Quando surgiu a indústria automobilista, foi preciso criar a classe dos
chauffeurs; ninguém, a não ser um ou outro atropelado mais plebeu, se revoltaria decerto contra a imperícia inicial dos guiadores dos carros. Estavam aprendendo o ofício — o que é natural; e ganhando a sua vida — o que é respeitável. Depois ficaram sabendo da sua arte, e, embora a maioria continue guiando mal, o facto é que são
chauffeurs definitivamente.
(Fernando Pessoa, “Crónica da Vida que Passa... VI”, Crítica, p. 120)