29 maio 2010

510 anos da morte de Bartolomeu Dias (1500)

EPITÁFIO DE BARTOLOMEU DIAS


Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, V, p. 137)

28 maio 2010

84 anos da Revolução de 28 de Maio de 1926

Vindos [os republicanos] ao poder, e posta em prática a sua pseudo-reforma, viu logo o país que a abolição da Monarquia não tinha abolido a política monárquica, porque a imoralidade e o caciquismo continuaram. Era a adaptação dos recém-vindos ao meio governativo. Em um país imoral não se pode governar senão imoralmente. É de ordem biológica a razão. [...]

E vendo isto, o país, que é estúpido, virou-se contra os homens da República. É que o país tem a mentalidade dos idiotas e queria milagres. Supunham os portugueses que uma revolução traz benefícios; e supunham bem; mas supunham que os traz logo no dia seguinte [...]. Aquelas mentalidades ainda estavam no milagre. Incapazes de pensar cientificamente, não meditaram que o que se segue a uma revolução é a anarquia, anarquia tão profunda quanto o foi a tirania que a precedeu, e contra a qual reagiu essa revolução; e que só depois de ter passado o período anárquico da revolução é que lentamente chega o período das reformas, para o qual, afinal, a revolução foi instintivamente feita. [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 98, p. 245)

26 maio 2010

Iconografia pessoana

Ilustração de Pedro Sousa Pereira para a edição de Mensagem pela Oficina do Livro (2006)

25 maio 2010

590 anos da nomeação do Infante D. Henrique (“o Navegador”) como Grão-Mestre da Ordem de Cristo (1420)

A CABEÇA DO GRIFO:
O INFANTE D. HENRIQUE


Em seu trono entre o brilho das esferas,
Com seu manto de noite e solidão,
Tem aos pés o mar novo e as mortas eras —
O único imperador que tem, deveras,
O globo mundo em sua mão.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, V, p. 117)

22 maio 2010

197 anos do nascimento de Richard Wagner (1813)

Os românticos tentaram juntar. Os interseccionistas procuram fundir. Wagner queria música + pintura + poesia. Nós queremos música x pintura x poesia.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 134, p. 260)

20 maio 2010

1685 anos do início do I Concílio de Niceia, que adoptaria os primeiros dogmas do Cristianismo (325 DC)

Princípios absolutos, e por isso falsos; ridículos e por isso inestéticos

(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 55)

18 maio 2010

Início das festividades de Pã, na Grécia Antiga

O deus Pã não morreu,
Cada campo que mostra
Aos sorrisos de Apolo
Os peitos nus de Ceres —
Cedo ou tarde vereis
Por lá aparecer
O deus Pã, o imortal.

Não matou outros deuses
O triste deus cristão.
Cristo é um deus a mais,
Talvez um que faltava.

Pã continua a dar
Os sons da sua flauta
Aos ouvidos de Ceres
Recumbente nos campos.

Os deuses são os mesmos,
Sempre claros e calmos,
Cheios de eternidade
E desprezo por nós,
Trazendo o dia e a noite
E as colheitas douradas
Sem ser para nos dar
O dia e a noite e o trigo
Mas por outro e divino
Propósito casual.

(Ricardo Reis, Poesia, II, 2, pp. 29–30)

16 maio 2010

Iconografia pessoana

Ilustração de João Pestana

14 maio 2010

62 anos da Fundação do Estado de Israel (1948)

Os judeus têm ganha a primeira batalha;

(Álvaro de Campos, “Entrevista a Álvaro de Campos”, Prosa Publicada em Vida, p. 346)

13 maio 2010

93 anos da primeira “aparição” de Fátima (1917)

Fátima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes... eu bebia aguardente.

Um momento... Não é nada disso... Fui levado pela emoção mais que pelo pensamento, e é com o pensamento que desejo escrever.

