De volta ao Norte...

ALENTEJO SEEN FROM THE TRAIN

Nothing with nothing around it
And a few trees in between
None of which very clearly green,
Where no river or flower pays a visit.
If there be a hell, I’ve found it,
For if ain’t here, where the Devil is it?

(Fernando Pessoa, Poesia Inglesa II, 2, p. 12)

[ ALENTEJO VISTO DO COMBOIO

Nada com nada à volta
E umas poucas árvores pelo meio,
Nenhuma delas claramente verde,
Onde nenhum rio ou flor dão o ar da sua graça.
Se por acaso existe um inferno, encontrei-o,
Pois, se não aqui, onde Diabo estará? ]

(tradução nossa)

Amanhã regresso de férias...

Tenho que arrumar a mala de ser.

(Álvaro de Campos, Poesia, 140, p. 428)

Iconografia pessoana

Ilustração de Pedro Sousa Pereira para a edição de Mensagem pela Oficina do Livro (2006)

111 anos da morte de Friedrich Nietzsche (1900)

— Deus, Deus, Deus? disse o anarquista. Há séculos que Deus morreu; mas tem levado tanto tempo a fazer-lhe o caixão que já infesta o ar de seu apodrecimento.

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 68)

Dia Europeu de Recordação da Vítimas dos Regimes Totalitários e Autoritários

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 380)

Iconografia pessoana

«Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou»*
Pintura de Norberto Nunes

* (Álvaro de Campos, Poesia, 149, p. 441)

108 anos da criação dos Prémios Pulitzer (1903)

[...] O contrário foi uma mixórdia da nossa desqualificada imprensa periódica [...]

(Fernando Pessoa, “O Sentido do Sidonismo”, Da República (1910–1935), 103, p. 252)

578 anos da morte de D. João I (1433)

D. JOÃO, O PRIMEIRO

O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.

Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 95)

184 anos da morte de William Blake (1827)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.

(Álvaro de Campos, Poesia, 101, p. 367)

838 anos do início da construção da Torre de Pisa (1173)

Aguarela de Hermenegildo Sábat
(Fonte: Público)

217 anos do último auto-de-fé em Lisboa (1794)

O que hoje prepondera em todo o mundo é o ódio à Inteligência.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego (Presença), vol. I, p. 230)

1 ano do acidente na mina de Copiapó, Chile (2010)

Eh-lá desabamentos de galerias de minas!

(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 88)

Panaceias e ilusões

O catolicismo é uma religião da panaceia, como o ateísmo ou o livre pensamento é uma ilusão da farmácia.

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 30)

Pessoa, sempre — todos os dias: Agosto de 2011

Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.