29 dezembro 2011

52 anos da inauguração do Metropolitano de Lisboa (1959)

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!

(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 86)

28 dezembro 2011

Também não me lembra nada nem ninguém...

[...] passai por baixo do meu Desprezo! [...]
[...]
Passai, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!
Passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-teorias!
Passai, gigantes de formigueiro, [...]
Passai, esterco epileptóide sem grandezas, histerialixo dos espectáculos, [...]
Passai, bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!
Passai à esquerda do meu Desdém virado à direita, [...]
[...]
Passai, «finas sensibilidades» pela falta de espinha dorsal; [...]
[...]
Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia, do tamanho exacto do Possível!
Eu, ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!
Ergo-me, ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, pp. 282, 283 e 286)

27 dezembro 2011

Não me lembra nada nem ninguém...

OLIGARQUIA DAS BESTAS


Lama de portugueses, esterco de gente, sem uma ideia grande nem um sentimento generoso, [...]

(Fernando Pessoa, Da República (1910–1935), 75, p. 181)

25 dezembro 2011

«Chove. É dia de Natal.»


Canal do YouTube: Ode a Pessoa


(Fernando Pessoa, Poesia (1918–1930), p. 423)

23 dezembro 2011

De presentes, sim...

Quem tem as flores não precisa de Deus.

(Alberto Caeiro, Aforismos e afins, p. 68)

20 dezembro 2011

Iconografia pessoana

Fernando Pessoa sentado numa escada
Fernando Pessoa, com 16 anos, em Durban
(pormenor)


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 46)

18 dezembro 2011

1 ano da auto-imolação do tunisino Mohamed Bouazizi, início de uma série de protestos e revoluções pelo Médio Oriente e Norte de África (2010)

Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,

(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 88)

17 dezembro 2011

108 anos da realização do primeiro voo de um dispositivo mais pesado do que o ar, pelos irmãos Orville e Wilbur Wright (1903)

Dispam-me o peso do meu corpo!
Troquem a alma por asas abstractas, ligadas a nada!
Nem asas, mas a Asa enorme de Voar!
Nem Voar mas o que fica de veloz quando cessar é voar
E não há corpo que pese na alma de ir!

(Álvaro de Campos, “Saudação a Walt Whitman”, Poesia, 24p, pp. 182–183)

14 dezembro 2011

59 anos da morte de Teixeira de Pascoaes (1952)

[...] Quando leio Pascoaes farto-me de rir. Nunca fui capaz de ler uma coisa dele até ao fim. Um homem que descobre sentidos ocultos nas pedras, sentimentos humanos nas árvores, que faz gente dos poentes e das madrugadas [].

(Alberto Caeiro entrevistado por Alexander Search, Poemas Completos de Alberto Caeiro, pp. 213–214)

11 dezembro 2011

Iconografia pessoana

Ilustração de Rodrigo Prazeres Saias
para a revista Egoísta (fevereiro 2008)

09 dezembro 2011

Alemanha, França e Reino Unido mantêm o impasse na resolução da situação europeia

O que é preciso ter é [...] uma noção do meio internacional, de não ter a alma (ainda que obscuramente) limitada pela nacionalidade. [...] É preciso ter a alma na Europa.

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 180, p. 314)

08 dezembro 2011

147 anos da publicação do “Syllabus Errorum” do Papa Pio IX (1864)

Partem de 4 grandes classes os erros cometidos pelos homens do séc. XIX e XX em face da ciência:
(1) Reacção contra a ciência e o espírito científico por incapacidade de a compreender e de se adaptar a ela.
[...]
(1) Certos espíritos continuaram pensando e agindo como se a ciência não existisse e não contasse, resistindo-lhe, perseguindo-a. O Syllabus do desgraçado Pio IX é o mais flagrante documento desta impotência.

(Ricardo Reis, Prosa, 76, p. 245)

06 dezembro 2011

243 anos da publicação da primeira edição da Enciclopédia Britânica (1768)

Há mais de meia hora
Que estou sentado à secretária
Com o único intuito
De olhar para ela.

(Estes versos estão fora do meu ritmo.
Eu também estou fora do meu ritmo.)

Tinteiro (grande) à frente.
Canetas com aparos novos à frente.
Mais para cá papel muito limpo.
Ao lado esquerdo um volume da Enciclopédia Britânica.
Ao lado direito —
Ah, ao lado direito! —
A faca de papel com que ontem
Não tive paciência para abrir completamente
O livro que me interessava e não lerei.

Quem pudesse sintonizar tudo isto!

(Álvaro de Campos, Poesia, 214, p. 534)

05 dezembro 2011

Petição «Find the Trunk»

Petição para que a mítica Arca de Fernando Pessoa (vendida em leilão em 2008...) seja encontrada e, se possível, recuperada pelo Estado português.

petiçãowww.findthetrunk.com

03 dezembro 2011

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência

Happy the maimed, the halt, the mad, the blind —
All who, stamped separate by curtailing birth,
Owe no duty’s allegiance to mankind
Nor stand a valuing in their scheme of worth!


(Fernando Pessoa, “35 Sonnets, XXXIV”, Poesia Inglesa I, I, 1, p. 76)




[ Feliz o cego, o louco, o mutilado —
Todo o que, por um nascer diferente,
Aos homens nada deve, por marcado,
Nem à lei do valor obediente! ]


(p. 77; trad. Luísa Freire)

01 dezembro 2011

371 anos da Restauração da Independência (1640)

[...] Portugal não quer ser espanhol, nem de uma forma, nem de outra. Dos ódios que a história semeia, o ódio do português ao espanhol imperialista é o único que ficou, porque o contra os franceses que nos invadiram sob Napoleão, e o contra os ingleses que nos lançaram o Ultimatum célebre, já passaram ambos e se desradicaram de nós.

(Fernando Pessoa, “Problema Ibérico”, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 17, p. 181)

Pessoa, sempre — todos os dias: Dezembro de 2011

Calendário pessoano: Dezembro de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

29 novembro 2011

137 anos do nascimento de António Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina (1874)

Desfeito o meu cérebro,
Em coisa abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.

