Destruiu mal porque destruiu pouco. Destruir a Monarquia não é só tirar o Rei: é também, é sobretudo substituir os tipos de mentalidade governantes por outros tipos de mentalidade. [...]
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 98, p. 243)
A República Velha nada alterou das tradições desonrosas da Monarquia. Mudou apenas a maneira de cometer os erros; os erros continuaram sendo os mesmos. Em vez de um regime católico, um regime anticatólico, isto é, um regime que logo arregimentava como inimigos os católicos. Em vez de uma República portuguesa, de um regime nacional, uma república francesa em Portugal. E assim como a Monarquia Constitucional havia sido um sistema inglês (ou anglo-francês) sobreposto à realidade da Pátria Portuguesa, a República Velha foi um sistema francês sobreposto à mesma realidade pátria. No que respeita aos erros de administração — a incompetência, a imoralidade, o caciquismo — ficámos na mesma, mudando apenas os homens que faziam asneiras, que praticavam roubos e que escamoteavam “eleições”. De sorte que a República Velha era a Monarquia sem Rei. [...]
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 101, p. 249)