(Álvaro de Campos, “O que é a Metafísica?”, Crítica, p. 232)
30 junho 2010
105 anos da publicação do artigo “On the Electrodynamics of Moving Bodies”, de Albert Einstein (1905)
[...] Convém ainda avisar esses mesmos leigos que a expressão «relatividade» é aqui empregada no seu sentido tradicional e lógico, e não no sentido, aliás infeliz e absurdo, em que se chama «da relatividade» à teoria de Einstein, que é simplesmente uma teoria, primeiro restrita, depois generalizada, do movimento relativo.
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27 junho 2010
105 anos da Revolta do Couraçado Potemkin (1905)*
Every reverse and disaster of the Russian army or navy is in such a way made the subject of a jest among us, that we seem to have nothing more amusing. Some of the Russian admirals, even after their death or their capture, have caused us outbursts of sniggering. The Czar himself, when dismayed by revolution and by war, and when in distress and in grief over his armies, appears to be taken by the British people as an animate joke of great value.
To us, Englishmen, of all men the most egotistic, the thought has never occurred that misery and grief ennoble, despicable and self-caused though they be. A drunken woman reeling through the streets is a pitiable sight. The same woman falling awkwardly in her drunkenness is, mayhap, an amusing spectacle. But this very same woman, drunken and awkward though she be, when weeping the death of her child is no contemptible nor ridiculous creature, but a tragic figure as great as your Hamlets and your King Lears.
[ Cada revés e cada desastre do exército ou da armada russos foram de tal modo objecto de chacota entre nós, que parece que não achamos nada mais divertido. Alguns almirantes russos, mesmo depois da sua morte ou captura, fizeram-nos explodir em apupos. O próprio Czar, quando desencorajado pela revolução e pela guerra, e quando em grande sofrimento e dor por causa dos seus exércitos, parece ser tomado pelo povo britânico como uma piada muito divertida.
A nós, ingleses, os mais egocêntricos de todos os homens, nunca ocorreu a ideia de que a infelicidade e a dor enobrecem, por mais desprezíveis e auto-infligidas que sejam. Uma mulher embriagada cambaleando pelas ruas é um espectáculo digno de pena. A mesma mulher, se cair desajeitadamente no seu estado de embriaguez, talvez seja um espectáculo divertido. Mas esta mesma mulher, por mais desajeitada e embriagada que esteja, quando chora a morte de um filho, não é uma criatura desprezível e ridícula, mas sim uma figura trágica, tão grande como os vossos Hamlets e os vossos Reis Lears. ]
* 14 de Junho, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.
To us, Englishmen, of all men the most egotistic, the thought has never occurred that misery and grief ennoble, despicable and self-caused though they be. A drunken woman reeling through the streets is a pitiable sight. The same woman falling awkwardly in her drunkenness is, mayhap, an amusing spectacle. But this very same woman, drunken and awkward though she be, when weeping the death of her child is no contemptible nor ridiculous creature, but a tragic figure as great as your Hamlets and your King Lears.
(Charles Robert Anon, Carta ao “Natal Mercury”, 07–07–1905,
Correspondência (1905–1922), 1, pp. 13–14; em inglês no original)
Correspondência (1905–1922), 1, pp. 13–14; em inglês no original)
[ Cada revés e cada desastre do exército ou da armada russos foram de tal modo objecto de chacota entre nós, que parece que não achamos nada mais divertido. Alguns almirantes russos, mesmo depois da sua morte ou captura, fizeram-nos explodir em apupos. O próprio Czar, quando desencorajado pela revolução e pela guerra, e quando em grande sofrimento e dor por causa dos seus exércitos, parece ser tomado pelo povo britânico como uma piada muito divertida.
