(Fernando Pessoa, “A Imoralidade das Biografias”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 12, p. 132)
30 novembro 2012
112 anos da morte de Oscar Wilde (1900)
[...] A prática da pederastia, embora nem sempre fácil [...], é contudo mais fácil que a produção de uma segunda Salomé.
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28 novembro 2012
Sr. (primeiro-)ministro Vítor Gaspar: aqui tem a sua desculpa, para quando (inevitavelmente) precisar dela!
[...] o mais honesto e desinteressado dos políticos e dos governantes nunca pode saber com certeza se não está arruinando um país ou uma sociedade com os princípios e leis, que julga sãos, com que se propõe salvá-la ou conservá-la.
(Fernando Pessoa, “Régie, Monopólio, Liberdade”, Crítica, p. 281)
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27 novembro 2012
Votação final global do Orçamento de Estado 2013
É preciso criar abismos, para a humanidade que os não sabe saltar se engolfar neles para sempre.
[...]
É nosso dever [...] untar o chão, ainda que seja com lágrimas, para que escorreguem nele os que dançam.
[...]
É nosso dever [...] untar o chão, ainda que seja com lágrimas, para que escorreguem nele os que dançam.
(Álvaro de Campos, “Mensagem ao Diabo”, Pessoa por Conhecer, vol. II, 305, pp. 345–346)
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26 novembro 2012
103 anos do nascimento de Eugène Ionesco (1909)
APOTEOSE DO ABSURDO
Falo a sério e tristemente; este assunto não é para alegria, porque as alegrias do sonho são contraditórias e entristecidas e por isso aprazíveis de uma misteriosa maneira especial.
Sigo às vezes em mim, imparcialmente, essas coisas deliciosas e absurdas que eu não posso poder ver, porque são ilógicas à vista — pontes sem donde nem para onde, estradas sem princípio nem fim, paisagens invertidas [] — o absurdo, o ilógico, o contraditório, tudo quanto nos desliga e afasta do real e do seu séquito disforme de pensamentos práticos e sentimentos humanos e desejos de acção útil e profícua. O absurdo salva de chegar apesar do tédio àquele estado de alma em que começa por se sentir a doce fúria de sonhar.
E eu chego a ter não sei que misterioso modo de visionar esses absurdos — não sei explicar, mas eu vejo essas coisas inconcebíveis à visão.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 371, p. 337)
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25 novembro 2012
167 anos do nascimento de Eça de Queirós (1845)
O exemplo mais flagrante do provincianismo português é Eça de Queiroz. É o exemplo mais flagrante porque foi o escritor português que mais se preocupou (como todos os provincianos) em ser civilizado. As suas tentativas de ironia aterram não só pelo grau de falência, senão também pela inconsciência dela. Neste capítulo, A Relíquia, Paio Pires a falar francês, é um documento doloroso. As próprias páginas sobre Pacheco, quase civilizadas, são estragadas por vários lapsos verbais, quebradores da imperturbabilidade que a ironia exige, e arruinadas por inteiro na introdução do desgraçado episódio da viúva de Pacheco. Compare-se Eça de Queiroz, não direi já com Swift, mas, por exemplo, com Anatole France. Ver-se-á a diferença entre um jornalista, embora brilhante, de província, e um verdadeiro, se bem que limitado, artista.
(Fernando Pessoa, “O Provincianismo Português”, Crítica, p. 373)
24 novembro 2012
22 novembro 2012
49 anos da morte de Aldous Huxley (1963)
[...] There is perhaps more wisdom, or worldly wisdom, as such, in a book by Aldous Huxley than in all [Edmund] Spenser. But Spenser will be remembered, though unread, a thousand years from now; and for Aldous Huxley there will be neither reading nor remembering.
[ [...] Há, talvez, mais sabedoria, ou sabedoria do mundo como tal, num livro de Aldous Huxley do que em toda a obra de [Edmund] Spenser. Mas Spenser será lembrado, embora ninguém o leia, daqui a mil anos; enquanto que Aldous Huxley, esse ninguém o lerá nem se lembrará dele. ]
(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 6, p. 173; em inglês no original)
VIII, 6, p. 173; em inglês no original)
[ [...] Há, talvez, mais sabedoria, ou sabedoria do mundo como tal, num livro de Aldous Huxley do que em toda a obra de [Edmund] Spenser. Mas Spenser será lembrado, embora ninguém o leia, daqui a mil anos; enquanto que Aldous Huxley, esse ninguém o lerá nem se lembrará dele. ]
(idem, pp. 220–221; trad. Jorge Rosa)
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20 novembro 2012
102 anos da morte de Lev Tolstoi (1910)
[...] De resto — admito — [...], quanto ao Tolstoi, basta ser russo para eu ter dificuldade em dar por ele.