(Alberto Caeiro, “Poemas Inconjuntos”, 14, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 120)

27 novembro 2011

Iconografia pessoana

Praça Cidade do Luso (Lisboa)
Escultura de José João Brito

25 novembro 2011

36 anos do golpe militar que pôs fim ao PREC, Processo Revolucionário em Curso (1975)

Todo o grande partido político de oposição, ou seja, todo o partido de oposição que adquire vulto bastante para subverter um regime ou parte dele, se forma com a congregação de três elementos distintos, e não está completo, nem apto para efectuar o intuito, em torno do qual se gerou, senão quando efectivamente congrega todos esses elementos.

Esses três elementos são: um pequeno grupo de idealistas cujas ideias se infiltram abstractamente por vária gente inactiva; um grupo maior de homens de acção, atraídos pelos elementos activos e combativos do partido, e já distante psiquicamente de todo o idealismo propriamente dito; um grupo máximo de indivíduos violentos e indisciplinados, uns sinceros, outros meio sinceros, outros ainda pseudo-sinceros, que, por sua própria natureza de indisciplinados e violentos, ou desadaptados do meio, naturalmente se agregam a toda a fórmula Política que está numa oposição extrema.

Quando o regime ou fórmula, que assim formou partido, conquista o poder, desaparecem os idealistas, pelo menos na sua acção, que acabou historicamente com a realização; assumem o poder os homens práticos, os anónimos derivados dos idealistas e os mais elementos. Agregam-se, formando com estes últimos um pacto instintivo, os que querem comer do regime real. Tal é a história de todas as revoluções; por alto que seja o ideal de onde se despenharam, vêm sempre ter ao mesmo vale da sordidez humana.

Forma-se uma ditadura de inferiores. Um período revolucionário é sempre uma ditadura de inferiores.

(Fernando Pessoa, “Interregno”, Da República (1910–1935), 128, p. 383)

24 novembro 2011

Iconografia pessoana

Caricatura de Gustavo Duarte

22 novembro 2011

Piada

God is God’s best joke.

[ Deus é a melhor piada de Deus. ]

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 28; em inglês no original; a tradução é nossa)

20 novembro 2011

204 anos da entrada de Junot em Portugal, início da Primeira Invasão Francesa (1807)

[...] O «mal-francês» é o mal produzido pelos franceses, isto é, as invasões francesas. Depois delas ficou Portugal em subordinação da Inglaterra, a «leoa», em cujo poder receia o Bandarra que Portugal fique. [...]

(Fernando Pessoa, “Trovas do Bandarra”,
Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 43, p. 153)

17 novembro 2011

Dia Mundial da Filosofia

«Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...»
«A. Caeiro»
Ilustração de Neuza Monteiro


(Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos, II”, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 44)

15 novembro 2011

97 anos da morte de Sacadura Cabral (1924)

SACADURA CABRAL


No frio mar do alheio Norte,
Morto, quedou,
Servo da Sorte infiel que a sorte
Deu e tirou.

Brilha alto a chama que se apaga.
A noite o encheu.
De estranho mar que estranha plaga,
Nosso, o acolheu?

Floriu, murchou na extrema haste;
Jóia do ousar,
Que teve por eterno engaste
O céu e o mar.

(Fernando Pessoa, Poesia (1918–1930), pp. 222–223)

14 novembro 2011

163 anos da inauguração do Hospital de Rilhafoles, actual Hospital Miguel Bombarda (1848)

Peace! let the sane be set on that side and the mad on this side.

(Alexander Search, Poesia, 70, p. 144; em inglês no original)




[ Silêncio! Que os sãos fiquem daí e os loucos deste lado. ]

(p. 145; trad. Luísa Freire)

11 novembro 2011

93 anos do fim da I Guerra Mundial (1918)

[...] o conflito entre a Brutalidade, representada pelos Alemães, e a Estupidez, que os Aliados encarnavam. [...]

(Fernando Pessoa, “Cinco Diálogos”, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 65, p. 317)

09 novembro 2011

Iconografia pessoana

Mulher de costas, vestida com túnica feita de páginas de um livro A mesma mulher afasta-se, subindo uma duna
Série «Pegadas do Desassossego»
Fotografias de Mar Caldas

07 novembro 2011

94 anos da Revolução Bolchevique (1917)*

Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 281)


* 25 de Outubro, no Calendário Juliano, então em uso na Rússia.

05 novembro 2011

Desemprego

[...] Os governos têm sido de uma notável incapacidade na solução dos principais problemas com que têm sido confrontados — o problema industrial propriamente dito, o problema do desemprego, o próprio problema do alojamento. [...]

(Álvaro de Campos, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 415)

02 novembro 2011

Dia dos “Fiéis Defuntos”

Os mortos! Que prodigiosamente
E com que horrível reminiscência
Vivem na nossa recordação deles!

(Álvaro de Campos, Poesia, 14, p. 102)

01 novembro 2011

Pessoa, sempre — todos os dias: Novembro de 2011

Calendário pessoano: Novembro de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

31 outubro 2011

494 anos da afixação das “95 Teses” de Martinho Lutero na porta da igreja do castelo de Wittenberg (1517)

Desde que se separou, na Renascença e depois da Reforma, do cristianismo católico, o espírito cristão tem caminhado lentamente num determinado sentido. Esse sentido é o de afastar cada vez mais o dogma, a «letra», como diz o Evangelho, e de se dedicar cada vez mais ao «espírito». O protestantismo mais não é do que a subordinação do dogma à doutrina, a substituição gradual da autoridade pela consciência no cristianismo.

(Fernando Pessoa, “Alemanha e a Guerra”, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 40, p. 234)

29 outubro 2011

1 ano da morte de João Paulo Seara Cardoso (2010)

Fernando Pessoa com marioneta de Fernando Pessoa
Aguarela de Hermenegildo Sábat
(Fonte: Público)

28 outubro 2011

307 anos da morte de John Locke (1704)

[...] Deu-se o caso em Inglaterra, no conflito, em grande parte nacional e especial, entre a monarquia dos Stuarts, conscientemente «de direito divino», e a oposição a ela, que assumiu episodicamente, e em contrário do sentimento da maioria, a forma republicana. Nasceu por fim, depois de pesados anos de perturbações, o chamado constitucionalismo, fórmula de equilíbrio espontâneo, provinda de antigas tradições nacionais em que o fermento de todas as doutrinas anti-monárquicas diversamente se infiltrava. O principal teorista do sistema, tal qual finalmente veio a aparecer, foi Locke, em seu Ensaio sobre o Governo Civil.

