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26 março 2013

121 anos da morte de Walt Whitman (1892)

A magnificent type of poet who will survive by representativeness is Walt Whitman. Whitman has all modern times in him, from cruelty [?] to engineering, from humanitarian tendencies to the hardness of intellectuality — he has all this in him. He is far more permanent than (Schiller or) Musset, for instance. He is the medium of Modern Times. His power of expression is as consummate as Shakespeare’s. [...]

(Fernando Pessoa, “Impermanence”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 45, p. 273;
em inglês no original)



[ Um tipo magnífico de poeta que sobreviverá pela sua representatividade é Walt Whitman. Whitman encerra em si todos os tempos modernos, da crueldade [?] à engenharia, da ternura humanitária à dureza da intelectualidade — tudo isto ele contém em si próprio. É muito mais permanente do que (Schiller ou) Musset, por exemplo. É o veículo dos Tempos Modernos. O seu poder de expressão é tão consumado como o de Shakespeare. [...] ]

(idem, p. 274; trad. Jorge Rosa)

21 março 2013

Dia Mundial da Poesia

A inspiração poética é um delírio equilibrado (mas sempre um delírio).

(Alexander Search, Aforismos e afins, p. 60)




É preciso acabar com o mito do poeta inspirado.

(Álvaro de Campos, Aforismos e afins, p. 61)

16 março 2013

54 anos da morte de António Botto (1959)

António Botto é o único português, dos que conhecidamente escrevem, a quem a designação de esteta se pode aplicar sem dissonância. Com um perfeito instinto ele segue o ideal a que se tem chamado estético, e que é uma das formas, se bem que a ínfima, do ideal helénico. Segue-o, porém, a par de com o instinto, com uma perfeita inteligência, porque os ideais gregos, como são intelectuais, não podem ser seguidos inconscientemente.
[...]
Se tivermos presentes estas considerações na análise do livro de António Botto, não nos será difícil determinar que esse livro representa uma das revelações mais raras e perfeitas do ideal estético, que se podem imaginar.
[...]

(Fernando Pessoa, “António Botto e o Ideal Estético em Portugal”, Crítica, pp. 173 e 180;
publicado originalmente na revista Contemporânea n.º 3, de Julho de 1922)



Meu querido José Pacheco:

Venho escrever-lhe para o felicitar pela sua Contemporânea, para lhe dizer que não tenho escrito nada, e para pôr alguns embargos ao artigo do Fernando Pessoa.
[...]
Ideal estético, meu querido José Pacheco, ideal estético! Onde foi essa frase buscar sentido? E o que encontrou lá quando o descobriu? Não há ideias nem estéticas senão nas ilusões que nós fazemos deles. O ideal é um mito da acção, um estimulante como o ópio ou a cocaína: serve para sermos outros, mas paga-se caro — com o nem sermos quem poderíamos ter sido.
[...]

(Álvaro de Campos, “De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos Escreve à Contemporânea”, Crítica,
pp. 186–187; publicado originalmente na revista Contemporânea n.º 4, de Outubro de 1922)

08 março 2013

99 anos do «dia triunfal» da vida de Fernando Pessoa (1914)

O que Fernando Pessoa escreve pertence a duas categorias de obras, a que poderemos chamar ortónimas e heterónimas. Não se poderá dizer que são anónimas e pseudónimas, porque deveras o não são. A obra pseudónima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterónima é do autor fora de sua pessoa, é de uma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.

As obras heterónimas de Fernando Pessoa são feitas por, até agora, três nomes de gente — Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos. Estas individualidades devem ser consideradas como distintas da do autor delas. Forma cada uma uma espécie de drama; e todas elas juntas formam outro drama. Alberto Caeiro, que se tem por nascido em 1889 e morto em 1915, escreveu poemas com uma, e determinada, orientação. Teve por discípulos — oriundos, como tais, de diversos aspectos dessa orientação — aos outros dois: Ricardo Reis, que se considera nascido em 1887, e que isolou naquela obra, estilizando, o lado intelectual e pagão; Álvaro de Campos, nascido em 1890, que nela isolou o lado por assim dizer emotivo, a que chamou «sensacionista», e que — ligando-o a influências diversas, em que predomina, ainda que abaixo da de Caeiro, a de Walt Whitman — produziu diversas complicações, em geral de índole escandalosa e irritante, sobretudo para Fernando Pessoa, que em todo o caso não tem remédio senão fazê-las e publicá-las, por mais que delas discorde. As obras destes três poetas formam, como se disse, um conjunto dramático; e está devidamente estudada a entreacção intelectual das personalidades, assim como as suas próprias relações pessoais. Tudo isto constará de biografias a fazer, acompanhadas, quando se publiquem, de horóscopos e, talvez, de fotografias. É um drama em gente, em vez de em actos.

