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Para viver esta tripla vida da alma é preciso poder vivê-la. Para ser independente das próprias emoções é preciso poder sê-lo. Se o homem vulgar, ou meio-vulgar, quiser viver a vida de um homem superior, é um imbecil e um imoral, porque não está nele o viver tal vida. A um poeta de segundo plano exige-se, naturalmente, certo grau moral, certa elegância social. Mas um Shakespeare pode ser, como foi, agiota; um Milton pode ser, como foi, mestre-escola. Quem não pode ser dois que seja um, pois, se quiser ser dois, ficará partido.
(Fernando Pessoa, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, p. 259)