(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 279)
30 dezembro 2009
144 anos do nascimento de Rudyard Kipling (1865)
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Imortalidade,
Império,
Nascimento,
Poesia
25 dezembro 2009
Natal
Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
(Fernando Pessoa, “Natal”, Poesia (1918–1930), p. 184)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Ateísmo,
Cristianismo,
Deus,
Erro,
Mitos/Mitologia,
Nascimento,
Religião,
Verdade
24 dezembro 2009
485 anos da morte de Vasco da Gama (1524)
ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
Em baixo, onde a terra é, o pastor gela, e a flauta
Cai-lhe, e em êxtase vê, à luz de mil trovões,
O céu abrir o abismo à alma do Argonauta.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, IX, p. 145)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Descobertas,
Falecimento
20 dezembro 2009
10 anos do regresso de Macau à soberania chinesa (1999)
Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia.
(Fernando Pessoa, “Ecolalia interior”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 3, p. 79)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
História de Portugal,
Império,
Passado,
Saudosismo
18 dezembro 2009
131 anos do nascimento de Ioseb Besarionis dze Jughashvili, vulgo José Estaline (1878)
Boa noite e merda!
(Álvaro de Campos, Poesia, 114, p. 385)
15 dezembro 2009
13 dezembro 2009
464 anos do início do Concílio de Trento (1545)
Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres das religiões todas.
(Álvaro de Campos, Aforismos e afins, p. 29)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Deus,
Economia/Finanças,
Heterónimos e afins,
Igreja Católica,
Religião
12 dezembro 2009
101 anos do nascimento de Manoel de Oliveira (1908)
Terá Manoel de Oliveira filmado Fernando Pessoa?
Citando o blogue Um Fernando Pessoa:São apenas cerca de 20 segundos, mas estas são, supostamente, as únicas imagens em filme de Fernando Pessoa, filmadas circa 1926 pelo cineasta Manoel de Oliveira, no Porto. Pessoa estaria em companhia de José Régio.
Aqui no Pessoa para todas as ocasiões somos da opinião de que o sujeito em causa não é Fernando Pessoa.
É um heterónimo.
11 dezembro 2009
Votação do Orçamento de Estado Rectificativo
Eh-lá-hô [...]
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 85)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Democracia,
Economia/Finanças,
Estética,
Governo,
Heterónimos e afins
09 dezembro 2009
Sexo?
O tamanho, a duração não têm importância nenhuma...
São apenas tamanho e duração...
São apenas tamanho e duração...
(Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”, 25, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 128)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Heterónimos e afins,
Ilusão,
Sexo
06 dezembro 2009
824 anos da morte do primeiro Rei de Portugal (1185)
D. AFONSO HENRIQUES
Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!
(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 91)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Falecimento,
História de Portugal
05 dezembro 2009
513 anos do decreto de expulsão dos “hereges” de Portugal (1496)
Que abjecção esta regularidade!
(Álvaro de Campos, “Dactilografia”, Poesia, 181, p. 485)
03 dezembro 2009
Eugenia
Eugenics is the great enemy of will-power.
[ A eugenia é o grande inimigo da força de vontade. ]
[ A eugenia é o grande inimigo da força de vontade. ]
(Fernando Pessoa, Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 415; em inglês no original)
01 dezembro 2009
369 anos da Restauração da Independência (1640)
A restauração de 1640 fez-se por uma revolução aristocrática, que o povo apoiou, mas em que não colaborou activamente.
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 11, p. 112)
30 novembro 2009
74 anos da morte de Fernando Pessoa (1935)
Em mim acaba
Mudo, profundo
Como ruína que desaba
Tudo o que vive e sente o mundo.
Mudo, profundo
Como ruína que desaba
Tudo o que vive e sente o mundo.
(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, p. 163)
Última foto de Fernando Pessoa (1935)
(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 171)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Falecimento,
Fotografias,
Iconografia
29 novembro 2009
Astrologia
I know not what tomorrow will bring.
[ Não sei o que o amanhã trará. ]
[ Não sei o que o amanhã trará. ]
(últimas palavras escritas por Fernando Pessoa, na véspera da sua morte,
Fernando Pessoa – Fotobiografia, p. 161; em inglês no original)
Fernando Pessoa – Fotobiografia, p. 161; em inglês no original)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Astrologia,
Falecimento
26 novembro 2009
Bom Povo
O português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja. Somos um grande povo de heróis adiados. Partimos a cara a todos os ausentes, conquistamos de graça todas as mulheres sonhadas, e acordamos alegres, de manhã tarde, com a recordação colorida dos grandes feitos por cumprir.
(Fernando Pessoa, “Ecolalia interior”,
Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 3, p. 79)
Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 3, p. 79)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Ilusão,
Portugal,
Povo
24 novembro 2009
Dia Nacional da Cultura Científica*
Quantas gerações não serão precisas para a libertação, pela ciência, de um povo! Se ainda não foi possível a libertação, pela ciência, dos homens da ciência, e da gente culta!
* Nascimento de Rómulo de Carvalho (1906).
(Ricardo Reis, Prosa, 81, p. 253)
* Nascimento de Rómulo de Carvalho (1906).
Etiquetas:
* Ricardo Reis,
Ciência,
Cultura,
Educação,
Heterónimos e afins,
Liberdade,
Nascimento,
Povo
21 novembro 2009
Dia Mundial da Televisão
Não ensines nada, pois ainda tens tudo que aprender.
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 42)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
Cultura,
Educação,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Televisão
19 novembro 2009
Dia Mundial da Filosofia
Contra a maioria das doutrinas filosóficas tenho a queixa de que são simples; o facto de quererem explicar é prova bastante de tal, pois explicar é simplificar.
Para cada filósofo, Deus é da sua opinião.
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 33)
Para cada filósofo, Deus é da sua opinião.
(Bernardo Soares, Aforismos e afins, p. 67)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
* Bernardo Soares,
Deus,
Filosofia,
Heterónimos e afins
16 novembro 2009
Dia Internacional para a Tolerância
Toda a sinceridade é uma intolerância.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 276, p. 267)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Censura,
Heterónimos e afins,
Sinceridade,
Tolerância/Intolerância,
Verdade
14 novembro 2009
Dia Mundial da Diabetes
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
[...]
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Come chocolates!
[...]
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
(Álvaro de Campos, “Tabacaria”, Poesia, 75, p. 323)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Saúde
11 novembro 2009
91 anos do fim da I Guerra Mundial (1918)
Por aqueles, minha mãe, que morreram, que caíram na batalha...
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Por aqueles, minha mãe, que ficaram mutilados no combate
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Por aqueles cuja noiva esperará sempre em vão...
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Sete vezes sete vezes murcharão as flores no jardim
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
E os seus cadáveres serão do pó universal e anónimo
Dlôn — ôn — on — on...
E eles, quem sabe, minha mãe, sempre vivos [.], com esperança...
Loucos, minha mãe, loucos, porque os corpos morrem e a dor não morre...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Que é feito daquele que foi a criança que tiveste ao peito?
Dlôn...
Quem sabe qual dos desconhecidos mortos aí é o teu filho
Dlôn...
Ainda tens na gaveta da cómoda os seus bibes de criança...
Ainda há nos caixotes da dispensa os seus brinquedos velhos...
Ele hoje pertence a uma podridão órfã somewhere in France.
Ele que foi tanto para ti, tudo, tudo, tudo...
Olha, ele não é nada no geral holocausto da história
Dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Por aqueles, minha mãe, que ficaram mutilados no combate
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Por aqueles cuja noiva esperará sempre em vão...
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
Sete vezes sete vezes murcharão as flores no jardim
Dlôn — ôn — ôn — ôn...
E os seus cadáveres serão do pó universal e anónimo
Dlôn — ôn — on — on...
E eles, quem sabe, minha mãe, sempre vivos [.], com esperança...
Loucos, minha mãe, loucos, porque os corpos morrem e a dor não morre...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Que é feito daquele que foi a criança que tiveste ao peito?
Dlôn...
Quem sabe qual dos desconhecidos mortos aí é o teu filho
Dlôn...
Ainda tens na gaveta da cómoda os seus bibes de criança...
Ainda há nos caixotes da dispensa os seus brinquedos velhos...
Ele hoje pertence a uma podridão órfã somewhere in France.
