="text-align: center; font-size: 85%;">Ilustração de <a href="http://www.konstriktor.net/"><span style="font-weight: bold;">Helder Oliveira</span></a><br />para a revista <i>Actual</i> (<a href="http://www.expresso.pt/"><i>Expresso</i></a>)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-9035210193687178087.post-35349569464841896562013-03-04T00:55:00.000+00:002013-03-04T00:55:00.735+00:00619 anos do nascimento do Infante D. Henrique (1394)<h4>AO INFANTE</h4>
<br />
Senhor, a obra fica e o homem passa.<br />
Mas a obra é o homem. Só estas canções<br />
No fundo incerto e oceânico da raça<br />
E anónimos, longes corações.<br />
Em torno de mim, se de mim mesmo corro<br />
O som ruído da onda e as praias toco<br />
Do Largo no abismo do meu ser,<br />
Pairam as naus perdidas que encontraram<br />
O por-achar e em mares se abismaram<br />
Para além do Regresso e do Esquecer.<br />
<br />
Parte quem fica quando a Alma manda.<br />
Em mil naus a Vossa alma reviveu<br />
E no universo, de uma a outra banda<br />
Do que se achou e que se conheceu,<br />
Vossa Presença Eterna violou<br />
As portas de ouro com que Deus fechou<br />
O oriente de luz e o ocaso morto...<br />
Vosso espírito ainda nos consuma<br />
E obre as novas naus em nós a suma<br />
Vitória de não quererem nunca o porto.<br /><br /><div style="text-align: right; font-size:78%;">(Fernando Pessoa, <span style="font-style:italic;">Poesia (1918–1930)</span>, p. 172)</div>Pessoa para todas as ocasiõeshttp://www.blogger.com/profile/15947475389360300619noreply@blogger.com