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31 março 2013

Quatro anos. Valete, Fratres!

«Não cites Fernando Pessoa em vão.»
Stencil de autor desconhecido (Bairro Alto, Lisboa)
Fotografia de Pedro Jubilot


O primeiro post deste blogue, reza a lenda, foi publicado há precisamente 4 anos. O objectivo a que nos propúnhamos era mostrar que «o “Universo Pessoa” é tão vasto, que seria possível citá-lo a propósito de quase tudo» (e, pensando bem, também a propósito de nada). Após 905 posts, em contexto ou fora dele, cremos bem que o conseguimos. Pelo caminho, esperamos ter estimulado alguém a ler Pessoa(s): nunca é em vão. (O mais provável, porém, é termos estado apenas a falar para uns poucos já “convertidos”.)

Quatro anos é muito tempo. Quatro é também um número apropriadamente pessoano: Caeiro, Reis, Campos, Pessoa.

Este blogue acaba aqui. Valete, Fratres!


Maria Filomena + Fernando Gouveia

(Fernando Pessoa, “Nevoeiro”, Mensagem, Terceira Parte, III, p. 191)

27 março 2013

«Sou do tamanho do que vejo» (Peripécia Teatro)

Dia Mundial do Circo

«Estudo para Álvaro de Campos»
Desenho de Cruzeiro Seixas

21 março 2013

Dia Mundial da Poesia

A inspiração poética é um delírio equilibrado (mas sempre um delírio).

(Alexander Search, Aforismos e afins, p. 60)




É preciso acabar com o mito do poeta inspirado.

(Álvaro de Campos, Aforismos e afins, p. 61)

16 março 2013

54 anos da morte de António Botto (1959)

António Botto é o único português, dos que conhecidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância. Com um perfeito instinto ele segue o ideal a que se tem chamado estético, e que é uma das formas, se bem que a ínfima, do ideal helénico. Segue-o, porém, a par de com o instinto, com uma perfeita inteligência, porque os ideais gregos, como são intelectuais, não podem ser seguidos inconscientemente.
[...]
Se tivermos presentes estas considerações na análise do livro de António Botto, não nos será difícil determinar que esse livro representa uma das revelações mais raras e perfeitas do ideal estético, que se podem imaginar.
[...]

(Fernando Pessoa, “António Botto e o Ideal Estético em Portugal”, Crítica, pp. 173 e 180;
publicado originalmente na revista Contemporânea n.º 3, de Julho de 1922)



Meu querido José Pacheco:

Venho escrever-lhe para o felicitar pela sua Contemporânea, para lhe dizer que não tenho escrito nada, e para pôr alguns embargos ao artigo do Fernando Pessoa.
[...]
Ideal estético, meu querido José Pacheco, ideal estético! Onde foi essa frase buscar sentido? E o que encontrou lá quando o descobriu? Não há ideias nem estéticas senão nas ilusões que nós fazemos deles. O ideal é um mito da acção, um estimulante como o ópio ou a cocaína: serve para sermos outros, mas paga-se caro — com o nem sermos quem poderíamos ter sido.
[...]

(Álvaro de Campos, “De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos Escreve à Contemporânea”, Crítica,
pp. 186–187; publicado originalmente na revista Contemporânea n.º 4, de Outubro de 1922)

15 março 2013

... que o ministro Vítor Gaspar hoje* não está para ti

Volta amanhã, realidade!

(Álvaro de Campos, Poesia, 140, p. 428)


13 março 2013

99 anos do «dia triunfal» da vida de Fernando Pessoa (1914) — data alternativa

Eu sou uma antologia.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 117)



Abismo de ser muitos! [...]

(idem, p. 472)


Nota: Ver post do dia 13 de Março de 2012 para o texto em que Pessoa apresenta esta data como a do surgimento do heterónimo Alberto Caeiro; ver post do dia 8 de Março de 2010 para o texto em que Fernando Pessoa apresenta uma data alternativa.


Animação a partir de desenhos de Cristiano Sardinha

08 março 2013

99 anos do «dia triunfal» da vida de Fernando Pessoa (1914)

O que Fernando Pessoa escreve pertence a duas categorias de obras, a que poderemos chamar ortónimas e heterónimas. Não se poderá dizer que são anónimas e pseudónimas, porque deveras o não são. A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora de sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.

As obras heterónimas de Fernando Pessoa são feitas por, até agora, três nomes de gente — Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos. Estas individualidades devem ser consideradas como distintas da do autor delas. Forma cada uma uma espécie de drama; e todas elas juntas formam outro drama. Alberto Caeiro, que se tem por nascido em 1889 e morto em 1915, escreveu poemas com uma, e determinada, orientação. Teve por discípulos — oriundos, como tais, de diversos aspectos dessa orientação — aos outros dois: Ricardo Reis, que se considera nascido em 1887, e que isolou naquela obra, estilizando, o lado intelectual e pagão; Álvaro de Campos, nascido em 1890, que nela isolou o lado por assim dizer emotivo, a que chamou «sensacionista», e que — ligando-o a influências diversas, em que predomina, ainda que abaixo da de Caeiro, a de Walt Whitman — produziu diversas complicações, em geral de índole escandalosa e irritante, sobretudo para Fernando Pessoa, que em todo o caso não tem remédio senão fazê-las e publicá-las, por mais que delas discorde. As obras destes três poetas formam, como se disse, um conjunto dramático; e está devidamente estudada a entreacção intelectual das personalidades, assim como as suas próprias relações pessoais. Tudo isto constará de biografias a fazer, acompanhadas, quando se publiquem, de horóscopos e, talvez, de fotografias. É um drama em gente, em vez de em actos.

