28 fevereiro 2012

Tipografia pessoana

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço.
Tipografia de Catarina de Sousa

(Ricardo Reis, Poesia, II, 5, p. 34)

26 fevereiro 2012

84.ª Cerimónia dos Prémios da Academia (“Óscares”)

Não sei se serei eu, se o Álvaro de Campos, se ambos, quem terá opiniões sobre o cinema. Alguma receberá — pode contar com isso.

(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 70, p. 160)

25 fevereiro 2012

157 anos do nascimento de Cesário Verde (1855)

Fernando Pessoa e Cesário Verde
Desenho de H. Mourato

23 fevereiro 2012

191 anos da morte de John Keats (1821)

Keats is a poet of a higher type than Shakespeare, yet Keats was not greater than Shakespeare. Keats was a creator; Shakespeare was only an interpreter. But Keats ranks relatively low in the ranks of the creators; whereas Shakespeare ranks very high — he ranks first, I believe — in the number of interpreters.

(Fernando Pessoa, “Impermanence”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 45, p. 273; em inglês no original)




[ Keats é um poeta de tipo superior ao de Shakespeare; no entanto, não o superou. Keats era criador; Shakespeare era apenas um intérprete. Mas Keats tem um lugar relativamente baixo entre os criadores; enquanto que Shakespeare tem um lugar muito alto — o primeiro, creio, entre os intérpretes. ]

(idem, p. 274; trad. Jorge Rosa)

21 fevereiro 2012

335 anos da morte de Baruch Espinosa (1677)

[...] Spinoza said that philosophical systems are right in what they affirm and wrong in what they deny. This [is] the greatest of all pantheistic affirmations [...]

(Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 204; em inglês no original)




[ [...] Espinosa disse que os sistemas filosóficos estão certos naquilo que afirmam e errados naquilo que negam. Esta [é] a maior de todas as afirmações panteístas [...] ]

(tradução nossa)

20 fevereiro 2012

Iconografia pessoana

Pintura de João Beja

19 fevereiro 2012

539 anos do nascimento de Nicolau Copérnico (1473)

[...] Nem nos vale o valermo-nos do argumento (que o não é senão para os mistificadores que inventaram a democracia) [que] daria como falsa a ideia de que a terra gira à roda do sol, quando a não tinha senão Copérnico, e a humanidade em geral tinha a contrária. [...]

(Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, vol. II, p. 246)

17 fevereiro 2012

412 anos da execução de Giordano Bruno na fogueira da Inquisição romana (1600)

[...] poderíamos, lembrados da Inquisição e das guerras religiosas, descrever o Cristianismo como a religião da crueldade e do sangue [...]

(António Mora, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 292)

15 fevereiro 2012

«S&P baixa nota de sete bancos portugueses» (Público)

Reconhecendo as Sociedades Anónimas que a melhor forma de chamar o capital é a distribuição ruidosa de grandes dividendos, procuram frequentemente, por meio de lançamentos artificiais, encobrir um estado verdadeiro de pouco desafogo; publicam, para dar uma aparência de prosperidade, relatórios de prosa literária no fim dos quais os accionistas são definitivamente ludibriados pela confiança que lhe traz o inevitável “parecer” do Conselho Fiscal, com o costumado voto de louvor à Direcção, e a indicação aos accionistas que aprovem o Relatório de contas e a distribuição de dividendos que ele consigna.

Os accionistas aprovam tudo — umas vezes porque o dividendo é magnífico, outras porque simplesmente confiam na indicação que lhes é dada. E a Direcção e o Conselho Fiscal recebem os respectivos louvores. São homens hábeis, uns; são homens sérios, outros. Tudo está, pois, necessariamente certo.

Acontece, porém, que muitas vezes está errado. E é isso que os relatórios recentemente publicados põem em evidência.

(Fernando Pessoa, Páginas de Pensamento Político, vol. II, 127)

14 fevereiro 2012

Dia dos Namorados

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.

(Alberto Caeiro, “O Pastor Amoroso, IV”, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 106)



«Ricardo Reis»
José de Guimarães (1985)

13 fevereiro 2012

Piegas... ou «Quem não chora, não mama»?

Lacrimejância inútil, pieguice humana dos nervos,

(Álvaro de Campos, Poesia, 112, p. 182)

11 fevereiro 2012

362 anos da morte de René Descartes (1650)

[...] Não podemos pensar como Descartes, pois nos arriscamos ao tédio alheio.

(Fernando Pessoa, “Ortografia”, Pessoa Inédito, 114, p. 243)

09 fevereiro 2012

131 anos da morte de Fiódor Dostoiévski (1881)

Tudo mais é estúpido como um Dostoievski ou um Gorki.

(Álvaro de Campos, Poesia, 64, p. 298)



* 28 de janeiro, segundo o calendário juliano, então em uso na Rússia.

07 fevereiro 2012

Iconografia pessoana

Fernando Pessoa com 17 anos (1905)


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 49)

04 fevereiro 2012

Aos que teimam em queixar-se do frio...

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o inverno da minha pessoa e da minha vida?
O inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do verão
E o frio da terra no cimo do inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.

(Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”, 49, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 139)

03 fevereiro 2012

«Tempo frio com céu pouco nublado ou limpo. […] Acentuado arrefecimento noturno com formação de geada, que será geada negra nas regiões do interior.»

POEMA PIAL


Toda a gente que tem as mãos frias
Deve metê-las dentro das pias.

Pia número UM,
Para quem mexe as orelhas em jejum.

Pia número DOIS,
Para quem bebe bifes de bois.

Pia número TRÊS,
Para quem espirra só meia vez.

Pia número QUATRO,
Para quem manda as ventas ao teatro.

Pia número CINCO,
Para quem come a chave do trinco.

Pia número SEIS,
Para quem se penteia com bolos-reis.

Pia número SETE,
Para quem canta até que o telhado se derrete.

Pia número OITO,
Para quem parte nozes quando é afoito.

Pia número NOVE,
Para quem se parece com uma couve.

Pia número DEZ,
Para quem cola selos nas unhas dos pés.

E, como as mãos já não estão frias,
Tampa nas pias!

(Fernando Pessoa, O Melhor do Mundo São as Crianças, pp. 21–22)

Dia de “São” Brás

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

(Fernando Pessoa, Poesia (1918–1930), p. 223)


(Homenagem às tradições populares vila-realenses.)

01 fevereiro 2012

104 anos do Regicídio de D. Carlos (1908)

[...] Abre-se um jornal monárquico, colhe-se uma referência à triste figura nacional que foi El-Rei D. Carlos, cujo reinado denotou o báratro da decadência, do desleixo, e da dessídia; e em que termos se referem esses jornais ao Senhor D. Carlos? Em termos que quem não visse o nome por certo julgaria destinados a referir-se a El-Rei D. João II. [...]

(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 9, p. 90)

Pessoa, sempre — todos os dias: Fevereiro de 2012

Calendário pessoano: Fevereiro de 2012
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.