06 janeiro 2011

82 anos da chegada de Madre Teresa a Calcutá (1929)

Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
«Se eu não tivesse a caridade»...
E a soberana luz manda, e do alto dos séculos,
A grande mensagem com que a alma é livre...
«Se eu não tivesse a caridade»...
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!...

(Álvaro de Campos, Poesia, 211, p. 531)



— É curioso, não é?... E olhe que há pontos secundários também muito curiosos... Por exemplo: a tirania do auxílio...
— A quê?
— A tirania do auxílio. Havia entre nós quem, em vez de mandar nos outros, em vez de se impor aos outros, pelo contrário os auxiliava em tudo quanto podia. Parece o contrário, não é verdade? Pois olhe que é o mesmo. É a mesma tirania nova. É do mesmo modo ir contra os princípios anarquistas.
— Essa é boa! Em quê?
— Auxiliar alguém, meu amigo, é tomar alguém por incapaz; se esse alguém não é incapaz, é ou fazê-lo tal, ou supô-lo tal, e isto é, no primeiro caso uma tirania, e no segundo um desprezo. Num caso cerceia-se a liberdade de outrem; no outro caso parte-se, pelo menos inconscientemente, do princípio de que outrem é desprezível e indigno ou incapaz de liberdade.

(Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarquista, pp. 41–42)