Público online: «Termina hoje prazo para troca da nota de 100 escudos de Fernando Pessoa»
31 janeiro 2012
30 janeiro 2012
67 anos da publicação do primeiro número do jornal desportivo A Bola (1945)
[...] Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer: «match de football» diremos, e não «partida de bolapé». Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se em estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas-maneiras ou a etiqueta, que são a cultura.
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 113, pp. 242–243)
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27 janeiro 2012
39 anos dos Acordos de Paz de Paris, fim da participação americana na Guerra do Vietname (1973)
Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas [...], as crianças
Eram sangue nas ruas...
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas [...], as crianças
Eram sangue nas ruas...
(Ricardo Reis, “Os jogadores de xadrez”, Poesia, II, 31, p. 60)
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24 janeiro 2012
21 janeiro 2012
Campanhas anti-Maçonaria: em boa companhia
De resto, têm os srs. deputados a prova prática em o que tem sucedido noutros países onde se tem pretendido suprimir as Obediências maçónicas. Ponho de parte o caso da Rússia, porque não sei concretamente o que ali se passou: sei apenas que os Sovietes, corno todo o comunismo, são violentamente anti-maçónicos e que perseguiram a Maçonaria; e também sei que pouco teriam que perseguir pois na Rússia quase não havia Maçonaria. Considerarei os casos da Itália, da Espanha e da Alemanha.
Mussolini procedeu contra a Maçonaria, isto é, contra o Grande Oriente de Itália mais ou menos nos termos pagãos do projecto do Sr. José Cabral. Não sei se perseguiu muita gente, nem me importa saber. O que sei, de ciência certa, é que o Grande Oriente de Itália é um daqueles mortos que continuam de perfeita saúde. Mantém-se, concentra-se, tem-se depurado, e lá está à espera; se tem em que esperar é outro assunto. O camartelo do Duce pode destruir o edifício do comunismo italiano; não tem força para abater colunas simbólicas, vazadas num metal que procede da Alquimia.
Primo de Rivera procedeu mais brandamente, conforme a sua índole fidalga, contra a Maçonaria Espanhola. Também sei ao certo qual foi o resultado — o grande desenvolvimento, numérico como político, da Maçonaria em Espanha. Não sei se alguns fenómenos secundários, como, por exemplo, a queda da Monarquia, teriam qualquer relação com esse facto.
Hitler, depois de se ter apoiado nas três Grandes Lojas cristãs da Prússia, procedeu segundo o seu admirável costume ariano de morder a mão que lhe dera de comer. Deixou em paz as outras Grandes Lojas — as que o não tinham apoiado nem eram cristãs e, por intermédio de um tal Goering, intimou aquelas três a dissolverem-se. Elas disseram que sim — aos Goerings diz-se sempre que sim — e continuaram a existir. Por coincidência, foi depois de se tomar essa medida que começaram a surgir cisões e outras dificuldades adentro do partido nazi. A história, como o Sr. José Cabral deve saber, tem muitas destas coincidências.
Mussolini procedeu contra a Maçonaria, isto é, contra o Grande Oriente de Itália mais ou menos nos termos pagãos do projecto do Sr. José Cabral. Não sei se perseguiu muita gente, nem me importa saber. O que sei, de ciência certa, é que o Grande Oriente de Itália é um daqueles mortos que continuam de perfeita saúde. Mantém-se, concentra-se, tem-se depurado, e lá está à espera; se tem em que esperar é outro assunto. O camartelo do Duce pode destruir o edifício do comunismo italiano; não tem força para abater colunas simbólicas, vazadas num metal que procede da Alquimia.
Primo de Rivera procedeu mais brandamente, conforme a sua índole fidalga, contra a Maçonaria Espanhola. Também sei ao certo qual foi o resultado — o grande desenvolvimento, numérico como político, da Maçonaria em Espanha. Não sei se alguns fenómenos secundários, como, por exemplo, a queda da Monarquia, teriam qualquer relação com esse facto.