Ele que foi tanto para ti, tudo, tudo, tudo...
Olha, ele não é nada no geral holocausto da história
Dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
Dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn — dlôn...
(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 23i, pp. 158–159)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Guerra,
Heterónimos e afins,
Morte
09 novembro 2009
09 Nov 1989: O Comunismo caía de podre
Tudo isso nós perdemos, de todas essas consolações nascemos órfãos.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 306, p. 289)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Alemanha,
Comunismo,
Heterónimos e afins,
Idealismo,
Ideologias,
Política,
União Soviética,
Utopias
07 novembro 2009
92 anos da Revolução Bolchevique
Visando a liberdade, a libertação dos operários e dos fracos, o bolchevismo oprimiu outros fracos e não aos que disse servir desoprimiu.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 48, p. 258)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Comunismo,
Liberdade,
Opressão
07 Nov 1917*: Nascia a Ditadura do Proletariado
Não me capem com ideais!
* 25 de Outubro, segundo o calendário juliano.
(Álvaro de Campos, Poesia, 138, p. 423)
* 25 de Outubro, segundo o calendário juliano.
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Comunismo,
Ditadura,
Heterónimos e afins,
Idealismo,
Ideologias
04 novembro 2009
Bondade
Não somos bondosos nem caritativos — não porque sejamos o contrário, mas porque não somos nem uma coisa, nem a outra. A bondade é a delicadeza das almas grosseiras.
(Bernardo Soares, “Declaração de Diferença”, Livro do Desassossego, p. 428)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Bem,
Heterónimos e afins,
Mal,
Moral,
Povo
01 novembro 2009
Dia de Todos os “Santos”
O cristismo apresenta-se-nos composto de três elementos — o sentimento cristista propriamente tal, o elemento pagão contido na presença daqueles santos que todos hoje sabemos serem apenas sucessores deformados dos deuses, e aquele elemento propriamente religioso que todas as religiões contêm.
Uma diferença idêntica separa o politeísmo grego do politeísmo da Igreja Católica, representado por os seus santos, que, para a maioria das populações nas nações católicas, têm, na devoção e no culto, um lugar acima de Deus.
(António Mora, Obra em Prosa, p. 181)
Uma diferença idêntica separa o politeísmo grego do politeísmo da Igreja Católica, representado por os seus santos, que, para a maioria das populações nas nações católicas, têm, na devoção e no culto, um lugar acima de Deus.
(Ricardo Reis, Prosa, 15, pp. 83–84)
Etiquetas:
* António Mora,
* Ricardo Reis,
Cristianismo,
Deus,
Fé,
Grécia,
Heterónimos e afins,
Igreja Católica,
Paganismo,
Povo,
Religião,
Santos
31 outubro 2009
Dia Mundial da Poupança
O dinheiro é belo, porque é uma libertação.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 295, p. 281)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Dinheiro,
Economia/Finanças,
Estética,
Heterónimos e afins,
Liberdade
29 outubro 2009
Iconografia pessoana
Fernando Pessoa no “Martinho da Arcada”, com Costa Brochado
(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, pp. 6–7)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Fotografias,
Iconografia
28 outubro 2009
87 anos da “Marcha sobre Roma” do Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini (1922)
O problema apresentado pelo fascismo é muito simples, e, na sua essência, não nos é, a nós portugueses, desconhecido. O povo italiano — que é de supor que o seja, e não fascista nem comunista — recebeu há anos, do lado direito da cara, a bofetada do comunismo. O fascismo, para o endireitar, deu-lhe uma bofetada, um pouco mais forte, do lado esquerdo. Não sabemos, nem temos meio de saber, se o povo italiano aprecia mais o ter ficado direito, ou neo-torto, ou as desvantagens faciais do processo empregado. E resta sempre saber, nesta matéria — como cada nova bofetada é sempre mais forte que a anterior, para poder endireitar —, em que altura é que pára a terapêutica equilibradora, e em que estado fica o equilibrado quando o Destino, por fim, se cansa do tratamento.
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 114, pp. 357–358)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Comunismo,
Democracia,
Fascismo,
Ideologias,
Itália,
Liberdade,
Opressão,
Política,
Revolução/Revolta
26 outubro 2009
Governo
A encenação dos incompetentes é a mais cruel das ironias dos deuses.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 50, p. 263)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Governo,
Política,
Portugal
23 outubro 2009
23 Out 4004 AC, 9 da manhã em ponto: instante preciso da criação do Mundo por Deus, segundo James Ussher (1581–1656)
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
«Se é ele que as criou, do que duvido» —.
Das coisas que criou —
«Se é ele que as criou, do que duvido» —.
(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, VIII”,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 55)
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 55)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Ateísmo,
Cristianismo,
Deus,
Heterónimos e afins,
Judaísmo,
Mitos/Mitologia,
Religião
20 outubro 2009
Razão e Fé
Os místicos, os esotéricos, e outra gente assim, têm sido sempre, notavelmente, falhos de lucidez, de grandeza intelectual e de espírito compreensivo e claro. [...]
O Raciocínio é anti-divino por natureza. Por isso devemos amar e cultivar o Raciocínio.
O Raciocínio é anti-divino por natureza. Por isso devemos amar e cultivar o Raciocínio.
(Alberto Caeiro, Pessoa por Conhecer, vol. II, 326, p. 363)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Ateísmo,
Fé,
Heterónimos e afins,
Misticismo,
Religião
19 outubro 2009
18 outubro 2009
Movimento Perpétuo Associativo
Tantos nobres ideais caídos entre o estrume, tantas ânsias verdadeiras extraviadas entre o enxurro!
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 273, p. 265)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Apatia,
Estado de espírito,
Heterónimos e afins,
Idealismo,
Ilusão,
Indiferença,
Pessimismo
15 outubro 2009
Assembleia da República
[...] estalagem onde riem os parvos felizes [...]
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 200, p. 206)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Democracia,
Eleições,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Política
13 outubro 2009
“Milagre do Sol”
Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida? Por serem vários? Mas há alucinações colectivas.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 256, p. 252)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Ateísmo,
Fátima,
Fé,
Heterónimos e afins,
Ilusão,
Milagres,
Misticismo,
Povo,
Religião,
Santos
Fátima ou Lenine, tanto dá
O ódio à ciência, às leis naturais, é o que caracteriza a mentalidade popular. O milagre é o que o povo quer, é o que o povo compreende. Que o faça Nossa Senhora de Lourdes ou de Fátima, ou que o faça Lenine — nisso só está a diferença.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 375)
119 anos do “nascimento” de Álvaro de Campos (1890)
Álvaro de Campos (Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa; pormenor)
Painel gravado de José de Almada Negreiros (1961)
da Universidade de Lisboa; pormenor)
Painel gravado de José de Almada Negreiros (1961)
12 outubro 2009
517 anos da chegada de Cristóvão Colombo às Américas (1492)
Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 286)
OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, VI, p. 139)
10 outubro 2009
Dia Mundial da Saúde Mental
O pensamento é enterrado vivo
No mundo e ali sufoca.
No mundo e ali sufoca.
(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, p. 21)
09 outubro 2009
08 outubro 2009
Prémio Nobel da Literatura
O triunfo supremo de um artista é quando ao ler suas obras o leitor prefere tê-las e não as ler.
(Bernardo Soares, “Máximas”, Livro do Desassossego, p. 450)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Heterónimos e afins,
Literatura,
Prémio Nobel
07 outubro 2009
60 anos da fundação da República Democrática Alemã (1949)
As cortinas das janelas impediam ver para fora, uma porém [] dum lado mostrava ao longe o azul muito azul do céu, muito azul, muito longe, muito azul, muito de um azul liso, puro e perfeito.
(Marco Alves, Pessoa por Conhecer, vol. II, 25h, p. 43)
Etiquetas:
* Marco Alves,
Alemanha,
Comunismo,
Democracia,
Heterónimos e afins,
Liberdade,
Opressão
438 anos da Batalha de Lepanto (1571)
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
Homens do mar actual! homens do mar passado!
Comissários de bordo! escravos das galés! combatentes de Lepanto!
Homens do mar actual! homens do mar passado!
Comissários de bordo! escravos das galés! combatentes de Lepanto!
(Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, p. 118)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Escravidão/Servidão,
Guerra,
Heterónimos e afins
05 outubro 2009
99 anos da implantação da República (1910)
Propriamente falando, eu não combato a monarquia; combato a monarquia portuguesa. [...] A monarquia portuguesa aí está! Basta olhar para ela. Não há melhor argumento.
(Pantaleão, Pessoa por Conhecer, vol. II, 160, p. 211)
03 outubro 2009
Ironia: modo de usar
Pela primeira vez na minha vida fabriquei uma bomba. Cerquei o seu dinamite de verdade com um invólucro de raciocínio; pus-lhe um rastilho de humorismo.
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 150, p. 419)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Crítica,
Humor,
Verdade
01 outubro 2009
60 anos da fundação da República Popular da China (1949)
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade ou mentira de todas as religiões, de todas as filosofias, de todas as hipóteses inutilmente verificáveis a que chamamos ciências. Tão-pouco nos preocupará o destino da chamada humanidade, ou o que sofra ou não sofra em seu conjunto. Caridade, sim, para com o «próximo» como no Evangelho se diz, e não com o homem, de que nele se não fala. E todos, até certo ponto assim somos: que nos pesa, ao melhor de nós, um massacre na China? Mais nos dói, ao que de nós mais imagine, a bofetada injusta que vimos dar na rua a uma criança.
¤
[...] senti sempre os movimentos humanos — as grandes tragédias colectivas da história ou do que dela fazem — como frisos coloridos, vazios da alma dos que passam neles. Nunca me pesou o que de trágico se passasse na China. É decoração longínqua, ainda que a sangue e peste.
¤
[...] senti sempre os movimentos humanos — as grandes tragédias colectivas da história ou do que dela fazem — como frisos coloridos, vazios da alma dos que passam neles. Nunca me pesou o que de trágico se passasse na China. É decoração longínqua, ainda que a sangue e peste.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 447, p. 394 & 165, p. 178)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Ciência,
Comunismo,
Heterónimos e afins,
Indiferença,
Mentira,
Opressão,
Religião,
Revolução/Revolta,
Tragédia,
Verdade
Dia Mundial da Música
A música, sim, a música...
Piano banal do outro andar...
A música em todo o caso, a música...
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda criatura humana,
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor...
A música... Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal...
Mas é música...
Ah, quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas!
A música...
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música...
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música...!
Piano banal do outro andar...
A música em todo o caso, a música...
Aquilo que vem buscar o choro imanente
De toda criatura humana,
Aquilo que vem torturar a calma
Com o desejo duma calma melhor...
A música... Um piano lá em cima
Com alguém que o toca mal...
Mas é música...
Ah, quantas infâncias tive!
Quantas boas mágoas!
A música...
Quantas mais boas mágoas!
Sempre a música...
O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.
Mas apesar de tudo é música.
Ah, lá conseguiu uma música seguida —
Uma melodia racional —
Racional, meu Deus!
Como se alguma coisa fosse racional!
Que novas paisagens de um piano mal tocado?
A música!... A música...!
(Álvaro de Campos, Poesia, 192, p. 501)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Arte,
Heterónimos e afins
30 setembro 2009
73 anos da criação da Legião Portuguesa (1936)
Plagiamos o fascismo e o hitlerismo, plagiamos claramente, com a desvergonha da inconsciência, como a criança imita sem hesitar. Não reparamos que fascismo e hitlerismo, em sua essência, nada têm de novo, porventura nada de aproveitável, como ideias;
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 8, p. 85)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Estado Novo,
Estupidez,
Fascismo,
História de Portugal,
Hitler,
Ideologias,
Itália,
Nazismo,
Política,
Propaganda,
Salazar
28 setembro 2009
Iconografia pessoana
Fernando Pessoa após regressar da África do Sul
(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 76)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Fotografias,
Iconografia
27 setembro 2009
Resultados eleitorais
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença[?]
Que um perca e outro vença[?]
(Ricardo Reis, Poesia, II, 32, p. 64)
Etiquetas:
* Ricardo Reis,
Apatia,
Democracia,
Eleições,
Heterónimos e afins,
Indiferença
Agora que campanha eleitoral passou...
Volta amanhã, realidade!
(Álvaro de Campos, Poesia, 140, p. 428)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Democracia,
Eleições,
Governo,
Heterónimos e afins,
Ilusão,
Política,
Propaganda
26 setembro 2009
Dia de reflexão?
O voto popular não é uma manifestação de opinião; é uma expressão de sentimento.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 55, p. 269)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Democracia,
Eleições,
Governo,
Política
Para o meu irmão... :o)
É-se feliz na Austrália, desde que lá se não vá.
(Álvaro de Campos, “Oxfordshire”, Poesia, 148, p. 440)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Aniversário,
Felicidade,
Heterónimos e afins
25 setembro 2009
24 setembro 2009
Para a classe política que temos, com amor
[...] Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!
[...]
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
[...]
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, pp. 280/281)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Democracia,
Eleições,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Política
22 setembro 2009
À atenção de todos os candidatos a cargos políticos
Espera o melhor e prepara-te para o pior.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 357)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Catástrofe,
Eleições,
Governo,
Guerra,
Optimismo,
Pessimismo
20 setembro 2009
490 anos do início da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1519)
FERNÃO DE MAGALHÃES
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, VIII, p. 143)
17 setembro 2009
159 anos do nascimento de Guerra Junqueiro (1850)
G. Junqueiro? Tenho uma grande indiferença pela obra dele. Já o vi... Nunca pude admirar um poeta que me foi possível ver.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, AP17, p. 499)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Heterónimos e afins,
Nascimento,
Poesia
16 setembro 2009
Iconografia pessoana
Monumento ao Infante D. Henrique em Lagos (Algarve)
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, X, p. 147)
15 setembro 2009
Dia Internacional da Democracia
O povo é fundamentalmente, radicalmente, irremediavelmente reaccionário. O liberalismo é um conceito aristocrático, e portanto inteiramente oposto à democracia.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 375)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Democracia,
Povo
12 setembro 2009
Promessas eleitorais
Ficções do Interlúdio
(ed. Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim,
col. Obras de Fernando Pessoa (n.º 5), 1999)
col. Obras de Fernando Pessoa (n.º 5), 1999)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
* Álvaro de Campos,
* Ricardo Reis,
Democracia,
Eleições,
Ficção,
Governo,
Heterónimos e afins,
Ilusão,
Política,
Propaganda
09 setembro 2009
36 anos da primeira reunião do Movimento dos Capitães (1973), embrião do Movimento das Forças Armadas e do 25 de Abril
Ataquemos pois o que sabemos velho, podre e decadente. A sociedade edificará depois o que haverá de lhe seguir. [...] Destruindo o velho, damos lugar ao novo, seja ele o que for.
(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 66, p. 87)
07 setembro 2009
04 setembro 2009
Festa do Avante!
Uma árvore não vai a comícios. [...]
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 373)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Apatia,
Comunismo,
Política
01 setembro 2009
70 anos da invasão nazi da Polónia e do início da II Guerra Mundial (1939)
A guerra actual é uma guerra entre dois princípios sociológicos, entre dois critérios de civilização. [...] Um desses princípios é representado pela Alemanha; [...]
O princípio representado pela Alemanha resume-se em poucas palavras. É este: A Pátria está acima da Civilização. [...] É claro que um país em que se sustente, acima de todas, esta teoria da civilização deve mostrar características especiais. [...] um estado que ponha a Pátria acima da civilização deve, ipso facto, colocar o Estado acima do Indivíduo, deve, em tudo quanto possa ser, subordinar o indivíduo ao Estado. Assim, sem que possa contestar-se, faz a Alemanha.
É evidente, em seguida, que um critério desta ordem deve ser nitidamente militarista.
O princípio representado pela Alemanha resume-se em poucas palavras. É este: A Pátria está acima da Civilização. [...] É claro que um país em que se sustente, acima de todas, esta teoria da civilização deve mostrar características especiais. [...] um estado que ponha a Pátria acima da civilização deve, ipso facto, colocar o Estado acima do Indivíduo, deve, em tudo quanto possa ser, subordinar o indivíduo ao Estado. Assim, sem que possa contestar-se, faz a Alemanha.