(Se estas três individualidades são mais ou menos reais que o próprio Fernando Pessoa — é problema metafísico, que este, ausente do segredo dos Deuses, e ignorando portanto o que seja realidade, nunca poderá resolver.)

(Fernando Pessoa, “Tábua Bibliográfica — Fernando Pessoa”, Crítica, pp. 404–405)



Em torno do meu mestre Caeiro havia, como se terá depreendido destas páginas, principalmente três pessoas — o Ricardo Reis, o António Mora e eu. [...]

O Ricardo Reis era um pagão latente, desentendido da vida moderna e desentendido daquela vida antiga, onde deveria ter nascido — desentendido da vida moderna porque a sua inteligência era de tipo e qualidade diferente; desentendido da vida antiga porque a não podia sentir, pois se não sente o que não está aqui. [...]

O António Mora era uma sombra com veleidades especulativas. Passava a vida a mastigar Kant e tentar ver com o pensamento se a vida tinha sentido. [...]

Por mim, antes de conhecer Caeiro, eu era uma máquina nervosa de não fazer coisa nenhuma. Conheci o meu mestre Caeiro mais tarde que o Reis e o Mora, que o conheceram, respectivamente, em 1912 e 1913. Conheci Caeiro em 1914. Já tinha escrito versos — três sonetos e dois poemas («Carnaval» e «Opiário»). Esses sonetos e estes poemas mostram o que eu sentia quando estava sem amparo. Logo que conheci Caeiro, verifiquei-me. Cheguei a Londres e escrevi imediatamente a «Ode Triunfal». E de aí em diante, por mal ou por bem, tenho sido eu.

Mais curioso é o caso do Fernando Pessoa, que não existe, propriamente falando. Este conheceu Caeiro um pouco antes de mim — em 8 de Março de 1914, segundo me disse. Nesse mês, Caeiro viera a Lisboa passar uma semana e foi então que o Fernando o conheceu. Ouviu ler O Guardador de Rebanhos. Foi para casa com febre (a dele), e escreveu, num só lance ou traço, a «Chuva Oblíqua» — os seis poemas.

(Álvaro de Campos, “Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro”, 8,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, pp. 161–162)

28 fevereiro 2013

Craques de futebol
(nos 109 anos da fundação do Sport Lisboa e Benfica — 1904)

Arre, estou farto de semi-deuses!

(Álvaro de Campos, “Poema em linha recta”, Poesia, 41, p. 263)

27 fevereiro 2013

Deus e a incompletude

Deus é o existirmos e isto não ser tudo.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 22, p. 60)

19 fevereiro 2013

Ranço

O ancien régime intelectual ainda hoje pesa sobre nós.

(Ricardo Reis, Prosa, 74, p. 243)

17 fevereiro 2013

16 fevereiro 2013

Ecletismo

[...] Se eu gostasse só da minha arte, nem da minha arte gostava, porque vario.

(Álvaro de Campos, “De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos Escreve à Contemporânea”, Crítica, p. 187)

14 fevereiro 2013

Dia dos Namorados

Não sei se é amor que tens, ou amor que finges,
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta.
Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro.
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso.
Porém, se o dão, falso que seja, a dadiva
É verdadeira. Aceito,
Cerro olhos: é bastante.


(Ricardo Reis, Poesia, II, 112, pp. 118–119)



Fotografia de Ofélia Queirós (1900–1991)

13 fevereiro 2013

94 anos do fim da “Monarquia do Norte”, com a entrada das forças republicanas no Porto (1919)

[...] [Ricardo Reis] vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. [...]

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, p. 345)

30 janeiro 2013

Raciocínio

Continua o Fernando Pessoa com aquela mania, que tantas vezes lhe censurei, de julgar que as coisas se provam. Nada se prova senão para ter a hipocrisia de não afirmar. O raciocínio é uma timidez — duas timidezes talvez, sendo a segunda a de ter vergonha de estar calado.

(Álvaro de Campos, “De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos Escreve à Contemporânea”,
Crítica, pp. 186–187)

28 janeiro 2013

99 anos da criação de Ricardo Reis (1914)*

Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo.

(Ricardo Reis, Poesia, II, 149, pp. 137–138)


«Ricardo Reis»
Pintura de Juan Soler


* Fernando Pessoa hesita entre 28 e 29

05 janeiro 2013

Prazeres de Inverno...

Haja inverno na terra, não na mente,
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
Nossa lareira breve.

(Ricardo Reis, Poesia, II, 110, p. 117)

24 dezembro 2012

Iconografia pessoana

«Álvaro de Campos»
(estatueta)

22 dezembro 2012

136 anos do nascimento de Filippo Tommaso Marinetti (1876)

MARINETTI, ACADÉMICO


Lá chegam todos, lá chegam todos...
Qualquer dia, salvo venda, chego eu também...
Se nascem, afinal, todos para isso...

Não tenho remédio senão morrer antes,
Não tenho remédio senão escalar o Grande Muro...
Se fico cá, prendem-me para ser social...

Lá chegam todos, porque nasceram para Isso,
E só se chega ao Isso para que se nasceu...

Lá chegam todos...
Marinetti, académico...

As Musas vingaram-se com focos eléctricos, meu velho,
Puseram-te por fim na ribalta da cave velha,
E a tua dinâmica, sempre um bocado italiana, f-f-f-f-f-f-f-f......

(Álvaro de Campos, Poesia, 102, p. 368)