Fátima é o nome de um lugar da província, não sei onde ao certo, perto de um outro lugar do qual tenho a mesma ignorância geográfica mas que se chama Cova de qualquer santa. Nesse lugar — em um ou no outro — ou perto de qualquer deles, ou de ambos, viram um dia umas crianças aparecer Nossa Senhora, o que é, como toda a gente sabe, um dos privilégios infinitos a que se não parte a corda. Assim diz a voz do povo da província e A Voz sem povo de Lisboa. Deve portanto ser verdade, visto que é sabido que a voz das aldeias e A Voz da cidade de há muito substituíram aquelas velharias democráticas que se chamam, ou chamavam, a demonstração científica e o pensamento raciocinado. Depois de terem passado os últimos rastros do a que o sr. Léon Daudet chamou «o estúpido século dezanove» — embora seu pai houvesse florescido e o mesmo Léon nascido em plena estupidez —, as normas do pensamento e da verificação voltaram à sua normalidade medieval; e assim como passou a haver «liberdades» em vez de «liberdade», assim também passou a haver crenças em vez de crença, fés em vez de fé, e vários outros plurais ainda mais singulares.

O deplorável facto de que uma menina chamada Bernadette Soubirous se antecipara — e no estúpido etc! — a esta notável visão do celestial terrestrizado, despe-nos um pouco o manto, e um pouco nos entorta a coroa, da novidade. Enfim sempre era mesmo de uma Nossa Senhora geograficamente (e cronologicamente) diferente. Já o Chevalier de Cailly perguntava, no século ante-estúpido (o dezoito), dado que sempre que escrevia qualquer coisa, descobria que a Antiguidade a já havia dito, por que não teria essa tal Antiguidade vindo depois dele, pois então teria ele escrito primeiro.

Seja como for, o facto é que há em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas, a preços mais em conta; há peregrinações que dispensam o comboio (criação do estúpido etc!), e quando, de vez em quando essa reminiscência da Idade Média — a camionete — se volta e alguém morre, há sempre o Diabo a quem acusar — diabolis ex machina —, quando se não queira, por um critério mais objectivo e científico (vide Alfredo Pimenta) reconhecer verdadeiros culpados a magos e bruxos que, como toda a gente sabe, formam o grosso da Maçonaria e da Associação do Registo Civil.

O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto êxtase místico da parte de hotéis, estalagens e outro comércio desses jeitos — o que, aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo — não vão eles lembrar-se de o seguir! Com efeito diz-se no Evangelho [de Mateus 6:31–33], cuidando-se de bens materiais, «Buscai-vos o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas».

É certo que quem vai a Fátima não vai lá buscar o Reino de Deus, mas o da Nossa Senhora da região — aquela em que está aberto vinho novo. Deus, como se sabe, foi já substituído, sendo o Céu agora governado em regime soviético. Nossa Senhora — a de Lourdes e (ou) a de Fátima — é (place aux femmes!) Comissária do Povo da Saúde Pública. Daí as curas na policlínica da Cova da Iria.

(Fernando Pessoa, “Fátima”, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, pp. 274–277)

11 maio 2010

Visita do Papa Bento XVI a Portugal

O que a Igreja de Roma pensa ou deixa de pensar não interessa ao Estado português, pois que está ainda em vigor a Lei de Separação, e as bulas ou encíclicas do Papa não são leis do País.

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 135, p. 409)

07 maio 2010

70 anos da Concordata entre o Estado Novo e a Santa Sé (1940)

E a fé dos nossos maiores?
Forma-a, impoluta, o consórcio
Entre os padres e os doutores.
Casados o Erro e a Fraude,
Já não pode haver divórcio.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 411)

06 maio 2010

154 anos do nascimento de Sigmund Freud (1856)

[...] A psiquiatria nota, com efeito, que a desagregação psíquica é quase sempre acompanhada pelo desvio sexual. Quase sempre? A mais recente das teorias psiquiátricas diz que sempre. Freud e os seus discípulos, através da «psicanálise», afirmam a origem sexual de todas as psicoses. Justa ou não esta doutrina extrema, o certo é que a sexualidade domina os factos psíquicos tanto, se não mais, que os físicos; e que a sua importância notavelmente se vê quando se analisam as manifestações mentais de um louco ou de um degenerado.

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, V, 2, pp. 91–92)

04 maio 2010

Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC)

A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

(Álvaro de Campos, “Pecado Original”, Poesia, 180, p. 483)

01 maio 2010

Pessoa, sempre — todos os dias: Maio de 2010

Calendário pessoano do mês de Maio de 2010
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.