A nós, ingleses, os mais egocêntricos de todos os homens, nunca ocorreu a ideia de que a infelicidade e a dor enobrecem, por mais desprezíveis e auto-infligidas que sejam. Uma mulher embriagada cambaleando pelas ruas é um espectáculo digno de pena. A mesma mulher, se cair desajeitadamente no seu estado de embriaguez, talvez seja um espectáculo divertido. Mas esta mesma mulher, por mais desajeitada e embriagada que esteja, quando chora a morte de um filho, não é uma criatura desprezível e ridícula, mas sim uma figura trágica, tão grande como os vossos Hamlets e os vossos Reis Lears. ]
(p. 15; trad. Manuela Parreira da Silva, com alterações)
* 14 de Junho, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.
24 junho 2010
882 anos da Batalha de São Mamede (1128)
D. TAREJA
As nações todas são mistérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios,
Vela por nós!
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por ele reza!
Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instinto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria!
(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 89)
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22 junho 2010
70 anos da capitulação da França perante a Alemanha Nazi (1940)
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 280)
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19 junho 2010
Vuvuzelas
Aquilo que vem torturar a calma
(Álvaro de Campos, Poesia, 192, p. 501)
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18 junho 2010
16 junho 2010
106 anos da Odisseia de um dia de Leopold Bloom (1904)
ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo —
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 83)
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13 junho 2010
122 anos do nascimento de Fernando Pessoa (1888)
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
(Álvaro de Campos, Poesia, 67, p. 305)
Assinatura de Fernando Pessoa
Carta astral de Fernando Pessoa,
feita pelo próprio
feita pelo próprio
Fernando Pessoa, ele mesmo
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
(Fernando Pessoa, Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 101)
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10 junho 2010
Dia de Portugal...
O POVO PORTUGUÊS
Talvez que seu coração
Dorme na passividade
De viver só na saudade
Numa saudosa ilusão.
(Fernando Pessoa, Poesia (1902–1917), p. 49)
... de Camões...
Camões é Os Lusíadas. O lírico, em que os inferiores focam a admiração que os denota inferiores, era, como em outros épicos de sensibilidade também notável, apenas a excedência inorgânica do épico.
Não ocupa Os Lusíadas um lugar entre as primeiras epopeias do mundo; só a Ilíada, a Divina Comédia e o Paraíso Perdido ganharam essa elevação. Pertencendo, porém, à segunda ordem das epopeias, como a Jerusalém Libertada, o Orlando Furioso, a Faerie Queene — e, em certo modo, a Odisseia e a Eneida, que participam das duas ordens —, distingue-se Os Lusíadas não só destas epopeias, suas pares, senão também daquelas, suas superiores, em que é directamente uma epopeia histórica.
Não ocupa Os Lusíadas um lugar entre as primeiras epopeias do mundo; só a Ilíada, a Divina Comédia e o Paraíso Perdido ganharam essa elevação. Pertencendo, porém, à segunda ordem das epopeias, como a Jerusalém Libertada, o Orlando Furioso, a Faerie Queene — e, em certo modo, a Odisseia e a Eneida, que participam das duas ordens —, distingue-se Os Lusíadas não só destas epopeias, suas pares, senão também daquelas, suas superiores, em que é directamente uma epopeia histórica.
(Fernando Pessoa, “Luís de Camões”, Crítica, p. 215)
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... e das Comunidades Portuguesas
Cartoon de Ricardo Campos
(Fernando Pessoa, “Entrevista sobre a Arte e a Literatura Portuguesas”, Crítica, p. 195)
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O passado mitificado
Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 92, p. 121)
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Pátria
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
(Ricardo Reis, Poesia, II, 32, p. 64)
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Nevoeiro
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
[...]
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Que é Portugal a entristecer —
[...]
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
(Fernando Pessoa, “Nevoeiro”, Mensagem, Terceira Parte, III, p. 191)
07 junho 2010
O endividamento pessoal numa só lição
[...] Dirigi-me para a repartição de João Correia de Oliveira para lhe pedir 5000 réis para devolver ao Mayer os 1500 reis para pequenas despesas. [...]
(Fernando Pessoa, Diário de 18–02–1913,
Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 110)
Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 110)
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04 junho 2010
4 de Junho de 1940: Fim da retirada de Dunquerque
Olhemos bem para estes inimigos. Mas há quem tenha coragem de os combater? Duvido. [...]
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 38, p. 231)
01 junho 2010
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