(Fernando Pessoa, “O Interregno — Defesa e justificação da ditadura militar em Portugal, III”,
Crítica, pp. 382–383)

25 outubro 2011

93 anos da morte de Amadeo de Souza-Cardoso (1918)

Orpheu 3 trará, também, quatro hors-textes do mais célebre pintor avançado português — Amadeu de Sousa Cardoso.
A revista deve sair por fins do mês presente. Para a mala que vem já lhe poderei dar notícias mais detalhadas.

(Fernando Pessoa, Correspondência (1905–1922), 93, pp. 220–221)


Nota: Na fonte usada consta a grafia «Amadeu de Sousa Cardoso», sendo talvez uma actualização feita pela organizadora do volume. No título deste post optou-se pela grafia «Amadeo de Souza-Cardoso» por ser a mais consagrada, sendo inclusivamente a do museu que lhe é dedicado em Amarante, embora nada justifique que não se tenha actualizado a grafia do nome deste autor, tal como, de resto, aconteceu a Luís de Camões, Eça de Queirós ou o próprio Fernando Pessoa.

22 outubro 2011

«Pessoa in New York»

Vídeo de Jeremy Freedman (2000).


http://www.youtube.com/watch?v=ou-2gKetRgg

19 outubro 2011

266 anos da morte de Jonathan Swift (1745)

É na incapacidade de ironia que reside o traço mais fundo do provincianismo mental. Por ironia entende-se, não o dizer piadas, como se crê nos cafés e nas redacções, mas o dizer uma coisa para dizer o contrário. A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele, deduzindo-se porém esse segundo sentido do facto de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz. Assim, o maior de todos os ironistas, Swift, redigiu, durante uma das fomes na Irlanda, e como sátira brutal à Inglaterra, um breve escrito propondo uma solução para essa fome. Propõe que os irlandeses comam os próprios filhos. Examina com grande seriedade o problema, e expõe com clareza e ciência a utilidade das crianças de menos de sete anos como bom alimento. Nenhuma palavra nessas páginas assombrosas quebra a absoluta gravidade da exposição; ninguém poderia concluir, do texto, que a proposta não fosse feita com absoluta seriedade, se não fosse a circunstância, exterior ao texto, de que uma proposta dessas não poderia ser feita a sério.

(Fernando Pessoa, “O Provincianismo Português”, Crítica, pp. 372–373)

16 outubro 2011

Dia Mundial da Luta Contra a Fome

[...] Alegria!
Hoje o almoço é amanhã.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 412)

15 outubro 2011

15 de outubro de 1890: data alternativa* para o “nascimento” de Álvaro de Campos

placa da rua
Rua Álvaro de Campos (Tavira)


(Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, pp. 344–345)

* Outra data possível é 13 de outubro.

13 outubro 2011

121 anos do “nascimento” de Álvaro de Campos (1890)

«O Poeta Álvaro de Campos»
Fotogravura de Bartolomeu Cid dos Santos (1984)


Nota: Um horóscopo de Álvaro de Campos, manuscrito pelo próprio Fernando Pessoa, coloca o “nascimento” do heterónimo à 1h17 da tarde de 13 de Outubro de 1890. Em carta a Adolfo Casais Monteiro, datada de 13 de Janeiro de 1935, Fernando Pessoa apresenta uma cronologia ligeiramente diferente: Álvaro de Campos teria nascido à 1h30 da tarde do dia 15 de Outubro. (Fernando Pessoa, Correspondência (1923–1935), 162, pp. 344–345)

10 outubro 2011

Dia Mundial da Saúde Mental

When I consider how real and how true the things of his madness are to the madman, I cannot but agree with the essence of Protagoras’ statement that “man is the measure of all things”.

[ Quando reflicto sobre quão reais e verdadeiras são para o louco as coisas da sua loucura, não posso deixar de concordar com a essência da declaração de Protágoras de que «o homem é a medida de todas as coisas». ]

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 11; em inglês no original)

07 outubro 2011

Conhece-se o Artífice pelas suas Obras

GOD’S WORK


«God’s work — how great his power!» said he
As we gazed out upon the sea
Beating the beach tumultuously
Round the land-head.

The vessel then strikes with a crash;
Over her deck the waters rash
Make horror deep in rent and gash.
«God’s work», I said.


(Alexander Search, Poesia, 40, p. 92; em inglês no original)


[ OBRA DE DEUS
«Obra de Deus — grande o seu poder!»
Disse ele contemplando o mar
Batendo a costa em tumulto,
Mesmo em torno do pontão.

O barco embate com estrondo,
A água inunda o convés
Abrindo fendas medonhas.
«Obra de Deus», digo então. ]


(p. 93; trad. Luísa Freire)

04 outubro 2011

54 anos do lançamento do Sputnik 1, primeiro satélite artificial da Terra (1957)

«O chapéu do poeta Fernando Pessoa»
Pintura de Costa Pinheiro (1979)

02 outubro 2011

Dia Internacional da Não-Violência

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;

(Álvaro de Campos, “Poema em linha recta”, Poesia, 41, p. 262)

01 outubro 2011

Dia Internacional do Idoso

Cada vez estou mais só, mais abandonado. Pouco a pouco quebram-se-me todos os laços. Em breve ficarei sozinho.

(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 143)

Pessoa, sempre — todos os dias: Outubro de 2011

Calendário pessoano: Outubro de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

29 setembro 2011

Confidências

1. Make as few confidences as possible. Better make none, but, if you make any, make fake or indistinct ones.

(Fernando Pessoa, “Rule of Life”, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 348;
em inglês no original)




[ 1. Faz o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma, mas se fizeres algumas, fá-las falsas e imprecisas. ]

(“Regra de Vida”, p. 349; trad. Manuela Rocha)

27 setembro 2011

Dia Mundial do Turismo

Sou forasteiro, tourist, transeunte.
E claro: é isso que sou.
Até em mim, meu Deus, até em mim.