(Se estas três individualidades são mais ou menos reais que o próprio Fernando Pessoa — é problema metafísico, que este, ausente do segredo dos Deuses, e ignorando portanto o que seja realidade, nunca poderá resolver.)

(Fernando Pessoa, “Tábua Bibliográfica — Fernando Pessoa”, Crítica, pp. 404–405)



Em torno do meu mestre Caeiro havia, como se terá depreendido destas páginas, principalmente três pessoas — o Ricardo Reis, o António Mora e eu. [...]

O Ricardo Reis era um pagão latente, desentendido da vida moderna e desentendido daquela vida antiga, onde deveria ter nascido — desentendido da vida moderna porque a sua inteligência era de tipo e qualidade diferente; desentendido da vida antiga porque a não podia sentir, pois se não sente o que não está aqui. [...]

O António Mora era uma sombra com veleidades especulativas. Passava a vida a mastigar Kant e tentar ver com o pensamento se a vida tinha sentido. [...]

Por mim, antes de conhecer Caeiro, eu era uma máquina nervosa de não fazer coisa nenhuma. Conheci o meu mestre Caeiro mais tarde que o Reis e o Mora, que o conheceram, respectivamente, em 1912 e 1913. Conheci Caeiro em 1914. Já tinha escrito versos — três sonetos e dois poemas («Carnaval» e «Opiário»). Esses sonetos e estes poemas mostram o que eu sentia quando estava sem amparo. Logo que conheci Caeiro, verifiquei-me. Cheguei a Londres e escrevi imediatamente a «Ode Triunfal». E de aí em diante, por mal ou por bem, tenho sido eu.

Mais curioso é o caso do Fernando Pessoa, que não existe, propriamente falando. Este conheceu Caeiro um pouco antes de mim — em 8 de Março de 1914, segundo me disse. Nesse mês, Caeiro viera a Lisboa passar uma semana e foi então que o Fernando o conheceu. Ouviu ler O Guardador de Rebanhos. Foi para casa com febre (a dele), e escreveu, num só lance ou traço, a «Chuva Oblíqua» — os seis poemas.

(Álvaro de Campos, “Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro”, 8,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, pp. 161–162)

25 fevereiro 2013

158 anos do nascimento de Cesário Verde (1855)

There is a great Portuguese poet called Cesário Verde; he lived in the middle years of the nineteenth century. The whole attitude to life which makes him a great poet can actually be found in anticipation in two casual poems of Guilherme Braga, a poet ten years older than he. But what in Cesário is gathered together into a whole concept of the universe was a mere chance in Braga’s production. And, even if, as is quite probable, Braga’s casual poems made Cesário find himself, even if by a plagiarism without plagiarism, the earlier man is nevertheless smaller. (It is the later man who is the earlier.)

(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 6, p. 174;
em inglês no original)



[ Há um grande poeta português chamado Cesário Verde; viveu ele em meados do século XIX. Toda a atitude perante a vida que faz de Cesário Verde um grande poeta se encontra antecipadamente em dois poemas casuais de Guilherme Braga, poeta dez anos mais velho do que ele. Mas aquilo que em Cesário se congrega em todo um conceito do universo era mero acaso na produção de Braga. E mesmo que, como é muito provável, fossem os poemas casuais de Braga que fizeram com que Cesário se encontrasse a si próprio, embora à custa de um plagiato sem plagiato, o poeta anterior é, no entanto, de menor estatura. (O poeta posterior é que fica sendo o primeiro.) ]

(idem, p. 221; trad. Jorge Rosa, com alterações)

04 fevereiro 2013

214 anos do nascimento de Almeida Garrett (1799)

[...] the sum and whole of Portuguese literature is hardly literature and scarcely ever Portuguese. It is Provençal, Italian, Spanish and French, occasionally English, in some people, like Garrett, who knew enough French to read bad French translations of inferior English poems and go right when they go wrong on that. [...]

(Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 140; em inglês no original)



[ [...] o conjunto da literatura portuguesa dificilmente é literatura e quase nunca é portuguesa. É provençal, italiana, espanhola e francesa, ocasionalmente inglesa, em alguns, como Garrett, que sabia o francês bastante para ler más traduções francesas de poemas ingleses inferiores e acertar quando eles erram. [...] ]

(idem, 148)

07 janeiro 2013

688 anos da morte de D. Dinis (1325)

Conhece-se a poesia lírica pelo facto de ser quase desprezível a ideação ou o sentimento para existir uma boa poesia lírica. Assim o «Ai flores, ai flores do verde pino» ou o «Levantou-se a velida» de D. Dinis, rei de Portugal, são poesias líricas maravilhosas, conquanto contenham uma insignificante base ideativa ou mesmo emocional. É o lirismo puro. Claro está que, dentro deste lirismo, a poesia será tanto maior quanto mais ideia e emoção contém. [...]

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 237, p. 383)

21 dezembro 2012

207 anos da morte de Manuel Maria Barbosa du Bocage (1805)

[...] the over-rated and insupportable Bocage [...]

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, X, 4, p. 331; em inglês no original)



[ [...] o exageradamente apreciado e insuportável Bocage [...] ]

(idem, p. 333; trad. Jorge Rosa)

09 dezembro 2012

404 anos do nascimento de John Milton (1608)

Milton is the example of the union of great genius and great talent. He has the intuition of genius and the formative power of talent. He had no wit; he was, in fact, a pedant. But he had the pedant’s firm, though heavy, will.

(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 4, p. 171; em inglês no original)



[ Milton é o exemplo da união de grande génio e grande talento. Tem a intuição do génio e o poder formativo do talento. Não tinha qualquer espírito; era, até, pedante. Mas tinha a vontade firme, embora pesada, do pedante. ]

(idem, p. 218; trad. Jorge Rosa, com alterações)

10 novembro 2012

121 anos da morte de Arthur Rimbaud (1891)

Invejo a tua vida arremessada,
Atirada p’ra longe, p’ra perder-se...
Vida que abre as velas, e ei-la a encher-se
De si sem pensar em ter uma chegada,
E de estar longe sem pensar em ver-se.

Invejo a tua vida e tenho dela
Que não foi minha, como que saudades,
Descem em mim obscuras ansiedades
Um mar em mim tormentas em capela
Feitas das minhas ocas saciedades.

Possuidor do Longe que sonhaste,
Torturado por tua imperfeição...
Não sei porque tu não viveste são
Flor que tanto soube ser alta na haste
Que em vício e sombra... mas desabrochaste
E a tua vida foi o teu perdão.

(Fernando Pessoa, “A Vida de Arthur Rimbaud”, Poesia (1902–1917), pp. 141–142)

31 outubro 2012

217 anos do nascimento de John Keats (1795)

I cannot think badly of the man who wrote the Ode to a Nightingale, nor of him who, in that «to the Grecian Urn», expresses so human an idea as the heart-rending untimeness of beauty. We all have felt that tearful sensation. [...]

(Fernando Pessoa, “Keats”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, IX, 10, p. 312;
em inglês no original)



[ Não posso pensar mal do homem que escreveu Ode a um Rouxinol nem daquele que, em «a uma Urna Grega», exprime uma ideia tão humana como a dilacerante intemporalidade da beleza. Todos nós tivemos já essa lacrimosa sensação. [...] ]

(idem, p. 313; trad. Jorge Rosa, com alterações)

31 agosto 2012

145 anos da morte de Charles Baudelaire (1867)

[...] Quem não pode fazer versos como Baudelaire pode, porém, tingir os cabelos de verde. [...]

