(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 295, p. 281)
31 outubro 2009
Dia Mundial da Poupança
O dinheiro é belo, porque é uma libertação.
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29 outubro 2009
Iconografia pessoana
Fernando Pessoa no “Martinho da Arcada”, com Costa Brochado
(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, pp. 6–7)
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28 outubro 2009
87 anos da “Marcha sobre Roma” do Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini (1922)
O problema apresentado pelo fascismo é muito simples, e, na sua essência, não nos é, a nós portugueses, desconhecido. O povo italiano — que é de supor que o seja, e não fascista nem comunista — recebeu há anos, do lado direito da cara, a bofetada do comunismo. O fascismo, para o endireitar, deu-lhe uma bofetada, um pouco mais forte, do lado esquerdo. Não sabemos, nem temos meio de saber, se o povo italiano aprecia mais o ter ficado direito, ou neo-torto, ou as desvantagens faciais do processo empregado. E resta sempre saber, nesta matéria — como cada nova bofetada é sempre mais forte que a anterior, para poder endireitar —, em que altura é que pára a terapêutica equilibradora, e em que estado fica o equilibrado quando o Destino, por fim, se cansa do tratamento.
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 114, pp. 357–358)
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26 outubro 2009
Governo
A encenação dos incompetentes é a mais cruel das ironias dos deuses.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 50, p. 263)
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23 outubro 2009
23 Out 4004 AC, 9 da manhã em ponto: instante preciso da criação do Mundo por Deus, segundo James Ussher (1581–1656)
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
«Se é ele que as criou, do que duvido» —.
Das coisas que criou —
«Se é ele que as criou, do que duvido» —.
(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, VIII”,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 55)
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 55)
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20 outubro 2009
Razão e Fé
Os místicos, os esotéricos, e outra gente assim, têm sido sempre, notavelmente, falhos de lucidez, de grandeza intelectual e de espírito compreensivo e claro. [...]
O Raciocínio é anti-divino por natureza. Por isso devemos amar e cultivar o Raciocínio.
O Raciocínio é anti-divino por natureza. Por isso devemos amar e cultivar o Raciocínio.
(Alberto Caeiro, Pessoa por Conhecer, vol. II, 326, p. 363)
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19 outubro 2009
18 outubro 2009
Movimento Perpétuo Associativo
Tantos nobres ideais caídos entre o estrume, tantas ânsias verdadeiras extraviadas entre o enxurro!
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 273, p. 265)
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15 outubro 2009
Assembleia da República
[...] estalagem onde riem os parvos felizes [...]
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 200, p. 206)
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13 outubro 2009
“Milagre do Sol”
Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida? Por serem vários? Mas há alucinações colectivas.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 256, p. 252)
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Fátima ou Lenine, tanto dá
O ódio à ciência, às leis naturais, é o que caracteriza a mentalidade popular. O milagre é o que o povo quer, é o que o povo compreende. Que o faça Nossa Senhora de Lourdes ou de Fátima, ou que o faça Lenine — nisso só está a diferença.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 375)
119 anos do “nascimento” de Álvaro de Campos (1890)
Álvaro de Campos (Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa; pormenor)
Painel gravado de José de Almada Negreiros (1961)
da Universidade de Lisboa; pormenor)
Painel gravado de José de Almada Negreiros (1961)
12 outubro 2009
517 anos da chegada de Cristóvão Colombo às Américas (1492)
Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 286)
OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, VI, p. 139)
10 outubro 2009
Dia Mundial da Saúde Mental
O pensamento é enterrado vivo
No mundo e ali sufoca.
No mundo e ali sufoca.
(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, p. 21)
09 outubro 2009
08 outubro 2009
Prémio Nobel da Literatura
O triunfo supremo de um artista é quando ao ler suas obras o leitor prefere tê-las e não as ler.
(Bernardo Soares, “Máximas”, Livro do Desassossego, p. 450)
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07 outubro 2009
60 anos da fundação da República Democrática Alemã (1949)
As cortinas das janelas impediam ver para fora, uma porém [] dum lado mostrava ao longe o azul muito azul do céu, muito azul, muito longe, muito azul, muito de um azul liso, puro e perfeito.
(Marco Alves, Pessoa por Conhecer, vol. II, 25h, p. 43)
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438 anos da Batalha de Lepanto (1571)
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
Homens do mar actual! homens do mar passado!
Comissários de bordo! escravos das galés! combatentes de Lepanto!
Homens do mar actual! homens do mar passado!
Comissários de bordo! escravos das galés! combatentes de Lepanto!
(Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, p. 118)
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05 outubro 2009
99 anos da implantação da República (1910)
Propriamente falando, eu não combato a monarquia; combato a monarquia portuguesa. [...] A monarquia portuguesa aí está! Basta olhar para ela. Não há melhor argumento.
(Pantaleão, Pessoa por Conhecer, vol. II, 160, p. 211)
03 outubro 2009
Ironia: modo de usar
Pela primeira vez na minha vida fabriquei uma bomba. Cerquei o seu dinamite de verdade com um invólucro de raciocínio; pus-lhe um rastilho de humorismo.
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 150, p. 419)
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01 outubro 2009
60 anos da fundação da República Popular da China (1949)
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade ou mentira de todas as religiões, de todas as filosofias, de todas as hipóteses inutilmente verificáveis a que chamamos ciências. Tão-pouco nos preocupará o destino da chamada humanidade, ou o que sofra ou não sofra em seu conjunto. Caridade, sim, para com o «próximo» como no Evangelho se diz, e não com o homem, de que nele se não fala. E todos, até certo ponto assim somos: que nos pesa, ao melhor de nós, um massacre na China? Mais nos dói, ao que de nós mais imagine, a bofetada injusta que vimos dar na rua a uma criança.
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[...] senti sempre os movimentos humanos — as grandes tragédias colectivas da história ou do que dela fazem — como frisos coloridos, vazios da alma dos que passam neles. Nunca me pesou o que de trágico se passasse na China. É decoração longínqua, ainda que a sangue e peste.
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[...] senti sempre os movimentos humanos — as grandes tragédias colectivas da história ou do que dela fazem — como frisos coloridos, vazios da alma dos que passam neles. Nunca me pesou o que de trágico se passasse na China. É decoração longínqua, ainda que a sangue e peste.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 447, p. 394 & 165, p. 178)
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Mentira,
Opressão,
Religião,
Revolução/Revolta,
Tragédia,
Verdade
Dia Mundial da Música
A música, sim, a música...
Piano banal do outro andar...
A música em todo o caso, a música...
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda criatura humana,
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor...
A música... Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal...
Mas é música...
Ah, quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas!
A música...
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música...
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música...!
Piano banal do outro andar...
A música em todo o caso, a música...
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda criatura humana,
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor...
A música... Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal...
Mas é música...
Ah, quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas!
A música...
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música...
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música...!
(Álvaro de Campos, Poesia, 192, p. 501)
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