31 julho 2009

50 anos da fundação da organização terrorista ETA (1959)

Vou atirar uma bomba ao destino.

(Álvaro de Campos, Poesia, 42, p. 264)

30 julho 2009

Crítica literária

A crítica, de resto, é apenas a forma suprema e artística da maledicência. É preferível que seja justa, mas não é absolutamente necessário que o seja. [...]

[...] Espetar alfinetes na alma alheia, dispondo esses alfinetes em desenhos que aprazam à nossa atenção futilmente concentrada, para que o nosso tédio se vá esvaindo — eis um passatempo deliciosamente de crítico, e ao qual juramos fidelidade.

(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, pp. 91–92)

Crítica literária “bulldozer”

Destina-se esta secção à crítica dos maus livros e especialmente à crítica daqueles maus livros que toda a gente considera bons. O livro, consagrado por qualidades que não tem, do homem consagrado por qualidades com que outros o pintaram; o livro daquele que, tendo criado fama, se deitou a fingir que dormia; o livro do que entrou no palácio das musas pela janela ou colheu a maçã da sabedoria com o auxílio dum escadote — tudo isto se pesará na Balança de Minerva.

[...] pretendemos dar a entender que o nosso uso da Balança de Minerva limitar-se-á, na maioria dos casos, a dar com ela — pesos e tudo — na cabeça do criticado. Isso, de resto, não deve preocupar ninguém. Quem tiver de ser imortal pode sê-lo mesmo com a cabeça partida. [...]

(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, pp. 91–92)

29 julho 2009

Iconografia pessoana

Aguarela de Hermenegildo Sábat
(Fonte: Público)

28 julho 2009

95 anos do início da I Guerra Mundial (1914)

Ruído longínquo e próximo não sei porquê
Da guerra europeia... Ruído de universo de catástrofe...
Que vai morrer para além de onde ouvimos e vemos?
Em que fronteiras deu a morte rendez-vous
Ao destino das nações?

Ó Águia Imperial, cairás?
Rojar-te-ás, negra amorfa coisa em sangue,
Pela terra, onde sob o teu cair
Ainda tens marcado o sinal das tuas garras para antes formar o voo
Que deste sobre a Europa confusa?

(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 23b, pp. 148–149)

27 julho 2009

39 anos da morte de Salazar (1970)

Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...

(Álvaro de Campos, Poesia, 67, p. 305)

24 julho 2009

Superioridade da Arte e da Ciência sobre a Política

GAZETILHA

Dos Lloyd Georges da Babilónia
Não reza a história nada.
Dos Briands da Assíria ou do Egipto,
Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.

Só o parvo dum poeta, ou um louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tanto pouco
Que está lá para trás no escuro
E nem a história já historia.

Ó grandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!

(Álvaro de Campos, Poesia, 77, p. 328)

22 julho 2009

Iconografia pessoana

«Alberto Caeiro»
Pintura de Lívio de Morais (1998)

21 julho 2009

2364 anos da destruição do Templo de Ártemis em Éfeso (356 AC)

Contudo, é admissível pensar que existe uma espécie de grandeza em Heróstrato — uma grandeza que ele não partilha com arrivistas menores que irromperam na fama inopinadamente. Sendo grego, pode conceber-se que possuía a percepção refinada e o calmo delírio da beleza que ainda distinguem a memória do seu clã de gigantes. É, pois, concebível que tenha incendiado o templo de Diana num êxtase de dor, queimando parte de si mesmo na fúria da sua malvada façanha. Podemos legitimamente conceber que tivesse superado os apertos de um remorso futuro, e enfrentado um horror íntimo para alcançar uma fama duradoura.

(Fernando Pessoa, “Heróstrato ou o futuro da celebridade”,
Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 362; em inglês no original)

18 julho 2009

312 anos da morte de Padre António Vieira (1697)

Cada um de nós tem um Quinto Império no bairro [...]

(Fernando Pessoa, “Ecolalia interior”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 3, p. 79)

17 julho 2009

Dia Mundial para a Justiça Internacional

[...] A injustiça, aliás, é a justiça dos fortes. [...]

(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, p. 91)

16 julho 2009

Iconografia pessoana

«O Poeta Fernando Pessoa e uma Janela»
Pintura de Costa Pinheiro (1985)

15 julho 2009

Início da época de saldos

É um universo barato.

(Álvaro de Campos, Poesia, 143, p. 433)

14 julho 2009

220 anos da tomada da Bastilha (1789)

Visando o estabelecimento da liberdade, a Revolução Francesa suprimiu-a toda; inverteu os termos da opressão, nada mais.

(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 48, p. 258)




A Revolução Francesa foi um renascimento do Cristianismo. O seu célebre triplo lema é o lema substancial da sensibilidade cristã. Liberdade, Igualdade, Fraternidade — outros não são os ensinamentos essenciais do Evangelho jesuísta.

(Ricardo Reis, Prosa, 5, p. 61)

11 julho 2009

11 Jul 1947: o Exodus zarpava para a Terra Santa

Estou liberto e decidido

(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 18)

10 julho 2009

Iconografia pessoana

Desenho de Alberto Cutileiro (Jan 1935)

09 julho 2009

Criacionismo

[...] saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 279)

07 julho 2009

Reunião dos Ministros da Economia e das Finanças (Ecofin) da União Europeia

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 279)

04 julho 2009

233 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776)

Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 281)

02 julho 2009

Iconografia pessoana

Fernando Pessoa aos 10 anos, em Durban (1898)


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 34)

01 julho 2009

As incertezas dos tempos que correm

Que lindo dia o que vemos!
Mas, como estes tempos vão,
É bom que não confiemos...
É melhor dizer que temos,
Não um dia de verão,
Mas um dia de veremos.

(Fernando Pessoa, “Diferença de Pessoa”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 486)