(Álvaro de Campos, “Notas sobre Tavira”, Poesia, 157, p. 453)

Iconografia pessoana

Ilustração de Biratan

25 setembro 2011

Dia Mundial do Coração

Aquele peso em mim — meu coração.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 95)

Dia Mundial do Surdo

Deixa-me ouvir o que não ouço...

(Fernando Pessoa, Poesia (1918–1930), p. 365)

23 setembro 2011

72 anos da morte de Sigmund Freud (1939)

A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

(Álvaro de Campos, Poesia, 139, p. 425)

21 setembro 2011

Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Ser alheio até a si mesmo!
[...]
Ser esquecido de que se existe!

(Álvaro de Campos, Poesia, 218, p. 539)

18 setembro 2011

139 anos da fundação da Companhia de Carris de Ferro de Lisboa (1872)

«Pessoa e eléctrico»
Gravura de José João Brito (1985)

17 setembro 2011

72 anos da anexação soviética do leste da Polónia (1939)

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida,

(Ricardo Reis, “Os jogadores de xadrez”, Poesia, II, 31, p. 62)

15 setembro 2011

Dia Internacional da Democracia

Contra a democracia invoca-se, em primeiro lugar, o argumento da ignorância das classes cujo voto predomina, porque seja maior o seu número. Mas como os sábios divergem tanto como essas classes, não parece haver vantagens na ciência para elucidação dos problemas. Onde há, sem dúvida, vantagens para a ciência é na escolha dos homens que devem governar; ora é precisamente isso que o voto escolhe. O povo não é apto a saber qual a direcção que a política pátria deve tomar em tal período; mas os homens cultos também não o sabem, pois que divergem em tal ponto. Mas o que os homens cultos sabem, e o povo não sabe, é avaliar de competências para certos cargos. Propriamente, só financeiros é que sabem avaliar qual o indivíduo que melhor geriria as finanças de um povo; só militares, qual o melhor indivíduo para ministro da Guerra.

(Fernando Pessoa, “A Democracia”, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 22, pp. 126–127)

14 setembro 2011

144 anos da publicação do volume I de O Capital, de Karl Marx (1867)

[...] Uma pedra não tem na ponta da língua (que aliás não possui) tudo o que afinal Karl Marx nunca disse ou quis dizer.

(Fernando Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 373)

13 setembro 2011

Regresso às aulas

Pintura de João Luiz Roth

11 setembro 2011

120 anos do suicídio de Antero de Quental (1891)

O conflito que nos queima a alma, deu-o Antero mais que outro poeta, porque tinha a igual altura do sentimento e da inteligência. É o conflito entre a necessidade emotiva da crença e a impossibilidade intelectual de crer.

(Barão de Teive, A Educação do Estóico, p. 32)

10 setembro 2011

Dia Mundial para a Prevenção do Suicídio

A vida é um mal digno de ser gozado.

(Pantaleão, Pessoa por Conhecer, vol. II, 156, p. 208)

09 setembro 2011

573 anos da morte de D. Duarte (1438)

D. DUARTE, REI DE PORTUGAL


Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.

Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, III, p. 101)

07 setembro 2011

Iconografia pessoana

«Fernando Pessoa»
Pintura de Emerenciano (2010)

05 setembro 2011

106 anos do fim da Guerra Russo-Japonesa de 1904–1905

(When English journalists joked at Russian’s disasters)

Our enemies are fallen; other hands
Than ours have struck them, and our joy is great
To know that now at length our fears abate
From hint and menace on great Eastern lands.

Bardling, scribbler and artist, servile bands,
From covert sneer outsigh their trembling hate,
Laughing at misery, and woe, and fallen state,
Armies of men whole-crushed on desolate strands.

The fallen lion every ass can kick,
That in his life, shamed to unmotioned fright,
His every move with eyes askance did trace.


(Alexander Search, “To England, II”, Poesia, 24, pp. 52/54; em inglês no original)




[ (Quando jornalistas ingleses troçaram dos desastres russos)

Os nossos inimigos estão caídos; outras mãos
Que não as nossas os atingiram, e a nossa alegria é grande
Por saber que agora, finalmente, sossegaram os nossos medos
Das ameaças nas grandes terras do Oriente.

Poetelhos, escrevinhadores e artistas, bandos servis,
Exprimem o ódio intenso antes contido,
Rindo da miséria, da angústia, do estado caído,
Exércitos inteiros esmagados em costas desoladas.

Qualquer burro consegue escoucear o leão caído
Que, em vida, o paralisava vergonhosamente de medo,
Todos os seus movimentos seguidos de soslaio. ]


(“À Inglaterra, II”; tradução nossa)

03 setembro 2011

Hoje acordei assim...

Raios partam a vida e quem lá ande!...

(Álvaro de Campos, “Três Sonetos”, Poesia, 4.III, p. 58)

01 setembro 2011

Pessoa, sempre — todos os dias: Setembro de 2011

Calendário pessoano: Setembro de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

29 agosto 2011

De volta ao Norte...

ALENTEJO SEEN FROM THE TRAIN


Nothing with nothing around it
And a few trees in between
None of which very clearly green,
Where no river or flower pays a visit.
If there be a hell, I’ve found it,
For if ain’t here, where the Devil is it?


(Fernando Pessoa, Poesia Inglesa II, 2, p. 12)


[ ALENTEJO VISTO DO COMBOIO
Nada com nada à volta
E umas poucas árvores pelo meio,
Nenhuma delas claramente verde,
Onde nenhum rio ou flor dão o ar da sua graça.
Se por acaso existe um inferno, encontrei-o,
Pois, se não aqui, onde Diabo estará? ]


(tradução nossa)

28 agosto 2011

Amanhã regresso de férias...

Tenho que arrumar a mala de ser.

(Álvaro de Campos, Poesia, 140, p. 428)

27 agosto 2011

Iconografia pessoana

Ilustração de Pedro Sousa Pereira para a edição de Mensagem pela Oficina do Livro (2006)

25 agosto 2011

111 anos da morte de Friedrich Nietzsche (1900)

— Deus, Deus, Deus? disse o anarquista. Há séculos que Deus morreu; mas tem levado tanto tempo a fazer-lhe o caixão que já infesta o ar de seu apodrecimento.