É evidente, em seguida, que um critério desta ordem deve ser nitidamente militarista.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 38, pp. 227–228)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Alemanha,
Civilização,
Estado,
Guerra,
Indivíduo,
Nazismo,
Pátria
29 agosto 2009
112 anos do Primeiro Congresso Sionista (1897)
[...] Somos estrangeiros
Onde quer que moremos. [...]
Onde quer que moremos. [...]
(Ricardo Reis, Poesia, II, 127, p. 125)
Etiquetas:
* Ricardo Reis,
Heterónimos e afins,
Israel,
Judaísmo
27 agosto 2009
26 agosto 2009
(I)moralidade e intelecto
Para que um homem possa ser distintivamente e absolutamente moral, tem que ser um pouco estúpido. Para que um homem possa ser absolutamente intelectual, tem que ser um pouco imoral.
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 20)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Moral
23 agosto 2009
Dia Europeu de Recordação da Vítimas dos Regimes Totalitários e Autoritários
Saudação a todos quantos querem ser felizes:
Saúde e estupidez!
Isto de ter nervos
Ou de ter inteligência
Ou até de julgar que se tem uma coisa ou outra
Há-de acabar um dia...
Há-de acabar com certeza
Se os governos autoritários continuarem.
Saúde e estupidez!
Isto de ter nervos
Ou de ter inteligência
Ou até de julgar que se tem uma coisa ou outra
Há-de acabar um dia...
Há-de acabar com certeza
Se os governos autoritários continuarem.
(Álvaro de Campos, Poesia, 234, p. 574)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Censura,
Comunismo,
Estado Novo,
Estupidez,
Fascismo,
Heterónimos e afins,
Liberdade,
Nazismo,
Opressão,
União Soviética
19 agosto 2009
Entre Hel e Gdańsk, o porto recortando-se no horizonte
Eh marinheiros, gajeiros! eh tripulantes, pilotos!
Navegadores, mareantes, marujos, aventureiros!
Eh capitães de navios! homens ao leme e em mastros!
Homens que dormem em beliches rudes!
Homens que dormem co’o Perigo a espreitar plas vigias!
Homens que dormem co’a Morte por travesseiro!
Homens que têm tombadilhos, que têm pontes donde olhar
A imensidade imensa do mar imenso!
Eh manipuladores dos guindastes de carga!
Eh amainadores de velas, fogueiros, criados de bordo!
Homens que metem a carga nos porões!
Homens que enrolam cabos no convés!
Homens que limpam os metais das escotilhas!
Homens do leme! homens das máquinas! homens dos mastros!
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
Gente de boné de pala! Gente de camisola de malha!
Gente de âncoras e bandeiras cruzadas bordadas no peito!
Gente tatuada! gente de cachimbo! gente de amurada!
Gente escura de tanto sol, crestada de tanta chuva,
Limpa de olhos de tanta imensidade diante deles,
Audaz de rosto de tantos ventos que lhes bateram a valer!
Navegadores, mareantes, marujos, aventureiros!
Eh capitães de navios! homens ao leme e em mastros!
Homens que dormem em beliches rudes!
Homens que dormem co’o Perigo a espreitar plas vigias!
Homens que dormem co’a Morte por travesseiro!
Homens que têm tombadilhos, que têm pontes donde olhar
A imensidade imensa do mar imenso!
Eh manipuladores dos guindastes de carga!
Eh amainadores de velas, fogueiros, criados de bordo!
Homens que metem a carga nos porões!
Homens que enrolam cabos no convés!
Homens que limpam os metais das escotilhas!
Homens do leme! homens das máquinas! homens dos mastros!
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
Gente de boné de pala! Gente de camisola de malha!
Gente de âncoras e bandeiras cruzadas bordadas no peito!
Gente tatuada! gente de cachimbo! gente de amurada!
Gente escura de tanto sol, crestada de tanta chuva,
Limpa de olhos de tanta imensidade diante deles,
Audaz de rosto de tantos ventos que lhes bateram a valer!
(Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, pp. 117–118)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Férias,
Heterónimos e afins,
Viagem/Turismo
18 agosto 2009
Atravessando a Mazóvia de comboio
Azuis os montes que estão longe param.
De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
Débil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrúpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vário, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às férias em que existo.
De eles a mim o vário campo ao vento, à brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
Débil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrúpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vário, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às férias em que existo.
(Ricardo Reis, Poesia, II, 126, p. 125)
Etiquetas:
* Ricardo Reis,
Férias,
Heterónimos e afins,
Viagem/Turismo
16 agosto 2009
15 agosto 2009
Amanhã parto para a terra do Rei Ubu*
Faz as malas para Parte Nenhuma!
* «L’action se passe en Pologne, c’est-à-dire nulle part.» (Alfred Jarry, Ubu roi, 1896)
(Álvaro de Campos, Poesia, 177, p. 479)
* «L’action se passe en Pologne, c’est-à-dire nulle part.» (Alfred Jarry, Ubu roi, 1896)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Férias,
Heterónimos e afins,
Teatro,
Viagem/Turismo
14 agosto 2009
624 anos da Batalha de Aljubarrota (1385)
NUN’ÁLVARES PEREIRA
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, IV, p. 113)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Guerra,
História de Portugal
10 agosto 2009
Opinion makers portugueses
É interessante, embora doloroso, analisar os processos mentais dos argumentados escreventes portugueses. Podem resumir-se em um — a incapacidade de argumento. Tanta lei, tanta lei, e não haver uma lei que proíba o exercício ilegal do raciocínio!
(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 150, p. 424)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Censura,
Comentadores,
Crítica,
Estupidez
06 agosto 2009
64 anos do lançamento da primeira bomba atómica, sobre Hiroshima (1945)
Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
A criação do futuro...
Longe, ainda uma luz doura
A criação do futuro...
(Fernando Pessoa, “Tomámos a vila depois dum intenso bombardeamento”,
Poesia (1918–1930), p. 331)
Poesia (1918–1930), p. 331)
04 agosto 2009
431 anos da Batalha de Alcácer-Quibir (1578)
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
(Fernando Pessoa, “Liberdade”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 378)
«Fernando Pessoa encontra D. Sebastião num caixão sobre um burro ajaezado à andaluza»
Pintura de Júlio Pomar (1985)
Pintura de Júlio Pomar (1985)
03 agosto 2009
03 Ago 1968: Salazar caía (literalmente) da cadeira
Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas faltam-me o sossego, o chá e a esteira.
Ah que bom que era ir daqui de caída
Prà cova por um alçapão de estouro!
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas faltam-me o sossego, o chá e a esteira.
Ah que bom que era ir daqui de caída
Prà cova por um alçapão de estouro!
(Álvaro de Campos, “Opiário”, Poesia, 5, pp. 65–66)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
História de Portugal,
Salazar
31 julho 2009
50 anos da fundação da organização terrorista ETA (1959)
Vou atirar uma bomba ao destino.
(Álvaro de Campos, Poesia, 42, p. 264)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Terrorismo,
Violência
30 julho 2009
Crítica literária
A crítica, de resto, é apenas a forma suprema e artística da maledicência. É preferível que seja justa, mas não é absolutamente necessário que o seja. [...]
[...] Espetar alfinetes na alma alheia, dispondo esses alfinetes em desenhos que aprazam à nossa atenção futilmente concentrada, para que o nosso tédio se vá esvaindo — eis um passatempo deliciosamente de crítico, e ao qual juramos fidelidade.
[...] Espetar alfinetes na alma alheia, dispondo esses alfinetes em desenhos que aprazam à nossa atenção futilmente concentrada, para que o nosso tédio se vá esvaindo — eis um passatempo deliciosamente de crítico, e ao qual juramos fidelidade.
(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, pp. 91–92)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Crítica,
Justiça,
Literatura
Crítica literária “bulldozer”
Destina-se esta secção à crítica dos maus livros e especialmente à crítica daqueles maus livros que toda a gente considera bons. O livro, consagrado por qualidades que não tem, do homem consagrado por qualidades com que outros o pintaram; o livro daquele que, tendo criado fama, se deitou a fingir que dormia; o livro do que entrou no palácio das musas pela janela ou colheu a maçã da sabedoria com o auxílio dum escadote — tudo isto se pesará na Balança de Minerva.
[...] pretendemos dar a entender que o nosso uso da Balança de Minerva limitar-se-á, na maioria dos casos, a dar com ela — pesos e tudo — na cabeça do criticado. Isso, de resto, não deve preocupar ninguém. Quem tiver de ser imortal pode sê-lo mesmo com a cabeça partida. [...]
