É esse que me prende a quem tu foste,
Imperador sombrio e calmo, quem
É que em nós ambos é o mesmo alguém?
Porque sinto eu teu gesto no meu braço
Na minha vida tua morte.
Quem foste tu, que hoje me sabes tanto
A eu ter sido tu. Porque é que lembro
Teu vulto sério, o mando teu augusto,
Teu peito de alma, calmo e [] e justo,
Como o por Maio a Junho estéril pranto
Quando é Dezembro?
Imperador aceite pelas gentes
Do teu império em prisões de te querer,
Sóbrio, vergado sobre os livros, []
Agora, renascido,
Quero outra vez erguer os deuses mortos.
(Fernando Pessoa, Poesia (1902–1917), pp. 353–354)