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 68)

23 agosto 2011

Dia Europeu de Recordação da Vítimas dos Regimes Totalitários e Autoritários

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), p. 380)

20 agosto 2011

Iconografia pessoana

«Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou»*
Pintura de Norberto Nunes


* (Álvaro de Campos, Poesia, 149, p. 441)

17 agosto 2011

108 anos da criação dos Prémios Pulitzer (1903)

[...] O contrário foi uma mixórdia da nossa desqualificada imprensa periódica [...]

(Fernando Pessoa, “O Sentido do Sidonismo”, Da República (1910–1935), 103, p. 252)

14 agosto 2011

578 anos da morte de D. João I (1433)

D. JOÃO, O PRIMEIRO


O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

Mestre, sem o saber, do Templo
Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender.

Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, II, p. 95)

12 agosto 2011

184 anos da morte de William Blake (1827)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.

(Álvaro de Campos, Poesia, 101, p. 367)

09 agosto 2011

838 anos do início da construção da Torre de Pisa (1173)

Aguarela de Hermenegildo Sábat
(Fonte: Público)

07 agosto 2011

217 anos do último auto-de-fé em Lisboa (1794)

O que hoje prepondera em todo o mundo é o ódio à Inteligência.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego (Presença), vol. I, p. 230)

05 agosto 2011

1 ano do acidente na mina de Copiapó, Chile (2010)

Eh-lá desabamentos de galerias de minas!

(Álvaro de Campos, “Ode Triunfal”, Poesia, 8, p. 88)

03 agosto 2011

Panaceias e ilusões

O catolicismo é uma religião da panaceia, como o ateísmo ou o livre pensamento é uma ilusão da farmácia.

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 30)

01 agosto 2011

Pessoa, sempre — todos os dias: Agosto de 2011

Calendário pessoano: Agosto de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

28 julho 2011

97 anos do início da I Guerra Mundial (1914)

Ave guerra, som da luz e do fogo
Ave, ave, ave pelos teus arsenais e pelas tuas esquadras,
Ave, ave, ave, pelos teus barcos e pelas tuas fábricas,
Ave por toda a tua civilização de metal em obra,
Ave por todo o teu aço!
Ave por todo o teu alumínio!
Ave por todas as tuas máquinas, ave!
Ave, ave, ave, por toda a força motriz que tu és!

(Álvaro de Campos, “Ode Marcial”, Poesia, 226a, p. 557)

25 julho 2011

872 anos da Batalha de Ourique, “certidão de nascimento” do Reino de Portugal (1139)

Horóscopo de Portugal,
manuscrito por Fernando Pessoa

21 julho 2011

2366 anos da destruição do Templo de Ártemis em Éfeso (356 AC)

Não quero a fama, que comigo a têm
Heróstrato e o pretor

(Ricardo Reis, Poesia, II, 50, p. 80)

19 julho 2011

125 anos da morte de Cesário Verde (1886)

[...] Quando Cesário Verde fez dizer ao médico que era, não o Sr. Verde empregado no comércio, mas o poeta Cesário Verde, usou de um daqueles verbalismos do orgulho inútil que suam o cheiro da vaidade. O que ele foi sempre, coitado, foi o Sr. Verde empregado no comércio. O poeta nasceu depois de ele morrer, porque foi depois de ele morrer que nasceu a apreciação do poeta.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 106, p. 133)

16 julho 2011

A pontuação da vida

A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 375, p. 340)

13 julho 2011

10 julho 2011

109 anos da inauguração do Elevador de Santa Justa em Lisboa (1902)

Desenho de Silva Vieira (2003)

07 julho 2011

88 anos da morte de Guerra Junqueiro (1923)

[...] O Junqueiro não é um poeta. É um amigo de frases. Tudo nele é ritmo e métrica. A sua religiosidade é uma léria. A sua admiração da natureza é outra léria. [...]

(Alberto Caeiro entrevistado por Alexander Search, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 214)

05 julho 2011

829 anos do nascimento de “São” Francisco de Assis (1182)

[...] São Francisco de Assis: o abominável fundador de uma seita abominável.

(Ricardo Reis, Prosa, 39, p. 146)

01 julho 2011

Pessoa, sempre — todos os dias: Julho de 2011

Calendário pessoano: Julho de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

29 junho 2011

Heteronimia

Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 26, p. 63)



O desdobramento do eu é um fenómeno em grande número de casos de masturbação.

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 421, p. 477)



«Fernando Pessoa — Heterónimo»
Pintura de Costa Pinheiro (1978)

26 junho 2011

Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura

Ando como num sonho. Compungido
Pelo terror da morte inevitável
E pelo mal da vida que me faz
Sentir, por existir, aquele horror —
Atormentado sempre.
Objectos mudos
Que pareceis sorrir-me horridamente
Só com essa existência e estar-ali,
Odeio-vos de horror. Eu quereria
(Ah pudesse eu dizê-lo — não o sei)
Nem viver nem morrer — não sei o quê,
Nem sentir nem ficar sem sentimento...
Nada sei... Serão frases o que digo
Ou verdades? Não sei... eu nada sei...
Não posso mais, não posso, suportar
Esta tortura intensa — o interrogar
[Dos] que me cercam...

(Fernando Pessoa, Fausto — Tragédia Subjectiva, 26)

24 junho 2011

Iconografia pessoana

«Sardinha Fernando Pessoa»
Ilustração de Ana Luisa R. Silva
Festas de Lisboa 2011

23 junho 2011

1648 anos da morte de Juliano, último imperador pagão do Império Romano (363)

Ó Juliano Apóstata, que laço
É esse que me prende a quem tu foste,
Imperador sombrio e calmo, quem
É que em nós ambos é o mesmo alguém?
Porque sinto eu teu gesto no meu braço
Na minha vida tua morte.

Quem foste tu, que hoje me sabes tanto
A eu ter sido tu. Porque é que lembro
Teu vulto sério, o mando teu augusto,
Teu peito de alma, calmo e [] e justo,
Como o por Maio a Junho estéril pranto
Quando é Dezembro?

