Em arte tudo é lícito, desde que seja superior. Não é permitido ao homem vulgar ser antipatriota, porque não tem mentalidade acima da espécie, e a não pode ter pois acima da espécie imediata, que é a nação a que pertence. Ao génio é permitido. Sucede, por ironia, que os grandes génios são em geral conformes com os sentimentos normais: Shakespeare era intensamente, até excessivamente, patriota.
Um génio antipatriota é um fenómeno, não direi vulgar, mas aceitável. Um operário antipatriota é simplesmente uma besta.
(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 11, p. 130)