27 junho 2010

105 anos da Revolta do Couraçado Potemkin (1905)*

Every reverse and disaster of the Russian army or navy is in such a way made the subject of a jest among us, that we seem to have nothing more amusing. Some of the Russian admirals, even after their death or their capture, have caused us outbursts of sniggering. The Czar himself, when dismayed by revolution and by war, and when in distress and in grief over his armies, appears to be taken by the British people as an animate joke of great value.

To us, Englishmen, of all men the most egotistic, the thought has never occurred that misery and grief ennoble, despicable and self-caused though they be. A drunken woman reeling through the streets is a pitiable sight. The same woman falling awkwardly in her drunkenness is, mayhap, an amusing spectacle. But this very same woman, drunken and awkward though she be, when weeping the death of her child is no contemptible nor ridiculous creature, but a tragic figure as great as your Hamlets and your King Lears.


(Charles Robert Anon, Carta ao “Natal Mercury”, 07–07–1905,
Correspondência (1905–1922), 1, pp. 13–14; em inglês no original)


[ Cada revés e cada desastre do exército ou da armada russos foram de tal modo objecto de chacota entre nós, que parece que não achamos nada mais divertido. Alguns almirantes russos, mesmo depois da sua morte ou captura, fizeram-nos explodir em apupos. O próprio Czar, quando desencorajado pela revolução e pela guerra, e quando em grande sofrimento e dor por causa dos seus exércitos, parece ser tomado pelo povo britânico como uma piada muito divertida.

A nós, ingleses, os mais egocêntricos de todos os homens, nunca ocorreu a ideia de que a infelicidade e a dor enobrecem, por mais desprezíveis e auto-infligidas que sejam. Uma mulher embriagada cambaleando pelas ruas é um espectáculo digno de pena. A mesma mulher, se cair desajeitadamente no seu estado de embriaguez, talvez seja um espectáculo divertido. Mas esta mesma mulher, por mais desajeitada e embriagada que esteja, quando chora a morte de um filho, não é uma criatura desprezível e ridícula, mas sim uma figura trágica, tão grande como os vossos Hamlets e os vossos Reis Lears. ]


(p. 15; trad. Manuela Parreira da Silva, com alterações)


* 14 de Junho, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.