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14 março 2013

134 anos do nascimento de Albert Einstein (1879)

homem a tocar violino
«Deus quer, o homem cria, a obra nasce...»*
Pintura de Norberto Nunes


* (Fernando Pessoa, “O Infante”, Mensagem, Segunda Parte, I, p. 127)

08 dezembro 2012

148 anos da publicação do “Syllabus Errorum” do Papa Pio IX, condenando o naturalismo, o racionalismo, a liberdade religiosa, as críticas à Igreja, etc. (1864)

EXCOMMUNICATION


I, Charles Robert Anon,
being, animal, mammal, tetrapod, primate, placental, ape, catarrhina, [] man; eighteen years of age, not married (except at odd moments), megalomaniac, with touches of dipsomania,
dégénéré supérieur, poet, with pretensions to written humour, citizen of the world, idealistic philosopher, etc. etc. (to spare the reader further pains),
In the name of TRUTH, SCIENCE and
PHILOSOPHIA, not with bell, book and candle, but with pen, ink and paper, Pass sentence of excommunication on all priests and all sectarians of all religions in the world.

Excommunicabo vos.
Be damned to you all.
Ainsi-soit-il.
Reason, Truth, Virtue per C.R.A.

(Charles Robert Anon, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, pp. 58 e 60;
em inglês no original)



[ EXCOMUNHÃO
Eu, Charles Robert Anon, ser, animal, mamífero, tetrápode, primata, placentário, macaco, catarríneo, [] homem; dezoito anos de idade, não casado (excepto de vez em quando), megalómano, com traços de dipsomania, dégénéré supérieur, poeta, com pretensões a humor escrito; cidadão do mundo, filósofo idealista, etc., etc. (para poupar ao leitor mais esforços),
Em nome da VERDADE, da CIÊNCIA e da PHILOSOPHIA, não com campainha, livro e vela, mas com caneta, tinta e papel,
Profiro sentença de excomunhão para todos os padres e todos os sectários de todas as religiões do mundo.
Excommunicabo vos.
Que sejais todos malditos.
Ainsi-soit-il.
Razão, Verdade, Virtude por C.R.A. ]


(idem, pp. 59 e 61; tradução com alterações)

22 junho 2012

379 anos da condenação de Galileu Galilei pelo Tribunal do Santo Ofício (1633)

[...] a crítica da atmosfera religiosa produz maiores espíritos que aquela que se exerce no vácuo. Kant assim surgiu.

A desastrada argumentação que citaria para o caso as circunstâncias que oprimiram Galileu e Servet, esqueceria sem dúvida que estava confundindo o predomínio religioso com a falta de civilização. São dois factos que importa não confundir. Se nós víssemos que nesses tempos as penalidades criminais eram de uma suavidade enorme, que eram de uma leniência acentuada as sentenças dos juízes, e que ao mesmo tempo esses hereges aparecessem queimados, enforcados, mortos, seria então o caso de atribuir à religião uma culpa que ela efectivamente teria. Mas a religião defendia-se, como é natural, e defendia-se com as armas do tempo; com as mesmas armas com que se defendia qualquer estado. [...]

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 235 , p. 282)

04 março 2012

Dia Mundial da Matemática

A matemática é uma ciência só dentro de si própria. Não é aplicável à realidade.

(Fernando Pessoa, “Uma Teoria Materialista”, Textos Filosóficos, vol. II, p. 18)

19 fevereiro 2012

539 anos do nascimento de Nicolau Copérnico (1473)

[...] Nem nos vale o valermo-nos do argumento (que o não é senão para os mistificadores que inventaram a democracia) [que] daria como falsa a ideia de que a terra gira à roda do sol, quando a não tinha senão Copérnico, e a humanidade em geral tinha a contrária. [...]

(Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, vol. II, p. 246)

08 janeiro 2012

370 anos da morte de Galileu Galilei (1642)

Venceste, Galileu. Mas nada prova
Da verdade de ti teres vencido.

(Fernando Pessoa, “Juliano em Antioquia”, Poesia (1918–1930), p. 52)

17 dezembro 2011

108 anos da realização do primeiro voo de um dispositivo mais pesado do que o ar, pelos irmãos Orville e Wilbur Wright (1903)

Dispam-me o peso do meu corpo!
Troquem a alma por asas abstractas, ligadas a nada!
Nem asas, mas a Asa enorme de Voar!
Nem Voar mas o que fica de veloz quando cessar é voar
E não há corpo que pese na alma de ir!