[...] pretendemos dar a entender que o nosso uso da Balança de Minerva limitar-se-á, na maioria dos casos, a dar com ela — pesos e tudo — na cabeça do criticado. Isso, de resto, não deve preocupar ninguém. Quem tiver de ser imortal pode sê-lo mesmo com a cabeça partida. [...]
(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, pp. 91–92)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Crítica,
Estética,
Fama,
Justiça,
Literatura
29 julho 2009
28 julho 2009
95 anos do início da I Guerra Mundial (1914)
Ruído longínquo e próximo não sei porquê
Da guerra europeia... Ruído de universo de catástrofe...
Que vai morrer para além de onde ouvimos e vemos?
Em que fronteiras deu a morte rendez-vous
Ao destino das nações?
Ó Águia Imperial, cairás?
Rojar-te-ás, negra amorfa coisa em sangue,
Pela terra, onde sob o teu cair
Ainda tens marcado o sinal das tuas garras para antes formar o voo
Que deste sobre a Europa confusa?
Da guerra europeia... Ruído de universo de catástrofe...
Que vai morrer para além de onde ouvimos e vemos?
Em que fronteiras deu a morte rendez-vous
Ao destino das nações?
Ó Águia Imperial, cairás?
Rojar-te-ás, negra amorfa coisa em sangue,
Pela terra, onde sob o teu cair
Ainda tens marcado o sinal das tuas garras para antes formar o voo
Que deste sobre a Europa confusa?
(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 23b, pp. 148–149)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Europa,
Guerra,
Heterónimos e afins
27 julho 2009
39 anos da morte de Salazar (1970)
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
(Álvaro de Campos, Poesia, 67, p. 305)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Falecimento,
Heterónimos e afins,
História de Portugal,
Morte,
Salazar,
Tragédia
24 julho 2009
Superioridade da Arte e da Ciência sobre a Política
GAZETILHA
Dos Lloyd Georges da BabilóniaNão reza a história nada.
Dos Briands da Assíria ou do Egipto,
Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.
Só o parvo dum poeta, ou um louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tanto pouco
Que está lá para trás no escuro
E nem a história já historia.
Ó grandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!
(Álvaro de Campos, Poesia, 77, p. 328)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Arte,
Ciência,
Heterónimos e afins,
História,
Imortalidade,
Política
22 julho 2009
Iconografia pessoana
«Alberto Caeiro»
Pintura de Lívio de Morais (1998)
Pintura de Lívio de Morais (1998)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Heterónimos e afins,
Iconografia
21 julho 2009
2364 anos da destruição do Templo de Ártemis em Éfeso (356 AC)
Contudo, é admissível pensar que existe uma espécie de grandeza em Heróstrato — uma grandeza que ele não partilha com arrivistas menores que irromperam na fama inopinadamente. Sendo grego, pode conceber-se que possuía a percepção refinada e o calmo delírio da beleza que ainda distinguem a memória do seu clã de gigantes. É, pois, concebível que tenha incendiado o templo de Diana num êxtase de dor, queimando parte de si mesmo na fúria da sua malvada façanha. Podemos legitimamente conceber que tivesse superado os apertos de um remorso futuro, e enfrentado um horror íntimo para alcançar uma fama duradoura.
(Fernando Pessoa, “Heróstrato ou o futuro da celebridade”,
Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 362; em inglês no original)
Prosa Íntima e de Autoconhecimento, p. 362; em inglês no original)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Fama,
Grécia,
Imortalidade,
Loucura
18 julho 2009
312 anos da morte de Padre António Vieira (1697)
Cada um de nós tem um Quinto Império no bairro [...]
(Fernando Pessoa, “Ecolalia interior”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 3, p. 79)
17 julho 2009
Dia Mundial para a Justiça Internacional
[...] A injustiça, aliás, é a justiça dos fortes. [...]
(Fernando Pessoa, “Balança de Minerva — Aferição”, Crítica, p. 91)
16 julho 2009
15 julho 2009
Início da época de saldos
É um universo barato.
(Álvaro de Campos, Poesia, 143, p. 433)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Economia/Finanças,
Heterónimos e afins
14 julho 2009
220 anos da tomada da Bastilha (1789)
Visando o estabelecimento da liberdade, a Revolução Francesa suprimiu-a toda; inverteu os termos da opressão, nada mais.
A Revolução Francesa foi um renascimento do Cristianismo. O seu célebre triplo lema é o lema substancial da sensibilidade cristã. Liberdade, Igualdade, Fraternidade — outros não são os ensinamentos essenciais do Evangelho jesuísta.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 48, p. 258)
A Revolução Francesa foi um renascimento do Cristianismo. O seu célebre triplo lema é o lema substancial da sensibilidade cristã. Liberdade, Igualdade, Fraternidade — outros não são os ensinamentos essenciais do Evangelho jesuísta.
(Ricardo Reis, Prosa, 5, p. 61)
11 julho 2009
11 Jul 1947: o Exodus zarpava para a Terra Santa
Estou liberto e decidido
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 18)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
Heterónimos e afins,
Holocausto,
Israel,
Judaísmo,
Liberdade
10 julho 2009
09 julho 2009
Criacionismo
[...] saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 279)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Ciência,
Heterónimos e afins,
Religião
07 julho 2009
Reunião dos Ministros da Economia e das Finanças (Ecofin) da União Europeia
Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 279)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Economia/Finanças,
Europa,
Governo,
Heterónimos e afins
04 julho 2009
233 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776)
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!
(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 281)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
EUA,
Heterónimos e afins,
Liberdade,
Revolução/Revolta
02 julho 2009
01 julho 2009
As incertezas dos tempos que correm
Que lindo dia o que vemos!
Mas, como estes tempos vão,
É bom que não confiemos...
É melhor dizer que temos,
Não um dia de verão,
Mas um dia de veremos.
Mas, como estes tempos vão,
É bom que não confiemos...
É melhor dizer que temos,
Não um dia de verão,
Mas um dia de veremos.
(Fernando Pessoa, “Diferença de Pessoa”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 486)
28 junho 2009
95 anos do assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo (1914)
Todo começo é involuntário.
(Fernando Pessoa, “O Conde D. Henrique”, Mensagem, Primeira Parte, II, Terceiro, p. 87)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Crime,
Falecimento,
Guerra
26 junho 2009
Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura
We torture our brother men with hate, spite, evil, and then say “the world is bad”.
[ Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos «o mundo é mau». ]
[ Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos «o mundo é mau». ]
(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 20; em inglês no original)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Mal,
Ódio,
Tortura
25 junho 2009
Irmã Lúcia, 25 de Junho de 2000
Tenho um segredo que nem eu própri[a] conheço...
(Fernando Pessoa, Poesia (1902–1917), p. 350)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Fátima,
Religião
24 junho 2009
Dia de “São” João
No dia de S. João
Há fogueiras e folias.
Gozam uns e outros não,
Tal qual como os outros dias.
Há fogueiras e folias.
Gozam uns e outros não,
Tal qual como os outros dias.
(Fernando Pessoa, Quadras, II, 200, p. 104)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Estado de espírito,
Santos
22 junho 2009
68 anos do início da Operação Barbarossa (1941)
[...] onde se mostrou, mais uma inútil vez, que a coragem física não é, em geral, acompanhada duma grande lucidez intelectual.
(Fernando Pessoa, “Carta a um Herói Estúpido”, Da República (1910–1935), 83, pp. 195–196)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Guerra,
União Soviética
21 junho 2009
20 junho 2009
Dia Mundial do Refugiado
Como que nu me sinto e exilado
Entre coisas estranhas, [...]
Entre coisas estranhas, [...]
(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, Quadro X, p. 84)
19 junho 2009
386 anos do nascimento de Blaise Pascal (1623)
Pascal era um teólogo em verso, que escreveu em prosa.
(Fernando Pessoa, Textos Filosóficos, vol. I, IV, 46, p. 135)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Ciência,
Nascimento,
Religião
18 junho 2009
194 anos da Batalha de Waterloo (1815)
Napoleão disse que não conhecia a palavra impossível, mas deve tê-la encontrado em Moscovo e Waterloo, se a não tinha visto antes.
