30 setembro 2012

Dia Internacional do Direito à Blasfémia*

De que maneira, por que processo reconheceremos o esteta, propriamente tal, na sua obra? Quais são os sinais necessários da aplicação do ideal estético? [...] Como distinguiremos o esteta do [...] revoltado, que procura o pecado só porque é pecado, e blasfema [...] só para ter a consciência da blasfémia? [...]

(Fernando Pessoa, “António Botto e o Ideal Estético em Portugal”, Crítica, p. 179)



* Dia que, desde 2009, celebra o direito à liberdade de expressão, incluindo à crítica e sátira religiosas. A data foi escolhida para coincidir com o aniversário da publicação, em 2005, de uma série de cartoons sobre Maomé num jornal dinamarquês, evento que, meses mais tarde, desencadearia forte polémica no mundo islâmico.

Dia Internacional da Tradução

[...] uma tradução é perfeita quando parece não ser uma tradução) [...]

(Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 177)

29 setembro 2012

29 anos da morte de Mário Botas (1983)

«Retrato de Fernando Pessoa»
Pintura de Mário Botas (1982)

27 setembro 2012

Dia Mundial do Turismo

A vida é uma viagem que uns fazem em caixeiros-viajantes, outros em navios em lua de mel, e outros, como eu, em tourists. Eu atravesso a vida para olhar para ela. Tudo é paisagem para mim, como para o bom tourist — campos, cidades, casas, fábricas, luzes, bares, mulheres, dores, alegrias, dúvidas, guerras []. Quero, para aproveitar a minha viagem, sentir o maior número de coisas no mais pequeno espaço de tempo possível. Sentir tudo de todas as maneiras, amar tudo de todas as formas, tocar e ver coisas e não lhes pegar, passar por elas e não olhar para trás — parece-me o único destino digno dum poeta.

(Álvaro de Campos, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 232)

26 setembro 2012

Dia Europeu das Línguas

A real man cannot be, with pleasure and profit, anything more than bilingual. One language, even if carefully codified in its rules and precisions, is difficult enough to hold and spread out; two are the human limit for any man who is not born to suicide as a philologist of the useless.

(Fernando Pessoa, “Babel — Or the Future of Speech”, Pessoa Inédito, 43, p. 154; em inglês no original)



[ Um verdadeiro homem só pode ser, com prazer e proveito, bilingue. Uma língua, ainda que minuciosamente codificada nas suas regras e normas, é bastante difícil de dominar e difundir; duas são o limite humano de qualquer homem que não nasceu para se suicidar como filólogo da inutilidade. ]

(idem, p. 155)

23 setembro 2012

73 anos da morte de Sigmund Freud (1939)

Ora, a meu ver (é sempre «a meu ver»), o Freudismo é um sistema imperfeito, estreito e utilíssimo. É imperfeito se julgamos que nos vai dar a chave, que nenhum sistema nos pode dar, da complexidade indefinida da alma humana. É estreito se julgamos, por ele, que tudo se reduz à sexualidade, pois nada se re­duz a uma coisa só, nem sequer na vida intra-atómica. É utilíssimo porque chamou a atenção dos psicólogos para três elementos importantíssimos na vida da alma, e portanto na interpretação dela: (1) o subconsciente e a nossa consequente qualidade de animais irracionais; (2) a sexualidade, cuja importância havia sido, por diversos motivos, diminuída ou desconhecida anteriormente; (3) o que poderei chamar, em linguagem minha, a translação, ou seja a conversão de certos elementos psíquicos (não só sexuais) em outros, por estorvo ou desvio dos originais, e a possibilidade de se determinar a existência de certas qualidades ou defeitos por meio de efeitos aparentemente irrelacionados com elas ou eles.

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 124, p. 251)

Iconografia pessoana

«Ai que prazer»*
Pintura de Norberto Nunes


* (Fernando Pessoa, “Liberdade”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 378)

22 setembro 2012

115 anos da morte de Antônio Vicente Mendes Maciel, vulgo Antônio Conselheiro, líder espiritual da revolta sertaneja de Canudos (1897)

À memória de Antônio Conselheiro, bandido, louco e santo, que, no sertão do Brasil, morreu, como um exemplo, com seus companheiros, sem se render, batendo-se todos, últimos Portugueses, pela esperança do Quinto Império e da vinda quando Deus quisesse, de El-Rei D. Sebastião, nosso Senhor, Imperador do Mundo.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 107, p. 235)

Dia Europeu sem Carros

Quando surgiu a indústria automobilista, foi preciso criar a classe dos chauffeurs; ninguém, a não ser um ou outro atropelado mais plebeu, se revoltaria decerto contra a imperícia inicial dos guiadores dos carros. Estavam aprendendo o ofício — o que é natural; e ganhando a sua vida — o que é respeitável. Depois ficaram sabendo da sua arte, e, embora a maioria continue guiando mal, o facto é que são chauffeurs definitivamente.

(Fernando Pessoa, “Crónica da Vida que Passa... VI”, Crítica, p. 120)

21 setembro 2012

Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Tudo que temos é esquecimento.