(Fernando Pessoa, “A Imoralidade das Biografias”,
Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 12, p. 132)

16 agosto 2012

145 anos do nascimento de António Nobre (1867)

Quando ele nasceu, nascemos todos nós. A tristeza que cada um de nós traz consigo, mesmo no sentido da sua alegria é ele ainda, e a vida dele, nunca perfeitamente real nem com certeza vivida, é, afinal, a súmula da vida que vivemos — órfãos de pai e de mãe, perdidos de Deus, no meio da floresta, e chorando, chorando inutilmente, sem outra consolação do que essa, infantil, de sabermos que é inutilmente que choramos.

(Fernando Pessoa, “Para a memória de António Nobre”, Crítica, p. 101)

19 julho 2012

126 anos da morte de Cesário Verde (1886)

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O Livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, III”, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 45)

21 março 2012

Dia Mundial da Poesia

Tudo é prosa. A poesia é aquela forma de prosa em que o ritmo é artificial. Este artifício, que consiste em criar pausas especiais e anti-naturais diversas das que a pontuação define, embora às vezes coincidentes com elas, é dado pela escrita do texto em linhas separadas, chamadas versos, preferivelmente começadas por maiúscula, para indicar que são como que períodos absurdos, pronunciados separadamente. [...]

(Álvaro de Campos, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 275)



Diz Campos que a poesia é uma prosa em que o ritmo é artificial. Considera a poesia como uma prosa que envolve música, donde o artifício. Eu, porém, antes diria que a poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras. Considerai que será o fazerdes música com ideias, em vez de com emoções. Com emoções fareis só música. Com emoções que caminham para as ideias, ou se agregam ideias para se definir, fareis o canto. Com ideias só, contendo tão-somente o que de emoção há necessariamente em todas as ideias, fareis poesia. [...]

(Ricardo Reis, idem)

18 março 2012

112 anos da morte de António Nobre (1900)

De António Nobre partem todas as palavras com sentido lusitano que de então para cá têm sido pronunciadas. Têm subido a um sentido mais alto e divino do que ele balbuciou. Mas ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas. O ingénuo panteísmo da Raça, que tem carinhos de espontânea frase para com as árvores e as pedras, desabrochou nele melancolicamente. Ele vem no Outono e pelo crepúsculo. Pobre de quem o compreende e ama!

(Fernando Pessoa, “Para a memória de António Nobre”, Crítica, p. 100)

16 março 2012

53 anos da morte de António Botto (1959)

A arte do Botto é integralmente imoral. Não há célula nela que esteja decente. E isso é uma força porque é uma não hipocrisia, uma não complicação. Wilde tergiversava constantemente. Baudelaire formulou uma tese moral da imoralidade; disse que o mau era bom por ser mau, e assim lhe chamou bom. O Botto é mais forte: dá à sua imoralidade razões puramente imorais, porque não lhe dá nenhumas.

(Álvaro de Campos, Crítica, p. 188)

23 fevereiro 2012

191 anos da morte de John Keats (1821)

Keats is a poet of a higher type than Shakespeare, yet Keats was not greater than Shakespeare. Keats was a creator; Shakespeare was only an interpreter. But Keats ranks relatively low in the ranks of the creators; whereas Shakespeare ranks very high — he ranks first, I believe — in the number of interpreters.

(Fernando Pessoa, “Impermanence”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 45, p. 273; em inglês no original)




[ Keats é um poeta de tipo superior ao de Shakespeare; no entanto, não o superou. Keats era criador; Shakespeare era apenas um intérprete. Mas Keats tem um lugar relativamente baixo entre os criadores; enquanto que Shakespeare tem um lugar muito alto — o primeiro, creio, entre os intérpretes. ]

(idem, p. 274; trad. Jorge Rosa)

14 dezembro 2011

59 anos da morte de Teixeira de Pascoaes (1952)

[...] Quando leio Pascoaes farto-me de rir. Nunca fui capaz de ler uma coisa dele até ao fim. Um homem que descobre sentidos ocultos nas pedras, sentimentos humanos nas árvores, que faz gente dos poentes e das madrugadas [].

(Alberto Caeiro entrevistado por Alexander Search, Poemas Completos de Alberto Caeiro, pp. 213–214)

12 agosto 2011

184 anos da morte de William Blake (1827)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.

(Álvaro de Campos, Poesia, 101, p. 367)