* 7 de novembro, segundo o calendário juliano, então em uso na Rússia.
(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 123, p. 247)
* 7 de novembro, segundo o calendário juliano, então em uso na Rússia.
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19 novembro 2012
166 anos da fundação do Banco de Portugal (1846)
O Banqueiro Anarquista
Banda-desenhada de Ana Filomena Pacheco
Revista CAIS n.º 131 (Junho 2008)
Banda-desenhada de Ana Filomena Pacheco
Revista CAIS n.º 131 (Junho 2008)
(Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarquista, col. Obras de Fernando Pessoa (n.º 9), 1999)
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18 novembro 2012
Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada
If we hesitate in pitying the drug fool who saturates cocaine with himself, why should we pity the sillier doper who takes speed instead of cocaine?
[ Se hesitamos em ter piedade do toxicómano idiota que satura a cocaína de si próprio, por que razão haveríamos de ter pena desses toxicómanos ainda mais idiotas que tomam velocidade em vez de cocaína? ]
(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias,
VIII, 35, p. 207; em inglês no original)
VIII, 35, p. 207; em inglês no original)
[ Se hesitamos em ter piedade do toxicómano idiota que satura a cocaína de si próprio, por que razão haveríamos de ter pena desses toxicómanos ainda mais idiotas que tomam velocidade em vez de cocaína? ]
(idem, p. 256; trad. Jorge Rosa, com alterações)
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17 novembro 2012
143 anos da inauguração do Canal de Suez (1869)
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, ânfora na aurora.
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, ânfora na aurora.
(Álvaro de Campos, “Opiário”, Poesia, 5, p. 60)
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14 novembro 2012
164 anos da inauguração do Hospital de Rilhafoles, actual Hospital Miguel Bombarda (1848)
FRAGMENT OF DELIRIUM
I know not whether my mind is broken
Nor do I know if my mind is ill;
I know not if love is but the last token
Of God to me, or a word unspoken
In a chaos of will.
My thoughts are such as the mad must have
And dead things know my soul
Grotesque and odd are the shapes that roll
In my brain as worm in a grave...
(Alexander Search, Poesia, 38, p. 90; em inglês no original)
[ FRAGMENTO DE DELÍRIO
Não sei se em mim a mente se quebrouNem se a razão me foi adoecer;
Não sei se o amor é só o último sinal
De Deus em mim, ou a voz que se calou
No caos do querer.
Meu pensar deve ser o da loucura
E minha alma é por fantasmas habitada —
Formas grotescas e estranhas a rolar
E minha mente, quais vermes em sepultura... ]
(p. 91; trad. Luísa Freire)
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13 novembro 2012
12 novembro 2012
Visita-relâmpago de Angela Merkel a Portugal
Essa elefantíase da civilização que é a Alemanha, [...]
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 88, p. 238)
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11 novembro 2012
Dia de “São” Martinho
Boa é a vida, mas melhor é o vinho.
(Fernando Pessoa, Poesias Inéditas (1930–1935), 53)
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151 anos da morte de D. Pedro V (1861)
D. PEDRO V
Quando Deus viu que o rei D. Pedro Quinto
Longe de má pessoa, com acinto
Ao bem e à verdade se cingia
Assobiou e resmungou «errei
Lá vai este destoar, por ser bom rei,
Daquela estuporada dinastia
Que eu destinara a exemplificar
Perante o mundo o mal da monarquia
Nada, volva a infâmia ao seu lugar
Se não com este era a obra desfeita
Da infâmia completa de governar
Que nos Bragança ia tão perfeita.»
Matou-o novo pois para não destoar.
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 203, p. 341)
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10 novembro 2012
121 anos da morte de Arthur Rimbaud (1891)
Invejo a tua vida arremessada,
Atirada p’ra longe, p’ra perder-se...