Imperador aceite pelas gentes
Do teu império em prisões de te querer,
Sóbrio, vergado sobre os livros, []

Agora, renascido,
Quero outra vez erguer os deuses mortos.

(Fernando Pessoa, Poesia (1902–1917), pp. 353–354)

22 junho 2011

22 Jun 1491 AC: Deus entrega os Dez Mandamentos a Moisés, segundo James Ussher (1581–1656)

1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.

2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.

3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos...

4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.

5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.

6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.

7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.

(Fernando Pessoa, Pessoa por Conhecer, vol. II, 73, p. 93)

20 junho 2011

Iconografia pessoana

Escultura em madeira de Gepeto-Pinóquio

17 junho 2011

Dia Mundial de Luta contra a Seca e a Desertificação

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.

(Álvaro de Campos, Poesia, 140, p. 429)

15 junho 2011

Heteronimia?

Em resumo, o homem de escol tem por mister o dissociar-se, o viver várias vidas paralelas — uma com a inteligência, outra com a emoção, a terceira com a vontade. O sinal do homem superior é não haver unidade nele. A sua inteligência pode despir-se de todos os preconceitos, inclusive os que julgam que o não são; e, no mesmo tempo, a sua emoção seguir recta e justa o caminho da moral mais humana, a sua vontade empregar-se humildemente no mister menos intelectual ou emotivo.

[...]

Para viver esta tripla vida da alma é preciso poder vivê-la. Para ser independente das próprias emoções é preciso poder sê-lo. Se o homem vulgar, ou meio-vulgar, quiser viver a vida de um homem superior, é um imbecil e um imoral, porque não está nele o viver tal vida. A um poeta de segundo plano exige-se, naturalmente, certo grau moral, certa elegância social. Mas um Shakespeare pode ser, como foi, agiota; um Milton pode ser, como foi, mestre-escola. Quem não pode ser dois que seja um, pois, se quiser ser dois, ficará partido.

(Fernando Pessoa, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, p. 259)

13 junho 2011

123 anos do nascimento de Fernando Pessoa (1888)

Sê plural como o universo!

(Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 94)



Pessoa, bebé, no bico da cegonha
Desenho de H. Mourato

10 junho 2011

Dia de Portugal...

O DOS CASTELOS


A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, I, p. 77)

... de Camões...

Quando um poeta inferior sente, sente sempre por caderno de encargos. Pode ser sincero na emoção; que importa se o não é na poesia? Há poetas que atiram com o que sentem para o verso; nunca verificam que o não sentiram. Chora Camões a perda da alma sua gentil; e afinal quem chora é Petrarca. Se Camões tivesse tido a emoção da morte da citada alma como emoção sinceramente sua, ele teria encontrado uma forma nova, palavras novas, tudo menos o soneto e o verso de dez sílabas. Mas não: usou o soneto em verso, como usaria luto na vida.

(Álvaro de Campos, Pessoa por Conhecer, vol. II, 405, p. 467)

... e das Comunidades Portuguesas

Como um vapor largando do cais para longa viagem,
Com a banda de bordo a tocar o hino nacional da Alma
Eu largado para X, perturbado pela partida
Mas cheio da vaga esperança ignorante dos emigrantes,
Cheio de fé no Novo, [...]

(Álvaro de Campos, “A Partida”, Poesia, 27c, p. 220)

08 junho 2011

Dia Mundial dos Oceanos

«Mar Portugués III»*
Pintura de Juan Soler


* (Fernando Pessoa, “Mar Português”, Mensagem, Segunda Parte, X, p. 147)

06 junho 2011

163 anos do nascimento de Gomes Leal (1848)

Sr. Gomes Leal é um grande poeta. Mas é o pior grande poeta que conhecemos.

(Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, X, 3, p. 330)

04 junho 2011

Véspera de eleições

[...] Esta opressão, que todos nós sentimos, esta vergonha de estarmos sendo governados por bacalhoeiros da política, [...]

(Fernando Pessoa, “Carta a um Herói Estúpido”, Da República (1910–1935), 82, p. 195)

70 anos da morte de Guilherme II da Alemanha (1941)

Aí! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!

(Álvaro de Campos, “Ultimatum”, Prosa Publicada em Vida, p. 280)

01 junho 2011

Dia Internacional da Criança

«Brincadeiras de criança»
Pintura de Alfredo Margarido (1988)

Pessoa, sempre — todos os dias: Junho de 2011

Calendário pessoano: Junho de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

31 maio 2011

109 anos do fim da Segunda Guerra Boer (1902)

Ill scorn beseems us, men of war and trick,
Whose groaning nation poured her fullest might
To take the freedom of a farmer race.


(Alexander Search, “To England, II”, Poesia, 24, p. 54; em inglês no original)


[ O desdém fica-nos mal, homens da guerra e do embuste,
Cuja queixosa nação pôs todo o seu poder
Para tirar a liberdade de uma raça de agricultores. ]


(“À Inglaterra, II”; tradução nossa)

Dia Mundial sem Tabaco

Ilustração de André Carrilho

28 maio 2011

85 anos da Revolução de 28 de Maio e instauração da Ditadura Nacional (1926)

O argumento essencial contra uma ditadura é que ela é ditadura, isto é, que é ilegal. [...]

(Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, 227, p. 372)

25 maio 2011

49 anos da morte de Júlio Dantas (1962)

Um grande artista (literário) nota-se aplicando-lhe a seguinte pergunta critica: tem paixão ou imaginação ou pensamento? [...] (Júlio Dantas nada: não é um grande poeta).

(Fernando Pessoa, “Estética”, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, VI, 6, p. 122)

591 anos da nomeação do Infante D. Henrique (“o Navegador”) como Grão-Mestre da Ordem de Cristo (1420)

«O Infante»
Ilustração de José de Almada Negreiros
para edição de Mensagem (1934)

23 maio 2011

475 anos da instauração da Inquisição em Portugal (1536)

[...] decaído o arabismo, ficou a parte inferior dele — o fanatismo religioso. Esse, que tinha facilidade demais para entrar para o cristianismo, deu uma das formas crististas mais desoladoramente antipáticas que tem havido — este catolicismo de selvagens da nossa península, esta fé que havia de produzir a Inquisição, esses circenses do povo ibérico. Na parte inarabizada da Península, o Norte, o cristismo fanático dos inquisidores nunca pegou.

(Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 256)

22 maio 2011

Início da campanha eleitoral

[...] A política partidária é a arte de dizer a mesma coisa de duas maneiras diferentes. [...]

(Fernando Pessoa, “O Burro e as Duas Margens”, Pessoa Inédito, 270, p. 427)

20 maio 2011

Dia da Marinha

Fernando Pessoa vestido de marinheiro
Fernando Pessoa aos 7 anos (1895)


(Fotobiografias do Século XX: Fernando Pessoa, p. 16)

17 maio 2011

Dia Internacional contra a Homofobia

Eu nunca fui dos que a um sexo o outro
No amor ou na amizade preferiram.
Por igual a beleza eu apeteço
Seja onde for, beleza.

(Ricardo Reis, Poesia, II, 156, p. 143)

16 maio 2011

Iconografia pessoana

Ilustração de Tullio Pericoli

15 maio 2011

Dia Internacional das Famílias

A doçura de não ter família nem companhia, esse suave gosto como o do exílio, em que sentimos o orgulho do desterro esbater-nos em volúpia incerta a vaga inquietação de estar longe — tudo isto eu gozo a meu modo, indiferentemente. [...]

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 199, p. 205)

13 maio 2011

94 anos da primeira “aparição” de Fátima (1917)

O verdadeiro patrono do nosso País é esse sapateiro Bandarra. Abandonemos Fátima por Trancoso.

(Fernando Pessoa, Sobre Portugal — Introdução ao Problema Nacional, 52, p. 177)

11 maio 2011

09 maio 2011

15 anos do «Affaire Sokal» (Maio de 1996)

Sociology is wholesale muddle; who can stand this Scholasticism in the Byzantium of today?

(Fernando Pessoa, “Personal Notes”,
Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 138;
em inglês no original)


[ A sociologia é uma trapalhada geral; quem pode suportar tal escolástica na Bizâncio de hoje? ]

(“Notas Pessoais”, p. 139; trad. Manuela Rocha)

06 maio 2011

Iconografia pessoana

José de Guimarães
série Pessoas em papel

03 maio 2011

556 anos do nascimento de D. João II (1455)

UMA ASA DO GRIFO:
D. JOÃO, O SEGUNDO


Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

(Fernando Pessoa, Mensagem, Primeira Parte, V, p. 119)

01 maio 2011

Dia da Mãe

À Minha Querida Mamã

Eis-me aqui em Portugal
Nas terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.*

(Fernando Pessoa, O Melhor do Mundo São as Crianças, p. 16)


* Provavelmente, o primeiro poema de Fernando Pessoa: está datado de 26/07/1895, quando o poeta tinha apenas 7 anos.

125 anos do Massacre de Haymarket (Chicago) e da luta pelo dia de trabalho de 8 horas (1886)

Henry Ford acaba de criar em suas fábricas a semana de cinco dias. E acaba de propor à consideração do mundo, como exemplo a seguir, esta redução filantrópica do trabalho dos seus operários. Sucede, porém, que já se sabe que os fabricantes de outros carros baratos americanos estão entrando pelas vendas dos automóveis Ford; que, ao passo que durante anos Ford produzia mais de metade dos automóveis fabricados nos Estados Unidos, produz agora [1926] apenas cerca de trinta e cinco por cento do total; que as fábricas Ford se vêem portanto confrontadas com o problema da sobre-produção, forçadas a produzir apenas sessenta e cinco por cento da sua capacidade, e obrigadas pois a trabalhar só quarenta horas por semana.

De sorte que, ao proclamar ao mundo como novo lema económico e moral a semana dos cinco dias, Henry Ford, sem ter que inventar para si um novo preceito prático, se limitou a seguir aquele, que é admirável, do mestre Macchiavelli: O que fazemos por necessidade, devemos fazer parecer que foi por vontade nossa que o fizemos.

(Fernando Pessoa, “Os preceitos práticos em geral e os de Henry Ford em particular”,
Crítica, pp. 341–342)

Pessoa, sempre — todos os dias: Maio de 2011

Calendário pessoano: Maio de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

30 abril 2011

66 anos do suicídio de Adolf Hitler (1945)

Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.

(Álvaro de Campos, “Lisbon Revisited” (1926), Poesia, 65, p. 300)

A função social da dúvida

A função do escol não é orientar, porque é duvidar, e com a dúvida não se orienta. A sua função é criar uma atmosfera de inteligência, de cultura livre, por meio da qual os fanáticos sintam o seu fanatismo mais atenuado, os seguros de si hesitem de vez em quando, os que trazem a verdade na algibeira vão de vez em quando verificar se ela está lá.

(Fernando Pessoa, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, p. 258)

28 abril 2011

66 anos da execução de Benito Mussolini pelos Partigiani (1945)

[...] se, por exemplo, um italiano [...] algures atacar [...] Mussolini como tirano da Itália, nada faz de ilícito, em nada ataca a sua pátria, antes, a seu modo, a defende; [...]

(Fernando Pessoa, “O nacionalismo liberal”, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, 83, p. 348)

26 abril 2011

95 anos do suicídio de Mário de Sá-Carneiro (1916)

«Fernando Pessoa e Sá-Carneiro»
Desenho de Bernardo Marques

25 abril 2011

Dia da Liberdade

[...] O amor cobarde que todos temos à liberdade — que, se a tivéssemos, estranharíamos, por nova, repudiando-a — é o verdadeiro sinal do peso da nossa escravidão. [...]

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 167, p. 180)

23 abril 2011

395 anos da morte de William Shakespeare (1616) e, talvez, 447 anos do seu nascimento (1564)*

O homem está acima do cidadão. Não há Estado que valha Shakespeare.

