(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 58, p. 286)
30 julho 2010
112 anos da morte de Otto von Bismarck (1898)
Os estadistas de primeira ordem, como Bismarck ou Cromwell, governaram sempre contra a opinião pública. Os estadistas de segunda ordem, como Napoleão, governaram sempre com ela.
28 julho 2010
27 julho 2010
40 anos da morte de Salazar (1970)
Salazar
Um cadáver emotivo, artificialmente galvanizado por uma propaganda...
Duas qualidades lhe faltam — a imaginação e o entusiasmo. Para ele o país não é a gente que nele vive, mas a estatística dessa gente.
Soma, e não segue.
Um cadáver emotivo, artificialmente galvanizado por uma propaganda...
Duas qualidades lhe faltam — a imaginação e o entusiasmo. Para ele o país não é a gente que nele vive, mas a estatística dessa gente.
Soma, e não segue.
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 221, p. 365)
25 julho 2010
Proxeneta
Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros
(Álvaro de Campos, Poesia, 106, p. 373)
22 julho 2010
19 julho 2010
595 anos da morte de D. Filipa de Lencastre (1415)
D. FILIPA DE LENCASTRE
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Graal,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!
(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 97)
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18 julho 2010
Igreja Católica atribui a mesma gravidade à pedofilia e à ordenação de mulheres como padres
Maldita seja em toda a parte
A Igreja Católica
Maldita seja, com arte ou sem arte,
A Igreja Católica
E quando alguém por apanhar ar
Tiver uma cólica
E sinta preciso aliviar
Lembre-se sempre de bem cagar
Para a Igreja Católica.
Maldita seja, de rabo à vela,
A Igreja Católica
De toda retrete que seja capela
A Igreja Católica
Há só duas coisas a fazer para aquela
Igreja Católica
Cagar p’ra ela e mijar p’ra ela
Para a Igreja Católica.
Caguemos pois e tudo junto
Para a Igreja Católica
Até que o caso dê assunto
À Igreja Católica
Cagar também, também por cólica
Então ver-se-á e será ouvido
O que tem comido, e o que tem bebido,
O que tem sorvido e engolido
A Igreja Católica.
Notícia relacionada:
«Ordenamento de mulheres é crime a par da pedofilia para o Vaticano» (Público, 16/07/2010)
A Igreja Católica
Maldita seja, com arte ou sem arte,
A Igreja Católica
E quando alguém por apanhar ar
Tiver uma cólica
E sinta preciso aliviar
Lembre-se sempre de bem cagar
Para a Igreja Católica.
Maldita seja, de rabo à vela,
A Igreja Católica
De toda retrete que seja capela
A Igreja Católica
Há só duas coisas a fazer para aquela
Igreja Católica
Cagar p’ra ela e mijar p’ra ela
Para a Igreja Católica.
Caguemos pois e tudo junto
Para a Igreja Católica
Até que o caso dê assunto
À Igreja Católica
Cagar também, também por cólica
Então ver-se-á e será ouvido
O que tem comido, e o que tem bebido,
O que tem sorvido e engolido
A Igreja Católica.
(Joaquim Moura Costa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 177, pp. 221–222.)
Notícia relacionada:
«Ordenamento de mulheres é crime a par da pedofilia para o Vaticano» (Público, 16/07/2010)
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16 julho 2010
16 Jul. 622: Fuga de Maomé de Meca para Medina (Hégira, início do Calendário Islâmico)
[...] dada a ingenuidade da sua visão, era natural que caísse[] no erro egocêntrico comum a todos os profetas que profetizam com intenção.
(Fernando Pessoa, “Bandarra”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 41, p. 147)
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Religião
Profecias
A existência do dom de profecia é afirmada por muitos e negada por muitos. Na maioria dos casos, ou a linguagem profética é tão obscura que dela se pode fazer aplicação a qualquer facto, ou a abundância de pormenores é tão grande que dificilmente se encontrará um facto a que um ou outro dos pormenores se não possa ajustar. De sorte que o problema fundamental fica na mesma. Os que afirmam a existência do dom profético apontam o facto justificativo; os que lhe negam a existência apontam que qualquer facto, ainda que fosse contrário do que se deu, serviria igualmente, e portanto com igual inutilidade, de justificação.