(Fernando Pessoa, “Primeiro Fausto”, Primeiro Tema — “O Mistério do Mundo”, VI, Ficção e Teatro, p. 170)



Nem eu mesmo me conheço,
E, se me conheço, esqueço,

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 165)

19 setembro 2012

125 anos do “nascimento” de Ricardo Reis (1887)

[...] pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, [...]

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, p. 340)

17 setembro 2012

74 anos da inauguração do Porto de Leixões (1938)

«Ode Marítima no Porto de Matosinhos»
Fotografia de Adelaide Almeida


(Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, pp. 119 e 107)

14 setembro 2012

691 anos da morte de Dante Alighieri (1321)

Epics fundamentally dealing with religion can attain a full splendour only when that religion ceases to be of importance (loses its own importance). We delight in Athene because we are (perhaps precipitately) convinced that she did not exist. Paradise Lost is different. No one believes in Adam and Eve, but there are matters of controversy about the Trinity.

Dante has stood greatness better, for in the Protestant countries he is mere fable, and in the Catholic countries there is no religion.


(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 38, p. 211;
em inglês no original)



[ As epopeias que se prendem fundamentalmente com a religião só podem atingir pleno esplendor quando essa religião deixa de ser importante (perde a sua própria importância). Deleitamo-nos em Atena por (talvez precipitadamente) estarmos convencidos de que ela não existiu. O Paraíso Perdido é diferente. Ninguém acredita em Adão e Eva, mas existem pontos controversos acerca da Trindade.

Dante resistiu melhor à grandeza, pois nos países protestantes é mera fábula, e nos países católicos não há religião. ]


(idem, p. 260; trad. Jorge Rosa)

11 setembro 2012

Dia Nacional da Catalunha

Dos problemas que hoje agitam e perturbam a indisciplinada vida da Europa, o problema do separatismo catalão é talvez o que mais flagrantemente foca o conflito fundamental que se trava hoje no mundo, e, portanto, aquele que mais curiosos ensinamentos contém.

No pleito, que o Destino faz que se digladie entre a Espanha e a Catalunha, há o facto essencial de todos os dramas. Como em todos os dramas, um momento criado pelo Destino, mas segundo inevitáveis resultados de um passado surdamente se acumulou, faz entrar em conflito forças e ideias que é absurdo que entrem em conflito, que é doloroso que se encontrem em guerra Como em todos os dramas, não há solução satisfatória para problema, porque a única arbitragem certa, e por isso injusta, é a do Destino. E como em todos os dramas, ambas as partes têm igual razão.


O conflito entre a Catalunha e a Espanha é o conflito entre o conceito nacional de país, e o conceito civilizacional de país. Um conceito é geográfico, supõe-se ser étnico, e afirma-se como linguístico. O outro conceito é histórico, supõe-se ser imperialista e afirma-se como cultural.

Do ponto de vista nacional, e exclusivamente nacional, a Catalunha é uma nação, um país, com índole própria, tendências especiais, com um idioma à parte, que as define, e uma aspiração, que as deseja.

(Fernando Pessoa, “Catalunha”, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 19, pp. 183–184)

121 anos do suicídio de Antero de Quental (1891)

Um grande artista (literário) nota-se aplicando-lhe a seguinte pergunta crítica: tem paixão ou imaginação ou pensamento? [...] Os sonetos de Antero têm sempre pensamento, às vezes imaginação, paixão nunca [...].

(Fernando Pessoa, “Estética”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 6, p. 122)

09 setembro 2012

Iconografia pessoana

«Heteronímias»
Pintura de Victor Alexandre

08 setembro 2012

O «cidadão e pai» Pedro Passos Coelho diz aos «amigos» contribuintes o quanto lhe custou anunciar mais medidas de austeridade

Cuidado com as lágrimas, quando são estadistas os que as choram.

(Fernando Pessoa, “O Segredo de Roma”, Pessoa Inédito, 266, p. 422)

06 setembro 2012

51 anos da concessão da plena cidadania portuguesa a todos os habitantes das colónias, com a abolição do Estatuto dos Indígenas Portugueses (1961)

Há três imperialismos: de domínio, de expansão e de cultura.
[...]

IMPERIALISMO DE CULTURA
[...]
(3) O que procura dominar ou colonizar para civilizar ou modificar as raças indígenas, sejam inferiores, decadentes ou apenas menos civilizadas.
[...]

(Fernando Pessoa, “Império”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 74, pp. 221–222)

05 setembro 2012

157 anos da morte de Auguste Comte (1857)

[...] o infeliz chamado Augusto Comte, toda a vida sofreu de alienação mental.

(Fernando Pessoa, “O Preconceito da Ordem”, Da República (1910–1935), 89, p. 220)

03 setembro 2012

253 anos da ordem de expulsão dos Jesuítas de Portugal (1759)

Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 280)

01 setembro 2012

Pessoa, sempre — todos os dias: Setembro de 2012

Calendário pessoano: Setembro de 2012

Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.