(Fernando Pessoa, “Naufrágio de Bartolomeu”, Crítica, p. 78)
02 abril 2010
Dia Internacional do Livro Infantil
Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças. Escrever de coisas simples com simplicidade é quanto se exige daquela espécie de adido à pedagogia que o Sr. Lopes Vieira quer ser. Assim, João de Deus não escreveu a Enjeitadinha senão com o escrúpulo de ser simples. E porque o assunto era também simples, as crianças compreendem-no. Se quisesse ser infantil, acontecia-lhe isto — seria infantil. O sr. Lopes Vieira quer escrever para crianças mediante intuição da alma infantil, como uma criança, escrevendo para crianças. Mesmo que se saísse bem disto, não se saía bem disto. Porque as crianças não escrevem. Escrever como uma criança, é tolerável sendo criança, porque o ser criança o torna tolerável. Mas o que uma criança escreve, ou não se publica, ou se publica para adultos, psicólogos. E que interesse tem para crianças esta baba pedagógica? [...]
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