Hitler, depois de se ter apoiado nas três Grandes Lojas cristãs da Prússia, procedeu segundo o seu admirável costume ariano de morder a mão que lhe dera de comer. Deixou em paz as outras Grandes Lojas — as que o não tinham apoiado nem eram cristãs e, por intermédio de um tal Goering, intimou aquelas três a dissolverem-se. Elas disseram que sim — aos Goerings diz-se sempre que sim — e continuaram a existir. Por coincidência, foi depois de se tomar essa medida que começaram a surgir cisões e outras dificuldades adentro do partido nazi. A história, como o Sr. José Cabral deve saber, tem muitas destas coincidências.
(Fernando Pessoa, “Associações Secretas”, Da República (1910–1935), 132, pp. 395–396)
19 janeiro 2012
94 anos da dissolução da Assembleia Constituinte Russa, após 13 horas de existência, pelos Bolcheviques (1918)
[...] O próprio bolchevismo poderá na verdade ser interpretado pela figuras desmanchadas e reles de Lenine ou de Trotsky — esses infelizes que, em uma época científica, governam à romântica, [...]
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 50, p. 262)
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17 janeiro 2012
70 anos do nascimento de Cassius Clay, futuro Muhammad Ali (1942)
Ah, parte a cara à vida!
(Álvaro de Campos, Poesia, 162, p. 460)
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16 janeiro 2012
15 janeiro 2012
Onde se lê «Sr. José Cabral», leia-se «Ministra Paula Teixeira da Cruz»
[...] Creio não errar ao presumir que o Sr. José Cabral supõe que a Maçonaria é uma associação secreta. Não é. A Maçonaria é uma Ordem secreta, ou, com plena propriedade, uma Ordem iniciática. O Sr. José Cabral não sabe, provavelmente, em que consiste a diferença. Pois o mal é esse — não sabe. Nesse ponto, se não sabe, terá que continuar a não saber. De mim, pelo menos, não receberá a luz. Forneço-lhe, em todo o caso, uma espécie de meia luz, qualquer coisa como a «treva visível» de certo grande ritual. Vou insinuar-lhe o que é essa diferença por o que em linguagem maçónica se chama «termos de substituição».
A Ordem Maçónica é secreta por uma razão indirecta e derivada a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento — toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império — precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota.
A Ordem Maçónica é secreta por uma razão indirecta e derivada a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento — toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império — precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota.
(Fernando Pessoa, “Associações Secretas”, Da República (1910–1935), 132, pp. 394–395)
14 janeiro 2012
O eterno retorno da polémica anti-Maçonaria
Estreou-se a Assembleia Nacional, do ponto de vista legislativo, com a apresentação, por um deputado, de um projecto de lei sobre «associações secretas». De tal ordem é o projecto, tanto em natureza como em conteúdo, que não há que felicitar o actual Parlamento por lhe ter sido dada essa estreia. Antes que dizer-lhe Absit omen!, ou seja, em português, Longe vá o agouro!
Apresentou o projecto o Sr. José Cabral, que, se não é dominicano, deveria sê-lo, de tal modo o seu trabalho se integra, em natureza, como em conteúdo, nas melhores tradições dos Inquisidores. O projecto, que todos terão lido nos jornais, estabelece várias e fortes sanções (com excepção da pena de morte) para todos quantos pertençam ao que o seu autor chama «associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização».
Dada a latitude desta definição, e considerando que por «associação» se entende um agrupamento de homens, ligados por um fim comum, e que por «secreto» se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao Sr. José Cabral uma associação secreta — o Conselho de ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os Conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos ou os sinistros comunistas que tornam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais.
Apresentou o projecto o Sr. José Cabral, que, se não é dominicano, deveria sê-lo, de tal modo o seu trabalho se integra, em natureza, como em conteúdo, nas melhores tradições dos Inquisidores. O projecto, que todos terão lido nos jornais, estabelece várias e fortes sanções (com excepção da pena de morte) para todos quantos pertençam ao que o seu autor chama «associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização».
