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15 janeiro 2012

Onde se lê «Sr. José Cabral», leia-se «Ministra Paula Teixeira da Cruz»

[...] Creio não errar ao presumir que o Sr. José Cabral supõe que a Maçonaria é uma associação secreta. Não é. A Maçonaria é uma Ordem secreta, ou, com plena propriedade, uma Ordem iniciática. O Sr. José Cabral não sabe, provavelmente, em que consiste a diferença. Pois o mal é esse — não sabe. Nesse ponto, se não sabe, terá que continuar a não saber. De mim, pelo menos, não receberá a luz. Forneço-lhe, em todo o caso, uma espécie de meia luz, qualquer coisa como a «treva visível» de certo grande ritual. Vou insinuar-lhe o que é essa diferença por o que em linguagem maçónica se chama «termos de substituição».

A Ordem Maçónica é secreta por uma razão indirecta e derivada a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento — toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império — precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota.

(Fernando Pessoa, “Associações Secretas”, Da República (1910–1935), 132, pp. 394–395)

05 janeiro 2012

Continua a não me lembrar nada nem ninguém...

[...] louvores [...] néscios
São-lhe a mesma distância
De todos os seus dias...

(Ricardo Reis, Poesia, Anexo B, XVa, p. 173)

28 dezembro 2011

Também não me lembra nada nem ninguém...

[...] passai por baixo do meu Desprezo! [...]
[...]
Passai, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!
Passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-teorias!
Passai, gigantes de formigueiro, [...]
Passai, esterco epileptóide sem grandezas, histerialixo dos espectáculos, [...]
Passai, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!
Passai à esquerda do meu Desdém virado à direita, [...]
[...]
Passai, «finas sensibilidades» pela falta de espinha dorsal; [...]
[...]
Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia, do tamanho exacto do Possível!
Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!
Ergo-me, ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, pp. 282, 283 e 286)

27 dezembro 2011

Não me lembra nada nem ninguém...

OLIGARQUIA DAS BESTAS


Lama de portugueses, esterco de gente, sem uma ideia grande nem um sentimento generoso, [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 75, p. 181)

15 setembro 2011

Dia Internacional da Democracia

Contra a democracia invoca-se, em primeiro lugar, o argumento da ignorância das classes cujo voto predomina, porque seja maior o seu número. Mas como os sábios divergem tanto como essas classes, não parece haver vantagens na ciência para elucidação dos problemas. Onde há, sem dúvida, vantagens para a ciência é na escolha dos homens que devem governar; ora é precisamente isso que o voto escolhe. O povo não é apto a saber qual a direcção que a política pátria deve tomar em tal período; mas os homens cultos também não o sabem, pois que divergem em tal ponto. Mas o que os homens cultos sabem, e o povo não sabe, é avaliar de competências para certos cargos. Propriamente, só financeiros é que sabem avaliar qual o indivíduo que melhor geriria as finanças de um povo; só militares, qual o melhor indivíduo para ministro da Guerra.

(Fernando Pessoa, “A Democracia”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 22, pp. 126–127)

16 julho 2010

16 Jul. 622: Fuga de Maomé de Meca para Medina (Hégira, início do Calendário Islâmico)

[...] dada a ingenuidade da sua visão, era natural que caísse[] no erro egocêntrico comum a todos os profetas que profetizam com intenção.

(Fernando Pessoa, “Bandarra”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 41, p. 147)

Profecias

A existência do dom de profecia é afirmada por muitos e negada por muitos. Na maioria dos casos, ou a linguagem profética é tão obscura que dela se pode fazer aplicação a qualquer facto, ou a abundância de pormenores é tão grande que dificilmente se encontrará um facto a que um ou outro dos pormenores se não possa ajustar. De sorte que o problema fundamental fica na mesma. Os que afirmam a existência do dom profético apontam o facto justificativo; os que lhe negam a existência apontam que qualquer facto, ainda que fosse contrário do que se deu, serviria igualmente, e portanto com igual inutilidade, de justificação.

(Fernando Pessoa, Crítica, p. 530)

23 março 2010

Conselho aos ateus militantes

Não se deve ir abalar a crença a um ignorante. Deve-se instruí-lo. A instrução lhe abalará a crença. E se não lha abalar é que ela está ainda arreigada de mais para poder ser abalada. Fica para outra geração.

É mesmo duvidoso se se deva proibir o ensino religioso. Deve criar-se uma atmosfera de cultura científica que o vá lentamente fazer caducar.

(Ricardo Reis, Prosa, 81, p. 253)

18 março 2010

696 anos da execução de Jacques de Molay, Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários (1314)

[...] Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos — a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.

(Fernando Pessoa, “Nota Biográfica”, Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 135)

01 fevereiro 2010

102 anos do Regicídio de D. Carlos (1908)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, pp. 83–84)



O Regicídio, e, depois, a Revolução, foram os dois fenómenos que chamaram sobre nós, embora imperfeitamente, a atenção do estrangeiro. Quer dizer: em vez de desconhecidos, passámos a ser mal conhecidos. Antes, nada se sabia de nós; passaram a saber-se de nós coisas inteiramente falsas. O conhecimento que o estrangeiro tem de nós oscila entre o nada e o erro.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 175, p. 309)