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06 setembro 2012

51 anos da concessão da plena cidadania portuguesa a todos os habitantes das colónias, com a abolição do Estatuto dos Indígenas Portugueses (1961)

Há três imperialismos: de domínio, de expansão e de cultura.
[...]

IMPERIALISMO DE CULTURA
[...]
(3) O que procura dominar ou colonizar para civilizar ou modificar as raças indígenas, sejam inferiores, decadentes ou apenas menos civilizadas.
[...]

(Fernando Pessoa, “Império”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 74, pp. 221–222)

05 julho 2012

05 de Julho de 1932: Salazar, o “Ditador da Finanças”, assume a chefia do Governo

O prestígio de Salazar não se deriva da sua obra financeira, tanto porque, sendo essa obra uma obra de especialidade, o público não tem competência, nem pretende ter competência, para a compreender, como porque o acolhimento calorosamente favorável, que essa obra teve, denotava já um prestígio anterior. O prestígio de Salazar nasceu vagamente da sugestão do seu prestígio universitário e particular, mas firmou-se junto do público, logo desde as suas primeiras frases como ministro, e as suas primeiras acções como administrador, por um fenómeno psíquico simples de compreender.

Todo prestígio consiste na posse, pelo prestigiado, de qualidades que o prestigiador não tem e se sente incapaz de ter. O povo português é essencialmente descontínuo na vontade e retórico na expressão: não há coisa portuguesa que seja levada avante com firmeza e persistência; não há texto genuinamente português que não diga em vinte palavras o que se pode dizer em cinco, nem deixe de incoerir e romantizar a frase. Logo desde o princípio, Salazar marcou, e depois acentuou, uma firmeza de propósito e uma continuidade de execução de um plano; logo desde o princípio falou claro, sóbrio, rígido, sem retórica nem vago. O seu prestígio reside nessa formidável impressão de diferença do vulgo português.

No meio de um povo de incoerentes, de verbosos, de maledicentes por impotência e espirituosos por falta de assunto intelectual, o lente de Coimbra (Santo Deus!, de Coimbra!) marcou como se tivesse caído de uma Inglaterra astral. Depois dos Afonsos Costas, dos Cunhas Leais, de toda a eloquência parlamentar sem ontem nem amanhã na inteligência nem na vontade, a sua simplicidade dura e fria pareceu qualquer coisa de brônzeo e de fundamental. Se o é deveras, e se a obra completa o que a intenção formou, são já assuntos de especialidade, e sobre os quais nem o público, que deles nada sabe, nem eu, que sei tanto como o público, poderemos falar com razão ou proveito.

De este prestígio resulta o contraste com Afonso Costa. Quando este apresentou, em 1912 (?), o seu superavit, foi recebido à gargalhada pelo público, e os seus próprios partidários tiveram de fazer esforços sobre si mesmos para ter fé na obra, como a tinham no homem. Quando Salazar apresentou o superavit, todo o grande público imediatamente o aceitou. Não foi pois o superavit, comum aos dois que provocou o prestígio: o prestígio de um, o não prestígio de outro, eram anteriores ao espectáculo financeiro.

(Fernando Pessoa, “Interregno”, Da República (1910–1935), 129, pp. 384–385)

27 abril 2012

84 anos da nomeação de Salazar como “Ditador das Finanças” (1928)

Salazar é mealheiro.
Raparigas vinde vê-lo.
Por fora barro vidrado,
Por dentro coiro e cabelo.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 384)

23 agosto 2011

Dia Europeu de Recordação da Vítimas dos Regimes Totalitários e Autoritários

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 380)

11 abril 2011

78 anos da entrada em vigor da Constituição de 1933 (Estado Novo)

POEMA DE AMOR EM ESTADO NOVO


Tens o olhar misterioso
Com um jeito nevoento,
Indeciso, duvidoso,
Minha Marta Francisca,
Meu amor, meu orçamento!

A tua face de rosa
Tem o colorido esquivo
De uma nota oficiosa.
Quem dera ter-te em meus braços,
Ó meu saldo positivo!

E o teu cabelo — não choro
Seu regresso ao natural —
Abandona o padrão-ouro,
Amor, pomba, estrada, porta,
Sindicato nacional!

Não sei por que me desprezas.
Fita-me mais um instante,
Lindo corte nas despesas,
Adorada abolição
Da dívida flutuante!

Com que madrigais mostrar-te
Este amor que é chama viva?
Ouve, escuta: vou chamar-te
Assembleia Nacional
Câmara Corporativa.

Como te amo, como, como,
Meu Acto Colonial!
De amor já quase não como,
Meu Estatuto de Trabalho,
Meu Banco de Portugal!

Meu crédito no estrangeiro!
Meu encaixe-ouro adorado!
Serei sempre o teu romeiro...
Pousa a cabeça em meu ombro,
Ó meu Conselho de Estado!

Ó minha corporativa,
Minha lei de Estado Novo,
Não me sejas mais esquiva!
Meu coração quer guarida
Ó linda Casa do Povo!

União Nacional querida,
Teus olhos enchem de mágoa
A sombra da minha vida
Que passa como uma esquadra
Sobre a energia da água.

