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04 março 2013

619 anos do nascimento do Infante D. Henrique (1394)

AO INFANTE


Senhor, a obra fica e o homem passa.
Mas a obra é o homem. Só estas canções
No fundo incerto e oceânico da raça
E anónimos, longes corações.
Em torno de mim, se de mim mesmo corro
O som ruído da onda e as praias toco
Do Largo no abismo do meu ser,
Pairam as naus perdidas que encontraram
O por-achar e em mares se abismaram
Para além do Regresso e do Esquecer.

Parte quem fica quando a Alma manda.
Em mil naus a Vossa alma reviveu
E no universo, de uma a outra banda
Do que se achou e que se conheceu,
Vossa Presença Eterna violou
As portas de ouro com que Deus fechou
O oriente de luz e o ocaso morto...
Vosso espírito ainda nos consuma
E obre as novas naus em nós a suma
Vitória de não quererem nunca o porto.

(Fernando Pessoa, Poesia (1918–1930), p. 172)

03 fevereiro 2013

525 anos do desembarque de Bartolomeu Dias na Aguada de São Brás (Mossel Bay) após dobrar o Cabo das Tormentas, ou da Boa Esperança (1488)

Ilustração de Pedro Sousa Pereira
para a edição de Mensagem pela Oficina do Livro (2006)


16 dezembro 2012

497 anos da morte de Afonso de Albuquerque (1515)

[...] O Infante, Albuquerque e os outros semideuses da nossa glória esperam ainda o seu cantor. Este poderá não falar deles; basta que os valha em seu canto, e falará deles. Camões estava muito perto para poder sonhá-los. [...]

(Fernando Pessoa, “Entrevista sobre a Arte e a Literatura Portuguesas”, Crítica, p. 198)

13 dezembro 2012

435 anos do início da Circum-navegação de Francis Drake (1577)

Travels by sea like those of Drake, Frobisher, Cook and (as the Patent Office says) «the like» are so insignificant in the sociology of discovery that it were a wiser patriotism with Englishmen to omit all reference to them except as national incidents of a foreign impulse. Politics and not navigation is the English contribution to the substance of civilization. England found the sea only after it was told where it was.

(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 33, pp. 204–205; em inglês no original)



[ Viagens marítimas como as de Drake, Frobisher, Cook e (como diz a Repartição de Patentes) «afins», são tão insignificantes na sociologia das descobertas que seria um patriotismo mais sensato os ingleses omitirem todas as referências a eles excepto como incidentes nacionais de um impulso estrangeiro. O contributo inglês para a substância da civilização foi a política, não a navegação. A Inglaterra só encontrou o mar depois de lhe terem dito onde ficava. ]

(idem, p. 253; trad. Jorge Rosa, com alterações)

12 outubro 2012

520 anos da chegada de Cristóvão Colombo às Américas (1492)

It is idle, though perhaps interesting, to discuss what Columbus was, historically; sociologically, he is Portuguese.

(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 38, p. 211;
em inglês no original)



[ É ocioso, embora talvez interessante, discutir quem foi Colombo historicamente; sociologicamente era português. ]

(idem, p. 260; trad. Jorge Rosa)

08 julho 2012

515 anos da partida de Vasco da Gama para a Índia (1497)

cidade-barco
Ilustração de Pedro Sousa Pereira
para a edição de Mensagem pela Oficina do Livro (2006)

04 julho 2012

236 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776)

[...] Se alguma tendência têm os criadores de civilização, é a de não repararem bem na importância do que criam. O Infante D. Henrique, com ser o mais sistemático de todos os criadores de civilização, não viu contudo que prodígio estava criando — toda a civilização transoceânica moderna, embora com consequências abomináveis, como a existência dos Estados Unidos. [...]

(Fernando Pessoa, “O Provincianismo Português”, Crítica, p. 372)

20 maio 2012

514 anos da chegada de Vasco da Gama a Calecute (1498)

Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

(Álvaro de Campos, “Opiário”, Poesia, 5, p. 63)

08 junho 2011

Dia Mundial dos Oceanos

«Mar Portugués III»*
Pintura de Juan Soler


* (Fernando Pessoa, “Mar Português”, Mensagem, Segunda Parte, X, p. 147)

25 maio 2011

591 anos da nomeação do Infante D. Henrique (“o Navegador”) como Grão-Mestre da Ordem de Cristo (1420)

«O Infante»
Ilustração de José de Almada Negreiros
para edição de Mensagem (1934)

03 maio 2011

556 anos do nascimento de D. João II (1455)

UMA ASA DO GRIFO:
D. JOÃO, O SEGUNDO


Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, V, p. 119)

29 maio 2010

510 anos da morte de Bartolomeu Dias (1500)

EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS


Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, V, p. 137)

25 maio 2010

590 anos da nomeação do Infante D. Henrique (“o Navegador”) como Grão-Mestre da Ordem de Cristo (1420)

A CABEÇA DO GRIFO:
O INFANTE D. HENRIQUE


Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, V, p. 117)

22 abril 2010

510 anos da Descoberta do Brasil (1500)

E tu, Brasil «república irmã», blague de Pedro Álvares Cabral, que nem te queria descobrir!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 281)

04 março 2010

616 anos do nascimento do Infante D. Henrique (1394)

O INFANTE


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, I, p. 127)

03 fevereiro 2010

522 anos do desembarque de Bartolomeu Dias na Aguada de São Brás (Mossel Bay) após dobrar o Cabo das Tormentas, ou da Boa Esperança (1488)

O MOSTRENGO


O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, IV, pp. 133–135)

07 janeiro 2010

685 anos da morte de D. Dinis (1325)

D. DINIS


Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 93)

24 dezembro 2009

485 anos da morte de Vasco da Gama (1524)

ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA


Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.

Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, IX, p. 145)

12 outubro 2009

517 anos da chegada de Cristóvão Colombo às Américas (1492)

Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 286)



OS COLOMBOS


Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, VI, p. 139)

20 setembro 2009

490 anos do início da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1519)

FERNÃO DE MAGALHÃES


No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, VIII, p. 143)