(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, Poesia, 24p, pp. 182–183)

08 dezembro 2011

147 anos da publicação do “Syllabus Errorum” do Papa Pio IX (1864)

Partem de 4 grandes classes os erros cometidos pelos homens do séc. XIX e XX em face da ciência:
(1) Reacção contra a ciência e o espírito científico por incapacidade de a compreender e de se adaptar a ela.
[...]
(1) Certos espíritos continuaram pensando e agindo como se a ciência não existisse e não contasse, resistindo-lhe, perseguindo-a. O Syllabus do desgraçado Pio IX é o mais flagrante documento desta impotência.

(Ricardo Reis, Prosa, 76, p. 245)

04 outubro 2011

54 anos do lançamento do Sputnik 1, primeiro satélite artificial da Terra (1957)

«O chapéu do poeta Fernando Pessoa»
Pintura de Costa Pinheiro (1979)

15 setembro 2011

Dia Internacional da Democracia

Contra a democracia invoca-se, em primeiro lugar, o argumento da ignorância das classes cujo voto predomina, porque seja maior o seu número. Mas como os sábios divergem tanto como essas classes, não parece haver vantagens na ciência para elucidação dos problemas. Onde há, sem dúvida, vantagens para a ciência é na escolha dos homens que devem governar; ora é precisamente isso que o voto escolhe. O povo não é apto a saber qual a direcção que a política pátria deve tomar em tal período; mas os homens cultos também não o sabem, pois que divergem em tal ponto. Mas o que os homens cultos sabem, e o povo não sabe, é avaliar de competências para certos cargos. Propriamente, só financeiros é que sabem avaliar qual o indivíduo que melhor geriria as finanças de um povo; só militares, qual o melhor indivíduo para ministro da Guerra.

(Fernando Pessoa, “A Democracia”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 22, pp. 126–127)

09 maio 2011

15 anos do «Affaire Sokal» (Maio de 1996)

Sociology is wholesale muddle; who can stand this Scholasticism in the Byzantium of today?

(Fernando Pessoa, “Personal Notes”,
Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 138;
em inglês no original)


[ A sociologia é uma trapalhada geral; quem pode suportar tal escolástica na Bizâncio de hoje? ]

(“Notas Pessoais”, p. 139; trad. Manuela Rocha)

05 abril 2011

A elite e os ideais políticos ou religiosos

Desde que um homem capaz de fazer obra de escol, isto é, de ciência ou de arte, põe a sua capacidade ao serviço de um ideal religioso ou de um ideal político, trai a sua missão. Um católico não pode examinar o texto do Novo Testamento, pois fatalmente o não poderá examinar com isenção. O estudo de um regime monárquico não pode decentemente ser feito por um republicano — nem por um monárquico.

(Fernando Pessoa, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, p. 258)

31 março 2011

284 anos da morte de Isaac Newton (1727)

O que há é pouca gente para dar por isso.


óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).

(Álvaro de Campos, Poesia, 243, p. 587)

16 fevereiro 2011

Ciência, Religião e Moral

A ciência é a única força intelectual moderna — a única coisa capaz de se opor ao ensimesmamento cristão e romântico.

Curioso é que haja quem se lembre de propor a religião, a moral — factos sentimentais — como disciplinas. A disciplina é intelectual. A inteligência é a disciplina do indivíduo. Deve sê-lo da sociedade também.

(Ricardo Reis, Prosa, 71, p. 239)

12 fevereiro 2011

Ciência e Religião, vícios e virtudes

A ciência não curará muitos vícios, mas também não provoca nenhuns.

O homem normalmente justo, tranquilo e respeitador não será pela ciência tornado mais justo, tranquilo e respeitador, mas também o não será menos — a não ser que por ciência se vá entender qualquer dos dogmas metafísicos saídos dos laboratórios dos sábios desequilibrados, Büchners, Haeckels, Huxleys.*

[...]

A ciência, bem entendida, é essencialmente imparcial. A religião, mesmo bem entendida, é essencialmente parcial. Os erros dos homens de ciência nascem só da incompreensão da ciência. Os erros dos crentes podem nascer, e muitas vezes nascem, do simples facto de serem crentes, nascem, portanto, da compreensão da crença.

(Ricardo Reis, Prosa, 80, p. 251)


* Referência a Ludwig Büchner (1824–1899), Ernst Haeckel (1834–1919) e Thomas Henry Huxley (1825–1895).

23 dezembro 2010

Arte e Ciência

Science describes things as they are; Art as they are felt, as they are felt to be.

[ A Ciência descreve as coisas como são; a Arte como são sentidas, como se sente que são. ]

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, I, 3, p. 4;
em inglês no original; tradução com alterações)

08 dezembro 2010

Dia de Nossa Senhora da Conceição (ou, o que não é a mesma coisa, da Imaculada Conceição de Maria)

[...] Só a ciência hoje tem o respeito dos cultos. Nenhum homem culto hoje acredita, realmente acredita, por mais que creia, na Imaculada Conceição de Maria. [...]