Que aristocrático ri,
O teu cabelo em cifrões —
Finanças em mise-en-plis!
Meu activo plebiscito,
Nunca desceste a eleições!

Por isso nunca me escolhes
E a minha esperança é vã.
Nem sequer por dó me acolhes,
Minha imprevidente linda
Civilização cristã!

Bem sei: por estes meus modos
Nunca me podes amar.
Olha, desculpa-mos todos.
Estou seguindo as directrizes
Do professor Salazar.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), pp. 434–436)

27 julho 2010

40 anos da morte de Salazar (1970)

Salazar
Um cadáver emotivo
, artificialmente galvanizado por uma propaganda...

Duas qualidades lhe faltam — a imaginação e o entusiasmo. Para ele o país não é a gente que nele vive, mas a estatística dessa gente.
Soma, e não segue.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 221, p. 365)

05 julho 2010

05 de Julho de 1932: Salazar, o “Ditador da Finanças”, assume a chefia do Governo

O Prof. Salazar tem, em altíssimo grau, as qualidades secundárias da inteligência e da vontade. É o tipo do perfeito executor das ordens de quem tenha as primárias.

O chefe do Governo tem uma inteligência lúcida e precisa; não tem uma inteligência criadora ou dominadora. Tem uma vontade firme e concentrada, não a tem irradiante e segura. É um tímido quando ousa, e um incerto quando afirma. Tudo quanto faz se ressente dessa penumbra dos Reis malogrados.

Quando muito, na escala da governação pública, poderia ser o mordomo do país.

[...]

O Chefe do Governo não é um estadista: é um arrumador. Para ele o país não se compõe de homens, mas de gavetas. Os problemas do trabalho e da miséria, como há ele de entendê-los, se os pretende resolver por fichas soltas e folhas móveis?

A alma humana é irredutível a um sistema de deve e haver. É-o, acentuadamente, a alma portuguesa.

Às vezes aproxima-se do povo, de onde saiu. E traz-lhe uma ternura de guarda-livros em férias, que sente que preferiria afinal estar no escritório.

É sempre e em tudo um contabilista, mas só um contabilista. Quando vê que o país sofre, troca as rubricas e abre novas contas. Quando sente que o país se queixa, faz um estorno. A conta fica certa.

O Prof. Salazar é um contabilista. A profissão é eminentemente necessária e digna. Não é, porém, profissão que tenha implícitas directivas. Um país tem que governar-se com contabilidade, não deve governar-se por contabilidade.

Assistimos à cesarização de um contabilista.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 222, p. 366)

11 abril 2010

77 anos da entrada em vigor da Constituição de 1933 (Estado Novo)

A República pragmática
Que hoje temos já não é
A meretriz democrática.
Como deixou de ser pública
Agora é somente Ré.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 383)

19 março 2010

77 anos do “plebiscito” à Constituição de 1933 (Estado Novo)

Mais valia publicar um decreto-lei que rezasse assim:
Art. 1. António de Oliveira Salazar é Deus.
Art. 2. Fica revogado tudo em contrário e nomeadamente a Bíblia.

Ficava assim legalmente instituído o sistema que deveras nos governa, o autêntico Estado Novo — a Teocracia pessoal.

[...]

Miserrimam servitutem pacem appelant.*


(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 223, p. 367)


* Pedem uma paz misérrima de servidão.

30 setembro 2009

73 anos da criação da Legião Portuguesa (1936)

Plagiamos o fascismo e o hitlerismo, plagiamos claramente, com a desvergonha da inconsciência, como a criança imita sem hesitar. Não reparamos que fascismo e hitlerismo, em sua essência, nada têm de novo, porventura nada de aproveitável, como ideias;

(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 8, p. 85)

03 agosto 2009

03 Ago 1968: Salazar caía (literalmente) da cadeira

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas faltam-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Prà cova por um alçapão de estouro!

(Álvaro de Campos, “Opiário”, Poesia, 5, pp. 65–66)

27 julho 2009

39 anos da morte de Salazar (1970)

Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...

(Álvaro de Campos, Poesia, 67, p. 305)

03 maio 2009

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

Sucede, porém, uma coisa — sucedeu há cinco minutos — que me confirma em uma decisão que estava incerta, e que me inibe de dar colaboração para a Presença, ou para qualquer outra publicação aqui do país, ou de publicar qualquer livro.
Desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na distribuição de prémios no Secretariado da Propaganda Nacional, ficámos sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da Censura, «não se pode dizer isto ou aquilo», pela regra soviética do Poder, «tem que se dizer aquilo ou isto». Em palavras mais claras, tudo quanto escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro) do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado às directrizes traçadas pelos orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer, suponho, que não poderá haver legitimamente manifestação literária em Portugal que não inclua qualquer referência ao equilíbrio orçamental, à composição corporativa (também não sei o que seja) da sociedade portuguesa e as outras engrenagens da mesma espécie.

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 168, p. 358)

28 abril 2009

120 anos do nascimento de Salazar (1889)

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.

Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), pp. 379–380)

27 abril 2009

Mal sabes tu o que o dia de amanhã te reserva...

Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!

(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, Poesia, 24a, p. 164)