Dada a latitude desta definição, e considerando que por «associação» se entende um agrupamento de homens, ligados por um fim comum, e que por «secreto» se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao Sr. José Cabral uma associação secreta — o Conselho de ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os Conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos ou os sinistros comunistas que tornam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais.
(Fernando Pessoa, “Associações Secretas”, Da República (1910–1935), 132, pp. 391–392)
13 janeiro 2012
71 anos da morte de James Joyce (1941)
A arte de James Joyce, como a de Mallarmé, é a arte fixada no processo de fabrico, no caminho. A mesma sensualidade de Ulysses é um sintoma de intermédio. É o delírio onírico, dos psiquiatras, exposto como fim.
(Fernando Pessoa, Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, p. 369)
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10 janeiro 2012
08 janeiro 2012
370 anos da morte de Galileu Galilei (1642)
Venceste, Galileu. Mas nada prova
Da verdade de ti teres vencido.
Da verdade de ti teres vencido.
(Fernando Pessoa, “Juliano em Antioquia”, Poesia (1918–1930), p. 52)
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07 janeiro 2012
657 anos do assassinato de Inês de Castro (1355)
D. Pedro:
(como que prostrado) Oh, frias, frias!
Estas mãos que eu beijei como estão frias!
Como mais frias do que o pensamento
Se as julgasse frias. Oh dor, oh dor!
Estes lábios [] onde moravam
Os meus no meu ausente pensamento:
De que palidez são pálidos!
Oh horror de te olhar!
Pára-me a alma; sinto-a esfriar-me
O coração morto contigo.
Inês, Inês, Inês...
Não sei como te pensava morta
Que não te pensava assim...
Assim, assim... Teus olhos, eu lembrava-os
No meu coração. Nem ouso vê-los,
Não ouso ver o lugar onde fostes
A vida que era a minha!
(como que prostrado) Oh, frias, frias!
Estas mãos que eu beijei como estão frias!
Como mais frias do que o pensamento
Se as julgasse frias. Oh dor, oh dor!
Estes lábios [] onde moravam
Os meus no meu ausente pensamento:
De que palidez são pálidos!
Oh horror de te olhar!
Pára-me a alma; sinto-a esfriar-me
O coração morto contigo.
Inês, Inês, Inês...
Não sei como te pensava morta
Que não te pensava assim...
Assim, assim... Teus olhos, eu lembrava-os
No meu coração. Nem ouso vê-los,
Não ouso ver o lugar onde fostes
A vida que era a minha!
(David Merrick, “Inês de Castro”, Pessoa por Conhecer, vol. II, 134, pp. 178–179)
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06 janeiro 2012
05 janeiro 2012
Continua a não me lembrar nada nem ninguém...
[...] louvores [...] néscios
São-lhe a mesma distância
De todos os seus dias...
São-lhe a mesma distância
De todos os seus dias...
(Ricardo Reis, Poesia, Anexo B, XVa, p. 173)
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Ignorância
04 janeiro 2012
Dia Mundial do Braille
— Cegar! Cegar! exclamou Caeiro com um berro esquecido de toda a alternativa.
— Você prefere...
— Tudo menos cegar, gritou Caeiro.
— Você prefere...
— Tudo menos cegar, gritou Caeiro.
(Álvaro de Campos, “Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro”, 25,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 174)
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 174)
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Heterónimos e afins
02 janeiro 2012
Uma vez mais, não me lembra nada nem ninguém (ano novo, tudo como dantes...)
Ora porra!
[...]
Então é esta merda que temos
de beber com os olhos?
Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.
[...]
Então é esta merda que temos
de beber com os olhos?
Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.
(Álvaro de Campos, Poesia, 22, p. 146)
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Heterónimos e afins,
Hierarquia
01 janeiro 2012
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