Vida que abre as velas, e ei-la a encher-se
De si sem pensar em ter uma chegada,
E de estar longe sem pensar em ver-se.
Invejo a tua vida e tenho dela
Que não foi minha, como que saudades,
Descem em mim obscuras ansiedades
Um mar em mim tormentas em capela
Feitas das minhas ocas saciedades.
Possuidor do Longe que sonhaste,
Torturado por tua imperfeição...
Não sei porque tu não viveste são
Flor que tanto soube ser alta na haste
Que em vício e sombra... mas desabrochaste
E a tua vida foi o teu perdão.
Atirada p’ra longe, p’ra perder-se...
Vida que abre as velas, e ei-la a encher-se
De si sem pensar em ter uma chegada,
E de estar longe sem pensar em ver-se.
Invejo a tua vida e tenho dela
Que não foi minha, como que saudades,
Descem em mim obscuras ansiedades
Um mar em mim tormentas em capela
Feitas das minhas ocas saciedades.
Possuidor do Longe que sonhaste,
Torturado por tua imperfeição...
Não sei porque tu não viveste são
Flor que tanto soube ser alta na haste
Que em vício e sombra... mas desabrochaste
E a tua vida foi o teu perdão.
(Fernando Pessoa, “A Vida de Arthur Rimbaud”, Poesia (1902–1917), pp. 141–142)
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Vida
09 novembro 2012
74 anos da Kristallnacht, noite de violência antijudaica por toda a Alemanha Nazi (1938)
Abram todas as portas!
Partam os vidros das janelas!
Partam os vidros das janelas!
(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, Poesia, 24p, p. 182)
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23 anos da queda do Muro de Berlim (1989)
Grande libertador
Que arrasaste os muros da cadeia velha
Que arrasaste os muros da cadeia velha
(Álvaro de Campos, “A Partida”, Poesia, 27o, p. 233)
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União Soviética
08 novembro 2012
Iconografia pessoana
«Pessoa Revisited»
Banda-desenhada de Rafa Infantes
Banda-desenhada de Rafa Infantes
(Álvaro de Campos, “Lisbon Revisited” (1923), Poesia, 47, pp. 271–272;
“Lisbon Revisited” (1926), Poesia, 65, pp. 300–302)
“Lisbon Revisited” (1926), Poesia, 65, pp. 300–302)
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07 novembro 2012
95 anos da Revolução Bolchevique (1917)*
Não há correntes proletárias, não há bolchevismo (nem na Rússia), não há radicalismo em parte nenhuma. [...] Os operários são todos uns idiotas, e os seus chefes, ou idiotas também, ou loucos; [...]
* 25 de Outubro, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.
(Álvaro de Campos, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 415)
* 25 de Outubro, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.
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06 novembro 2012
Eleições americanas
[...] As próprias eleições, dada a complexidade e o custo do maquinismo eleitoral, nunca podem ser vencidas senão por partidos eleitoralmente organizados. O eleitor não escolhe o que quer; escolhe entre isto e aquilo que lhe dão, o que é diferente. Tudo é oligárquico na vida das sociedades. [...]
(Álvaro de Campos, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 415)
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04 novembro 2012
Clássicos e românticos
A classic is a man who expresses himself; a romantic a man who has a lot of self to express and expresses that but no more. [...]
[ Um clássico é um homem que se exprime; um romântico, um homem que tem muito de si para exprimir e que o exprime, mas daí não passa. [...] ]
(Fernando Pessoa, “Erostratus”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VIII, 31, p. 203;
em inglês no original)
em inglês no original)
[ Um clássico é um homem que se exprime; um romântico, um homem que tem muito de si para exprimir e que o exprime, mas daí não passa. [...] ]
(idem, p. 252; trad. Jorge Rosa, com alterações)
02 novembro 2012
1 ano do atentado contra a redacção do semanário satírico francês Charlie Hebdo (2011)
Torturador obscuro, tomo ódio
A esta ridente humanidade toda,
Folgo de lhes pensar torturas na alma,
Com que perdessem esse riso e até
As lágrimas na dor e no pavor.
A esta ridente humanidade toda,
Folgo de lhes pensar torturas na alma,
Com que perdessem esse riso e até
As lágrimas na dor e no pavor.
(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, 17)
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01 novembro 2012
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