(Fernando Pessoa, Crítica, p. 530)
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Religião
14 julho 2010
221 anos da Revolução Francesa (1789)
Nenhuma nação se pode transformar senão em várias gerações. As revoluções nada transformam, apenas trazem a transformação. A Revolução Francesa atrasou o povo francês perto de cinquenta anos; o seu único produto visível mais próximo foi (curiosa ironia) meramente literário, e, ainda assim, o romantismo francês, primeira obra positiva da Revolução, surgiu, antes de mais nada e apesar de sofrendo da indisciplina mental que essa revolução causou, como reacção contra essa Revolução.
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 11, pp. 113–114)
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11 julho 2010
08 julho 2010
8 Jul. 1099: 15 000 Cruzados marcham em procissão em redor de Jerusalém para obter ajuda divina na conquista da cidade.
Apossar-te-ás do Império; dominarás em todo o Orbe e os muros de Jerusalém cairão debaixo dos teus ceptros.
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 31, p. 141)
05 julho 2010
05 de Julho de 1932: Salazar, o “Ditador da Finanças”, assume a chefia do Governo
O Prof. Salazar tem, em altíssimo grau, as qualidades secundárias da inteligência e da vontade. É o tipo do perfeito executor das ordens de quem tenha as primárias.
O chefe do Governo tem uma inteligência lúcida e precisa; não tem uma inteligência criadora ou dominadora. Tem uma vontade firme e concentrada, não a tem irradiante e segura. É um tímido quando ousa, e um incerto quando afirma. Tudo quanto faz se ressente dessa penumbra dos Reis malogrados.
Quando muito, na escala da governação pública, poderia ser o mordomo do país.
[...]
O Chefe do Governo não é um estadista: é um arrumador. Para ele o país não se compõe de homens, mas de gavetas. Os problemas do trabalho e da miséria, como há ele de entendê-los, se os pretende resolver por fichas soltas e folhas móveis?
A alma humana é irredutível a um sistema de deve e haver. É-o, acentuadamente, a alma portuguesa.
Às vezes aproxima-se do povo, de onde saiu. E traz-lhe uma ternura de guarda-livros em férias, que sente que preferiria afinal estar no escritório.
É sempre e em tudo um contabilista, mas só um contabilista. Quando vê que o país sofre, troca as rubricas e abre novas contas. Quando sente que o país se queixa, faz um estorno. A conta fica certa.
O Prof. Salazar é um contabilista. A profissão é eminentemente necessária e digna. Não é, porém, profissão que tenha implícitas directivas. Um país tem que governar-se com contabilidade, não deve governar-se por contabilidade.
Assistimos à cesarização de um contabilista.
O chefe do Governo tem uma inteligência lúcida e precisa; não tem uma inteligência criadora ou dominadora. Tem uma vontade firme e concentrada, não a tem irradiante e segura. É um tímido quando ousa, e um incerto quando afirma. Tudo quanto faz se ressente dessa penumbra dos Reis malogrados.
Quando muito, na escala da governação pública, poderia ser o mordomo do país.
[...]
O Chefe do Governo não é um estadista: é um arrumador. Para ele o país não se compõe de homens, mas de gavetas. Os problemas do trabalho e da miséria, como há ele de entendê-los, se os pretende resolver por fichas soltas e folhas móveis?
A alma humana é irredutível a um sistema de deve e haver. É-o, acentuadamente, a alma portuguesa.
Às vezes aproxima-se do povo, de onde saiu. E traz-lhe uma ternura de guarda-livros em férias, que sente que preferiria afinal estar no escritório.
É sempre e em tudo um contabilista, mas só um contabilista. Quando vê que o país sofre, troca as rubricas e abre novas contas. Quando sente que o país se queixa, faz um estorno. A conta fica certa.
O Prof. Salazar é um contabilista. A profissão é eminentemente necessária e digna. Não é, porém, profissão que tenha implícitas directivas. Um país tem que governar-se com contabilidade, não deve governar-se por contabilidade.
Assistimos à cesarização de um contabilista.
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 222, p. 366)
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