(Álvaro de Campos, “Ritmo Paragráfico”, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 272)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
* Álvaro de Campos,
Guerra,
Heterónimos e afins
16 junho 2009
Iconografia pessoana
Painel de azulejos no “Martinho da Arcada”
(fotografia: Emma’s House in Portugal)
(fotografia: Emma’s House in Portugal)
15 junho 2009
311 DC: Licínio ordena o fim da perseguição aos cristãos no Império Romano do Oriente
Sabe-se hoje que grande parte das perseguições feitas aos cristãos [...] são puramente míticas, sendo das variadíssimas invenções dos propagandistas primitivos do Cristianismo.
(Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 49, pp. 260–261)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Cristianismo,
Império Romano,
Liberdade,
Opressão
13 junho 2009
121 anos do nascimento de Fernando Pessoa (1888)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Eu era feliz e ninguém estava morto.
(Álvaro de Campos, “Aniversário”, Poesia, 126, p. 403)
Heteronímia
Sou um evadido,
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi
(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 47)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Heterónimos e afins
Iconografia pessoana
Fernando Pessoa, com poucas semanas de idade, ao colo da mãe.
(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 26)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Família,
Fotografias,
Iconografia,
Mãe/Pai
Pessoa: grande demais para o país onde viveu
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
(Álvaro de Campos, “Tabacaria”, Poesia, 75, p. 322)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Portugal
12 junho 2009
24 anos do Tratado de Adesão de Portugal à CEE (1985)
Temos vivido por empréstimo a vida europeia. Salvo quando fizemos as descobertas, fomos sempre atrás dos últimos.
(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 178, p. 311)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Descobertas,
Europa,
História de Portugal,
Portugal
11 junho 2009
Iconografia pessoana
«Ilustração sobre Tabacaria»
de Nádia
de Nádia
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Iconografia
10 junho 2009
Dia de Portugal...
Arre, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
(Álvaro de Campos, Poesia, 21, p. 145)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Portugal
... de Camões...
Resta dizer, de Camões, que não chegou para o que foi. Grande como é, não passou do esboço de si próprio. [...] A epopeia que Camões escreveu pede que aguardemos a epopeia que ele não pôde escrever. A maior coisa nele é o não ser grande bastante para os semideuses que celebrou.
(Fernando Pessoa, Crítica, p. 216)
Etiquetas:
“Mensagem”,
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Camões,
Descobertas
... e das Comunidades Portuguesas
Sós nas grandes cidades desamigas,
Sem falar a língua que se fala nem a que se pensa,
Mutilados da relação com os outros,
Que depois contarão na pátria os triunfos da sua estada.
Coitados dos que conquistam Londres e Paris!
Voltam ao lar sem melhores maneiras nem melhores caras
Apenas sonharam de perto o que viram —
Permanentemente estrangeiros.
Sem falar a língua que se fala nem a que se pensa,
Mutilados da relação com os outros,
Que depois contarão na pátria os triunfos da sua estada.
Coitados dos que conquistam Londres e Paris!
Voltam ao lar sem melhores maneiras nem melhores caras
Apenas sonharam de perto o que viram —
Permanentemente estrangeiros.
(Álvaro de Campos, “Os Emigrados”, Poesia, 35, p. 256)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Emigração,
Heterónimos e afins,
Portugal
08 junho 2009
Dia Mundial dos Oceanos
Toda a vida marítima! tudo na vida marítima!
Insinua-se no meu sangue toda essa sedução fina
E eu cismo indeterminadamente as viagens.
Ah, as linhas das costas distantes, achatadas pelo horizonte!
Ah, os cabos, as ilhas, as praias areentas!
As solidões marítimas como certos momentos no Pacífico
Em que não sei por que sugestão aprendida na escola
Se sente pesar sobre os nervos o facto de que aquele é o maior dos oceanos
E o mundo e o sabor das coisas tornam-se um deserto dentro de nós!
A extensão mais humana, mais salpicada, do Atlântico!
O Índico, o mais misterioso dos oceanos todos!
O Mediterrâneo, doce, sem mistério nenhum, clássico, um mar para bater
De encontro a esplanadas olhadas de jardins próximos por estátuas brancas!
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer!
Insinua-se no meu sangue toda essa sedução fina
E eu cismo indeterminadamente as viagens.
Ah, as linhas das costas distantes, achatadas pelo horizonte!
Ah, os cabos, as ilhas, as praias areentas!
As solidões marítimas como certos momentos no Pacífico
Em que não sei por que sugestão aprendida na escola
Se sente pesar sobre os nervos o facto de que aquele é o maior dos oceanos
E o mundo e o sabor das coisas tornam-se um deserto dentro de nós!
A extensão mais humana, mais salpicada, do Atlântico!
O Índico, o mais misterioso dos oceanos todos!
O Mediterrâneo, doce, sem mistério nenhum, clássico, um mar para bater
De encontro a esplanadas olhadas de jardins próximos por estátuas brancas!
Todos os mares, todos os estreitos, todas as baías, todos os golfos,
Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e morrer!
(Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, pp. 112–113)
06 junho 2009
65 anos do início do Desembarque na Normandia (Dia D, Operação Overlord)
Tudo é incerto e derradeiro.
[...]
É a Hora!
Valete, Fratres.
[...]
É a Hora!
Valete, Fratres.
(Fernando Pessoa, “Nevoeiro”, Mensagem, Terceira Parte, III, p. 191)
04 junho 2009
20 anos do massacre de manifestantes pró-democracia na Praça Tiananmen (1989)
Sê lanterna, dá luz com vidro à roda.
Porém o calor guarda.
Não poderão os ventos opressivos
Apagar tua luz;
Nem teu calor, disperso, irá ser frio
No inútil infinito.
Porém o calor guarda.
Não poderão os ventos opressivos
Apagar tua luz;
Nem teu calor, disperso, irá ser frio
No inútil infinito.
(Ricardo Reis, Poesia, II, 103, pp. 113–114)
Etiquetas:
* Ricardo Reis,
Comunismo,
Democracia,
Heterónimos e afins,
Liberdade,
Opressão
01 junho 2009
Dia Internacional da Criança
Pintura de João Luiz Roth
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
(Fernando Pessoa, “Liberdade”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 378)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Iconografia,
Infância,
Poesia
31 maio 2009
Dia Mundial sem Tabaco
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Álvaro de Campos, Poesia, 75, p. 326)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Iconografia,
Saúde
28 maio 2009
83 anos da Revolução de 28 de Maio de 1926
Se a República Portuguesa falhou, não é como República, é como portuguesa.
(Fernando Pessoa, Prosa Publicada em Vida, p. 299)
24 maio 2009
672 anos do início da Guerra dos Cem Anos (1337)
Hela hoho, helahoho!
Desfilam diante de mim as civilizações guerreiras...
Numa manhã triunfal,
Numa longa linha como que pintada em minha alma,
Sucessivamente, indeterminadamente,
Couraças, lanças, capacetes brilhando,
Escudos virados para mim,
Viseiras caídas, cotas de malha,
Os prélios, as justas, os combates, as emboscadas.
Archeiros de Crecy e de Azincourt!
Armas de Arras.
Desfilam diante de mim as civilizações guerreiras...
Numa manhã triunfal,
Numa longa linha como que pintada em minha alma,
Sucessivamente, indeterminadamente,
Couraças, lanças, capacetes brilhando,
Escudos virados para mim,
Viseiras caídas, cotas de malha,
Os prélios, as justas, os combates, as emboscadas.
Archeiros de Crecy e de Azincourt!
Armas de Arras.
(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 23c, pp. 152–153)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Europa,
Guerra,
Heterónimos e afins
22 maio 2009
196 anos do nascimento de Richard Wagner (1813)
É de cavalgada,
É de cavalgada, de cavalgada,
É de cavalgada, de cavalgada, de cavalgada
O ruído, ruído, ruído agora já nítido.
Vejo-as no coração e no horror que há em mim:
Valquírias, bruxas, amazonas do assombro...
É de cavalgada, de cavalgada,
É de cavalgada, de cavalgada, de cavalgada
O ruído, ruído, ruído agora já nítido.
Vejo-as no coração e no horror que há em mim:
Valquírias, bruxas, amazonas do assombro...
(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 23a, p. 147)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Guerra,
Heterónimos e afins,
Música,
Nascimento
20 maio 2009
511 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia (1498)
Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho.
