27 fevereiro 2011

501 anos da conquista de Goa por Afonso de Albuquerque (1510)

A OUTRA ASA DO GRIFO:
AFONSO DE ALBUQUERQUE


De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte,
Tão poderoso que não quer o quanto
Pode, que o querer tanto
Calcara mais do que o submisso mundo
Sob o seu passo fundo.
Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.
Criou-os como quem desdenha.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, V, p. 121)

25 fevereiro 2011

156 anos do nascimento de Cesário Verde (1855)

Cesário, que conseguiu
Ver claro, ver simples, ver puro,
Ver o mundo nas suas caixas,
Ser um olhar com uma alma por trás, e que vida tão breve!
Criança alfacinha do Universo.
Bendita sejas com tudo quanto está à vista!
Enfeito, no meu coração, a Praça da Figueira para ti
E não há recanto que não veja para ti, nos recantos de seus recantos.

(Álvaro de Campos, Poesia, 122, p. 398)

23 fevereiro 2011

Iconografia pessoana

«Fernando Pessoa II»
Arte Fractal de Ademir Bacca

21 fevereiro 2011

163 anos do Manifesto do Partido Comunista (1848)

A aristocracia tem por norma a arte; a classe média tem por norma a vida social; o povo tem por norma a religião. Pela palavra religião entende-se a crença numa coisa absolutamente indemonstrável — e em geral impossível — que se crê ser a essência e o fim principal da vida. São religiões, não só as religiões assim chamadas, mas também as doutrinas radicais todas, e as crenças sinceras na igualdade humana, na justiça, na fraternidade, e em outros mitos igualmente vazios de realidade e de realização. Para que sejam religiões é preciso, porém, acreditar que são realizáveis. Desde que um homem use desses mitos para ganhar a vida, ou para intrujar o povo — como fazem grande número de chefes operários — deixa de ser da plebe, e passa a ser da classe superior. Faz muito bem.

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 63, pp. 85–86)

18 fevereiro 2011

Odiar e ser odiado

The lust of hate cannot equal the lust of being hated.

[ A volúpia do ódio não pode igualar-se à volúpia de ser odiado. ]

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 22; em inglês no original)

16 fevereiro 2011

Ciência, Religião e Moral

A ciência é a única força intelectual moderna — a única coisa capaz de se opor ao ensimesmamento cristão e romântico.

Curioso é que haja quem se lembre de propor a religião, a moral — factos sentimentais — como disciplinas. A disciplina é intelectual. A inteligência é a disciplina do indivíduo. Deve sê-lo da sociedade também.

(Ricardo Reis, Prosa, 71, p. 239)

14 fevereiro 2011

Dia dos Namorados

Quando puderes dizer o teu grande amor, deixa o teu grande amor de ser grande.

(Pantaleão, Aforismos e afins, p. 51)



Fotografia de Ofélia Queirós (1900–1991)


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 131)

12 fevereiro 2011

Ciência e Religião, vícios e virtudes

A ciência não curará muitos vícios, mas também não provoca nenhuns.

O homem normalmente justo, tranquilo e respeitador não será pela ciência tornado mais justo, tranquilo e respeitador, mas também o não será menos — a não ser que por ciência se vá entender qualquer dos dogmas metafísicos saídos dos laboratórios dos sábios desequilibrados, Büchners, Haeckels, Huxleys.*

[...]

A ciência, bem entendida, é essencialmente imparcial. A religião, mesmo bem entendida, é essencialmente parcial. Os erros dos homens de ciência nascem só da incompreensão da ciência. Os erros dos crentes podem nascer, e muitas vezes nascem, do simples facto de serem crentes, nascem, portanto, da compreensão da crença.

(Ricardo Reis, Prosa, 80, p. 251)


* Referência a Ludwig Büchner (1824–1899), Ernst Haeckel (1834–1919) e Thomas Henry Huxley (1825–1895).

11 fevereiro 2011

Dia Mundial do Doente

... e tudo é uma doença incurável.

A ociosidade de sentir, o desgosto de ter de não saber fazer nada, a incapacidade de agir, [...]

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 384, p. 346)

08 fevereiro 2011

Iconografia pessoana

«O mostrengo que está no fim do mar...»*
Pintura de Norberto Nunes


* (Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, IV, p. 133)

06 fevereiro 2011

403 anos do nascimento de Padre António Vieira (1608)

António Vieira é de facto o maior prosador — direi mais, é o maior artista — da língua portuguesa. É-o por isso porque o foi, e não porque se chamasse António. O comando da língua-mãe não vem por varonia de nomes próprios.

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, X, 2, p. 330)

04 fevereiro 2011

68 anos do nascimento de Alberto João Jardim (1943)

[...] é o perfeito tipo do salteador político. [...]
[...]
Que te há-de um português chamar, ó merecedor de termos, para que ainda não há nenhuns conceitos? [...]

(Fernando Pessoa, “Oligarquia das Bestas”, Da República (1910–1935), 72, pp. 175–176)

01 fevereiro 2011

103 anos do Regicídio de D. Carlos (1908)

[...] as grandes convicções valem exércitos. Com dois homens se fez o regicídio.

(Fernando Pessoa, “Petição a favor de William Shakespeare, traduzido”, Pessoa Inédito, 93, p. 221)

Pessoa, sempre — todos os dias: Fevereiro de 2011

Calendário pessoano: Fevereiro de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.