E vendo isto, o país, que é estúpido, virou-se contra os homens da República. É que o país tem a mentalidade dos idiotas e queria milagres. Supunham os portugueses que uma revolução traz benefícios; e supunham bem; mas supunham que os traz logo no dia seguinte [...]. Aquelas mentalidades ainda estavam no milagre. Incapazes de pensar cientificamente, não meditaram que o que se segue a uma revolução é a anarquia, anarquia tão profunda quanto o foi a tirania que a precedeu, e contra a qual reagiu essa revolução; e que só depois de ter passado o período anárquico da revolução é que lentamente chega o período das reformas, para o qual, afinal, a revolução foi instintivamente feita. [...]
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 98, p. 245)