Conhece-se a poesia lírica pelo facto de ser quase desprezível a ideação ou o sentimento para existir uma boa poesia lírica. Assim o «Ai flores, ai flores do verde pino» ou o «Levantou-se a velida» de D. Dinis, rei de Portugal, são poesias líricas maravilhosas, conquanto contenham uma insignificante base ideativa ou mesmo emocional. É o lirismo puro. Claro está que, dentro deste lirismo, a poesia será tanto maior quanto mais ideia e emoção contém. [...]
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 237, p. 383)