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho.
(Álvaro de Campos, “Opiário”, Poesia, 5, p. 63)
(autor nosso desconhecido; agradecemos qualquer informação)
Dia da Marinha
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa, Mensagem, Segunda Parte, X, p. 147)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Descobertas,
Militares,
Portugal
19 maio 2009
Dia Mundial da Hepatite
o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive [...]
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 258, p. 254)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Heterónimos e afins,
Saúde
18 maio 2009
Dia Internacional dos Museus
Atribuo a este estado de alma a minha repugnância pelos museus. O museu, para mim, é a vida inteira, em que a pintura é sempre exacta, e só pode haver inexactidão na imperfeição do contemplador.
(Bernardo Soares, “O Amante Visual”, Livro do Desassossego, p. 466)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Arte,
Estado de espírito,
Estética,
Heterónimos e afins
17 maio 2009
Dia Internacional contra a Homofobia
Bolas para a gente ter que aturar isto! [...] Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte.
(Álvaro de Campos, “Aviso por Causa da Moral”, Crítica, p. 200)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Homossexualidade,
Liberdade,
Moral,
Sexo
16 maio 2009
15 maio 2009
Dia Internacional do Objector de Consciência
A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 160, p. 174)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Estupidez,
Guerra,
Heterónimos e afins,
Paz/Pacifismo,
Violência
13 maio 2009
Fátima, Futebol e Fado
Ah, sempre me contentou que a plebe se divertisse.
(Álvaro de Campos, Poesia, 45, p.267)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Fátima,
Futebol,
Heterónimos e afins,
Povo,
Religião
Fé e virtudes dos reaccionários portugueses
Uma coisa, e uma só, me preocupa: que com este artigo eu contribua, em qualquer grau, para estorvar os reaccionários portugueses em um dos seus maiores e mais justos prazeres — o de dizer asneiras. Confio, porém, na solidez pétrea das suas cabeças e nas virtudes imanentes naquela fé firme e totalitária que dividem, em partes iguais, entre Nossa Senhora de Fátima e o senhor D. Duarte Nuno de Bragança.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, pp. 201–202)
12 maio 2009
Dia Internacional dos Enfermeiros
A vida é um hospital
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.
(Fernando Pessoa, Quadras, I, 159, p. 50)
10 maio 2009
Egocentrismo
Há qualquer coisa de vil, de degradante, nesta transposição das nossas mágoas para o universo inteiro;
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 31)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
Astrologia,
Estado de espírito,
Heterónimos e afins,
Tristeza
Astrologia
[...] o sermos tristes nada prova sobre o estado moral dos astros,
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 56)
Carta astral de Fernando Pessoa, feita pelo próprio
08 maio 2009
O Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC, “Novas Oportunidades”) explicado às criancinhas
[...] conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
(Álvaro de Campos, “Tabacaria”, Poesia, 75, p. 320)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Educação,
Heterónimos e afins
06 maio 2009
Saiu hoje: relatório da Aliança Europeia de Segurança Infantil
Bem sei que tudo é natural
Mas ainda tenho coração...
Boa noite e merda!
(Estala, meu coração!)
(Merda para a humanidade inteira!)
Na casa da mãe do filho que foi atropelado,
Tudo ri, tudo brinca.
E há um grande ruído de buzinas sem conta a lembrar
Receberam a compensação:
Bebé igual a X,
Gozam o X neste momento,
Comem e bebem o bebé morto,
Bravo! São gente!
Bravo! São a humanidade!
Bravo: são todos os pais e todas as mães
Que têm filhos atropeláveis!
Como tudo esquece quando há dinheiro.
Bebé igual a X.
Com isso se forrou a papel uma casa.
Com isso se pagou a última prestação da mobília.
Coitadito do Bebé.
Mas, se não tivesse sido morto por atropelamento, que seria das contas?
Sim, era amado.
Sim, era querido
Mas morreu.
Paciência, morreu!
Que pena, morreu!
Mas deixou o com que pagar contas
E isso é qualquer coisa.
(É claro que foi uma desgraça)
Mas agora pagam-se as contas.
(É claro que aquele pobre corpinho
Ficou triturado)
Mas agora, ao menos, não se deve na mercearia.
(É pena sim, mas há sempre um alívio.)
O bebé morreu, mas o que existe são dez contos.
Isso, dez contos.
Pode fazer-se muito (pobre bebé) com dez contos.
Pagar muitas dívidas (bebézinho querido)
Com dez contos.
Pôr muita coisa em ordem
(Lindo bebé que morreste) com dez contos.
Bem se sabe é triste
(Dez contos)
Uma criancinha nossa atropelada
(Dez contos)
Mas a visão da casa remodelada
(Dez contos)
De um lar reconstituído
(Dez contos)
Faz esquecer muitas coisas (como o choramos!)
Dez contos!
Parece que foi por Deus que os recebeu
(Esses dez contos).
Pobre bebé trucidado!
Dez contos.
Mas ainda tenho coração...
Boa noite e merda!
(Estala, meu coração!)
(Merda para a humanidade inteira!)
Na casa da mãe do filho que foi atropelado,
Tudo ri, tudo brinca.
E há um grande ruído de buzinas sem conta a lembrar
Receberam a compensação:
Bebé igual a X,
Gozam o X neste momento,
Comem e bebem o bebé morto,
Bravo! São gente!
Bravo! São a humanidade!
Bravo: são todos os pais e todas as mães
Que têm filhos atropeláveis!
Como tudo esquece quando há dinheiro.
Bebé igual a X.
Com isso se forrou a papel uma casa.
Com isso se pagou a última prestação da mobília.
Coitadito do Bebé.
Mas, se não tivesse sido morto por atropelamento, que seria das contas?
Sim, era amado.
Sim, era querido
Mas morreu.
Paciência, morreu!
Que pena, morreu!
Mas deixou o com que pagar contas
E isso é qualquer coisa.
(É claro que foi uma desgraça)
Mas agora pagam-se as contas.
(É claro que aquele pobre corpinho
Ficou triturado)
Mas agora, ao menos, não se deve na mercearia.
(É pena sim, mas há sempre um alívio.)
O bebé morreu, mas o que existe são dez contos.
Isso, dez contos.
Pode fazer-se muito (pobre bebé) com dez contos.
Pagar muitas dívidas (bebézinho querido)
Com dez contos.
Pôr muita coisa em ordem
(Lindo bebé que morreste) com dez contos.
Bem se sabe é triste
(Dez contos)
Uma criancinha nossa atropelada
(Dez contos)
Mas a visão da casa remodelada
(Dez contos)
De um lar reconstituído
(Dez contos)
Faz esquecer muitas coisas (como o choramos!)
Dez contos!
Parece que foi por Deus que os recebeu
(Esses dez contos).
Pobre bebé trucidado!
Dez contos.
(Álvaro de Campos, Poesia, 114, pp. 385–387)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Heterónimos e afins,
Morte
Acordo Ortográfico (I)
O argumento da uniformização é uma coisa, a base em que uniformizar é outra. Sobre as vantagens da uniformização ortográfica estamos, creio, todos de acordo; não o estamos sobre a ortografia que haja de ser a uniforme.
Também não o estaremos, suponho, sobre a imposição da ortografia. Que, tomada certa ortografia por oficial, dela use o Estado nas suas publicações, não é mais que inevitável e justo. Sobre o que sejam, para este efeito, «publicações do Estado» haverá um pouco mais de dúvida. Os documentos oficiais, «Diários do Governo», etc. por certo que são publicações do Estado. Os livros de estudo primário — isto é, os por onde se aprenda a ler — usados nas escolas do Estado, também o serão. Que tem, porém, o Estado com os livros que se empregam nas escolas particulares? Que tem com os livros que servem, não para ensinar a ler, mas para ensinar coisas que neles se lêem?
A ortografia é um fenómeno da cultura, e portanto um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.
No Brasil a chamada reforma ortográfica não foi aceite, nem ainda hoje, depois de assente em acordo entre os governos português e brasileiro, é aceite. Quis-se impor uma coisa com que o Estado nada tem a um povo que a repugna.