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 319, pp. 353–354)

30 junho 2010

105 anos da publicação do artigo “On the Electrodynamics of Moving Bodies”, de Albert Einstein (1905)

[...] Convém ainda avisar esses mesmos leigos que a expressão «relatividade» é aqui empregada no seu sentido tradicional e lógico, e não no sentido, aliás infeliz e absurdo, em que se chama «da relatividade» à teoria de Einstein, que é simplesmente uma teoria, primeiro restrita, depois generalizada, do movimento relativo.

(Álvaro de Campos, “O que é a Metafísica?”, Crítica, p. 232)

13 maio 2010

93 anos da primeira “aparição” de Fátima (1917)

Fátima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes... eu bebia aguardente.

Um momento... Não é nada disso... Fui levado pela emoção mais que pelo pensamento, e é com o pensamento que desejo escrever.

Fátima é o nome de um lugar da província, não sei onde ao certo, perto de um outro lugar do qual tenho a mesma ignorância geográfica mas que se chama Cova de qualquer santa. Nesse lugar — em um ou no outro — ou perto de qualquer deles, ou de ambos, viram um dia umas crianças aparecer Nossa Senhora, o que é, como toda a gente sabe, um dos privilégios infinitos a que se não parte a corda. Assim diz a voz do povo da província e A Voz sem povo de Lisboa. Deve portanto ser verdade, visto que é sabido que a voz das aldeias e A Voz da cidade de há muito substituíram aquelas velharias democráticas que se chamam, ou chamavam, a demonstração científica e o pensamento raciocinado. Depois de terem passado os últimos rastros do a que o sr. Léon Daudet chamou «o estúpido século dezanove» — embora seu pai houvesse florescido e o mesmo Léon nascido em plena estupidez —, as normas do pensamento e da verificação voltaram à sua normalidade medieval; e assim como passou a haver «liberdades» em vez de «liberdade», assim também passou a haver crenças em vez de crença, fés em vez de fé, e vários outros plurais ainda mais singulares.

O deplorável facto de que uma menina chamada Bernadette Soubirous se antecipara — e no estúpido etc! — a esta notável visão do celestial terrestrizado, despe-nos um pouco o manto, e um pouco nos entorta a coroa, da novidade. Enfim sempre era mesmo de uma Nossa Senhora geograficamente (e cronologicamente) diferente. Já o Chevalier de Cailly perguntava, no século ante-estúpido (o dezoito), dado que sempre que escrevia qualquer coisa, descobria que a Antiguidade a já havia dito, por que não teria essa tal Antiguidade vindo depois dele, pois então teria ele escrito primeiro.

Seja como for, o facto é que há em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas, a preços mais em conta; há peregrinações que dispensam o comboio (criação do estúpido etc!), e quando, de vez em quando essa reminiscência da Idade Média — a camionete — se volta e alguém morre, há sempre o Diabo a quem acusar — diabolis ex machina —, quando se não queira, por um critério mais objectivo e científico (vide Alfredo Pimenta) reconhecer verdadeiros culpados a magos e bruxos que, como toda a gente sabe, formam o grosso da Maçonaria e da Associação do Registo Civil.

O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto êxtase místico da parte de hotéis, estalagens e outro comércio desses jeitos — o que, aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo — não vão eles lembrar-se de o seguir! Com efeito diz-se no Evangelho [de Mateus 6:31–33], cuidando-se de bens materiais, «Buscai-vos o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas».

É certo que quem vai a Fátima não vai lá buscar o Reino de Deus, mas o da Nossa Senhora da região — aquela em que está aberto vinho novo. Deus, como se sabe, foi já substituído, sendo o Céu agora governado em regime soviético. Nossa Senhora — a de Lourdes e (ou) a de Fátima — é (place aux femmes!) Comissária do Povo da Saúde Pública. Daí as curas na policlínica da Cova da Iria.

(Fernando Pessoa, “Fátima”, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, pp. 274–277)

23 março 2010

Conselho aos ateus militantes

Não se deve ir abalar a crença a um ignorante. Deve-se instruí-lo. A instrução lhe abalará a crença. E se não lha abalar é que ela está ainda arreigada de mais para poder ser abalada. Fica para outra geração.

É mesmo duvidoso se se deva proibir o ensino religioso. Deve criar-se uma atmosfera de cultura científica que o vá lentamente fazer caducar.

(Ricardo Reis, Prosa, 81, p. 253)