Henry Ford acaba de criar em suas fábricas a semana de cinco dias. E acaba de propor à consideração do mundo, como exemplo a seguir, esta redução filantrópica do trabalho dos seus operários. Sucede, porém, que já se sabe que os fabricantes de outros carros baratos americanos estão entrando pelas vendas dos automóveis Ford; que, ao passo que durante anos Ford produzia mais de metade dos automóveis fabricados nos Estados Unidos, produz agora [1926] apenas cerca de trinta e cinco por cento do total; que as fábricas Ford se vêem portanto confrontadas com o problema da sobre-produção, forçadas a produzir apenas sessenta e cinco por cento da sua capacidade, e obrigadas pois a trabalhar só quarenta horas por semana.
De sorte que, ao proclamar ao mundo como novo lema económico e moral a semana dos cinco dias, Henry Ford, sem ter que inventar para si um novo preceito prático, se limitou a seguir aquele, que é admirável, do mestre Macchiavelli:
O que fazemos por necessidade, devemos fazer parecer que foi por vontade nossa que o fizemos.(Fernando Pessoa, “Os preceitos práticos em geral e os de Henry Ford em particular”,
Crítica, pp. 341–342)