Também não o estaremos, suponho, sobre a imposição da ortografia. Que, tomada certa ortografia por oficial, dela use o Estado nas suas publicações, não é mais que inevitável e justo. Sobre o que sejam, para este efeito, «publicações do Estado» haverá um pouco mais de dúvida. Os documentos oficiais, «Diários do Governo», etc. por certo que são publicações do Estado. Os livros de estudo primário — isto é, os por onde se aprenda a ler — usados nas escolas do Estado, também o serão. Que tem, porém, o Estado com os livros que se empregam nas escolas particulares? Que tem com os livros que servem, não para ensinar a ler, mas para ensinar coisas que neles se lêem?
A ortografia é um fenómeno da cultura, e portanto um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.
No Brasil a chamada reforma ortográfica não foi aceite, nem ainda hoje, depois de assente em acordo entre os governos português e brasileiro, é aceite. Quis-se impor uma coisa com que o Estado nada tem a um povo que a repugna.
(Fernando Pessoa, “Ortografia”, Pessoa Inédito, 119, p. 248)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Brasil,
Língua Portuguesa,
Política
Acordo Ortográfico (II)
Depois de trabalho vário
Ando triste como vê.
Não entendo o dicionário,
Não conheço o abecedário,
Caturra! O que fez você!
[...]
Escreve lá à tua moda
Na minha eu hei-de ficar;
Não m’importo com a roda
Quem está bem deixa-se estar!
Ando triste como vê.
Não entendo o dicionário,
Não conheço o abecedário,
Caturra! O que fez você!
[...]
Escreve lá à tua moda
Na minha eu hei-de ficar;
Não m’importo com a roda
Quem está bem deixa-se estar!
(Dr. Pancrácio, “Falar e Escrever”, Pessoa por Conhecer, vol. II, 110, pp. 152–153)
Etiquetas:
* Dr. Pancrácio,
Heterónimos e afins,
Língua Portuguesa
04 maio 2009
Dia Internacional dos Bombeiros
Vou tanger lira como Nero.
Mas o incêndio não é preciso.
Mas o incêndio não é preciso.
(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 342)
Arte digital de Celito Medeiros
03 maio 2009
Dia Mundial da Liberdade de Imprensa
Sucede, porém, uma coisa — sucedeu há cinco minutos — que me confirma em uma decisão que estava incerta, e que me inibe de dar colaboração para a Presença, ou para qualquer outra publicação aqui do país, ou de publicar qualquer livro.
Desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na distribuição de prémios no Secretariado da Propaganda Nacional, ficámos sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da Censura, «não se pode dizer isto ou aquilo», pela regra soviética do Poder, «tem que se dizer aquilo ou isto». Em palavras mais claras, tudo quanto escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro) do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado às directrizes traçadas pelos orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer, suponho, que não poderá haver legitimamente manifestação literária em Portugal que não inclua qualquer referência ao equilíbrio orçamental, à composição corporativa (também não sei o que seja) da sociedade portuguesa e as outras engrenagens da mesma espécie.
Desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na distribuição de prémios no Secretariado da Propaganda Nacional, ficámos sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da Censura, «não se pode dizer isto ou aquilo», pela regra soviética do Poder, «tem que se dizer aquilo ou isto». Em palavras mais claras, tudo quanto escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro) do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado às directrizes traçadas pelos orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer, suponho, que não poderá haver legitimamente manifestação literária em Portugal que não inclua qualquer referência ao equilíbrio orçamental, à composição corporativa (também não sei o que seja) da sociedade portuguesa e as outras engrenagens da mesma espécie.
(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 168, p. 358)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Censura,
Comunismo,
Ditadura,
Estado Novo,
Imprensa,
Liberdade,
Poder,
Propaganda,
Salazar,
União Soviética
02 maio 2009
41 anos do Maio de 68
Toda a revolução é essencialmente inútil. [...] Uma revolução pode pois definir-se «um modo violento de deixar tudo na mesma».
(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 45, pp. 71–72)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Ideologias,
Política,
Revolução/Revolta,
Utopias
É mais fácil assim...
First be free; then ask for freedom.
[ Primeiro sê livre; depois pede a liberdade. ]
[ Primeiro sê livre; depois pede a liberdade. ]
(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 59; em inglês no original)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Liberdade,
Revolução/Revolta
01 maio 2009
Dia do Trabalhador
Tudo, quanto penso ou sinto, inevitavelmente se me volve em modos de inércia.
(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 36)
Etiquetas:
* Barão de Teive,
Apatia,
Estado de espírito,
Heterónimos e afins,
Inércia,
Trabalho
30 abril 2009
64 anos da morte de Adolf Hitler (1945)
E tudo isto são coisas que nem o suicídio cura.
(Álvaro de Campos, Poesia, 119, p. 394)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Alemanha,
Falecimento,
Heterónimos e afins,
Hitler,
Morte,
Nazismo,
Suicídio
28 abril 2009
120 anos do nascimento de Salazar (1889)
Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Fica só azar, é natural.
Oh, c’os diabos!
Parece que já choveu...
(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), pp. 379–380)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Nascimento,
Salazar
Dia Mundial da Segurança no Trabalho
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 86)
27 abril 2009
Mal sabes tu o que o dia de amanhã te reserva...
Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!
(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, Poesia, 24a, p. 164)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Estado de espírito,
Estupidez,
Heterónimos e afins,
Salazar
25 abril 2009
25 Abr 1974: Dia da Liberdade
Tardava o dia como a felicidade e àquela hora parecia que também indefinidamente.
(Bernardo Soares, “Paisagem de Chuva”, Livro do Desassossego, 240, p. 237)
24 abril 2009
Movimento das Forças Armadas, 24 de Abril de 1974
Pelo jardim secreto
Na véspera do fim.
Na véspera do fim.
(Fernando Pessoa, “Presságio”, Poesia (1918–1930), p. 264)
23 abril 2009
Dia Internacional do Livro
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
[...]
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
[...]
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
(Fernando Pessoa, “Liberdade”, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 378)
Estátua na Praça do Teatro Nacional de São Carlos
Foto de André Garrido (blogue Dia a Dia por Fotografia)
Foto de André Garrido (blogue Dia a Dia por Fotografia)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Cristianismo,
Iconografia,
Liberdade,
Literatura,
Livros
“Literatura” light
Nunca faz mal o que escrevas
Desde que não escrevas nada
Desde que não escrevas nada
(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 363)
22 abril 2009
Dia da Terra
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, XXI”,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 71)
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 71)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Ambiente/Natureza,
Heterónimos e afins,
Terra
Gaia
Só a Natureza é divina, e ela não é divina...
(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, XXVII”,
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 77)
Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 77)
Etiquetas:
* Alberto Caeiro,
Ambiente/Natureza,
Heterónimos e afins,
Terra
21 abril 2009
Entrevista de José Sócrates à RTP
Saber iludir-se bem é a primeira qualidade do estadista.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 275, p. 267)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Governo,
Heterónimos e afins,
Política
20 abril 2009
120 anos do nascimento de Adolf Hitler (1889)
Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.
(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 237, p. 235)
Etiquetas:
* Bernardo Soares,
Alemanha,
Heterónimos e afins,
Hierarquia,
Hitler,
Nascimento,
Nazismo,
Opressão,
Poder
19 abril 2009
18 abril 2009
Ainda (infelizmente) o “eduquês”
Como todas as coisas com ar de certas, e que se espalham, isto é asneira; se o não fosse, não se teria espalhado.
(Álvaro de Campos, Pessoa por Conhecer, vol. II, 372, p. 415)
Etiquetas:
* Álvaro de Campos,
Ciências da Educação,
Educação,
Heterónimos e afins
Os problemas da Educação (entre outros) também passam por aqui...
Que ideias gerais temos? As que vamos buscar ao estrangeiro. Nem as vamos buscar aos movimentos filosóficos profundos do estrangeiro; vamos buscá-las à superfície, ao jornalismo de ideias. E assim as ideias que adoptamos, sem alteração nem crítica, são ou velhas ou superficiais.
(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 8, p. 85)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Educação,
Filosofia,
Política,
Portugal
Povo
O povo não é educável, porque é povo. Se fosse possível convertê-lo em indivíduos, seria educável, seria educado, porém já não seria povo.
(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 375)
Etiquetas:
* Fernando Pessoa (ortónimo),
Cultura,
Educação,
Indivíduo,
Povo
16 abril 2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)