(Fernando Pessoa, Aforismos e afins, p. 64)



* A data de nascimento de Shakespeare não é conhecida com exactidão, mas sabe-se que foi baptizado a 26 de Abril, sendo nessa altura habitual o baptismo ocorrer ao segundo ou terceiro dia de vida da criança; a tradição mantém que o escritor morreu no dia do seu 52.º aniversário.
Miguel de Cervantes morreu também a 23 de Abril de 1616, mas note-se que não no mesmo dia de Shakespeare: nessa altura a Inglaterra seguia ainda o calendário juliano, e não o gregoriano (adoptado no mundo católico em 1582), pelo que o autor inglês morreu 10 dias depois do espanhol (a 3 de Maio, segundo o calendário gregoriano).
A coincidência (aparente) das datas foi um forte incentivo (entre outros) para que o dia 23 de Abril fosse declarado Dia Mundial do Livro.

20 abril 2011

Iconografia pessoana

«Aqui na orla da Praia»
Pintura de Ana Marques

18 abril 2011

154 anos da publicação de O Livro dos Espíritos por Allan Kardec, fundador do Espiritismo (1857)

Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos (delirantes sistematizados) justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez.

(Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 430, p. 382)

16 abril 2011

122 anos do “nascimento” de Alberto Caeiro (1889)

Não pretendo ser mais que o maior poeta do mundo. [...]

(Alberto Caeiro entrevistado por Alexander Search, Poemas Completos de Alberto Caeiro, p. 214)



[...] No fundo sou o mesmo que Deus.

(Alberto Caeiro, “Anarquismo”, Pessoa por Conhecer, vol. II, 325, p. 360)



Nota: Como muitas datas na cronologia do universos pessoano, também a data de “nascimento” de Alberto Caeiro não é consensual: Abril de 1889 surge mais frequentemente, mas Thomas Crosse, o ficcionado inglês divulgador da obra de Caeiro, aponta-lhe o nascimento para Agosto de 1887 e a morte para Junho de 1915. (Thomas Crosse, Pessoa por Conhecer, vol. II, 388, pp. 439–440)

13 abril 2011

Iconografia pessoana

«Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!»*
Pintura de Carlos Calvet (1987)


* (Álvaro de Campos, “Ode Marítima”, Poesia, 18, p. 108)

11 abril 2011

78 anos da entrada em vigor da Constituição de 1933 (Estado Novo)

POEMA DE AMOR EM ESTADO NOVO


Tens o olhar misterioso
Com um jeito nevoento,
Indeciso, duvidoso,
Minha Marta Francisca,
Meu amor, meu orçamento!

A tua face de rosa
Tem o colorido esquivo
De uma nota oficiosa.
Quem dera ter-te em meus braços,
Ó meu saldo positivo!

E o teu cabelo — não choro
Seu regresso ao natural —
Abandona o padrão-ouro,
Amor, pomba, estrada, porta,
Sindicato nacional!

Não sei por que me desprezas.
Fita-me mais um instante,
Lindo corte nas despesas,
Adorada abolição
Da dívida flutuante!

Com que madrigais mostrar-te
Este amor que é chama viva?
Ouve, escuta: vou chamar-te
Assembleia Nacional
Câmara Corporativa.

Como te amo, como, como,
Meu Acto Colonial!
De amor já quase não como,
Meu Estatuto de Trabalho,
Meu Banco de Portugal!

Meu crédito no estrangeiro!
Meu encaixe-ouro adorado!
Serei sempre o teu romeiro...
Pousa a cabeça em meu ombro,
Ó meu Conselho de Estado!

Ó minha corporativa,
Minha lei de Estado Novo,
Não me sejas mais esquiva!
Meu coração quer guarida
Ó linda Casa do Povo!

União Nacional querida,
Teus olhos enchem de mágoa
A sombra da minha vida
Que passa como uma esquadra
Sobre a energia da água.

Que aristocrático ri,
O teu cabelo em cifrões —
Finanças em mise-en-plis!
Meu activo plebiscito,
Nunca desceste a eleições!

Por isso nunca me escolhes
E a minha esperança é vã.
Nem sequer por dó me acolhes,
Minha imprevidente linda
Civilização cristã!

Bem sei: por estes meus modos
Nunca me podes amar.
Olha, desculpa-mos todos.
Estou seguindo as directrizes
Do professor Salazar.

(Fernando Pessoa, Poesia (1931–1935 e não datada), pp. 434–436)

08 abril 2011

Iconografia pessoana

«Fernando Pessoa ele-mesmo com a minha chávena
de café, um pincel e um lápis meus e a sua caneta»
Pintura de Costa Pinheiro (1980)

05 abril 2011

A elite e os ideais políticos ou religiosos

Desde que um homem capaz de fazer obra de escol, isto é, de ciência ou de arte, põe a sua capacidade ao serviço de um ideal religioso ou de um ideal político, trai a sua missão. Um católico não pode examinar o texto do Novo Testamento, pois fatalmente o não poderá examinar com isenção. O estudo de um regime monárquico não pode decentemente ser feito por um republicano — nem por um monárquico.

(Fernando Pessoa, Fernando Pessoa: O Guardador de Papéis, p. 258)

03 abril 2011

149 anos da publicação de Os Miseráveis (1862)

[...] obra intolerável do infeliz chamado Victor Hugo [...]

(Ricardo Reis, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, 353)

01 abril 2011

Dia das Mentiras

Não se preocupem comigo: também tenho a verdade.
Tenho-a a sair da algibeira como um prestidigitador.

(Álvaro de Campos, Poesia, 110, p. 379)

Pessoa, sempre — todos os dias: Abril de 2011

Calendário pessoano: Abril de 2011
Os ícones de cada dia foram adaptados dos do Labirinto do site MultiPessoa.

31 março 2011

284 anos da morte de Isaac Newton (1727)

O que há é pouca gente para dar por isso.


óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).

(Álvaro de Campos, Poesia, 243, p. 587)

29 março 2011

Hábitos de leitura

I have outgrown the habit of reading. I no longer read anything except occasional newspapers, light literature and casual books technical to any matter I may be studying and in which simple reasoning may be insufficient.
The definite type of literature I have almost dropped. I could read it for learning or for pleasure. But I have nothing to learn, and the pleasure to be drawn from books is of a type that can with profit be substituted by that which the contact with nature and the observation of life can directly give me.


(Fernando Pessoa, “Personal Notes”,
Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, p. 136;
em inglês no original)


[ Deixei para trás o hábito da leitura. Já não leio nada excepto um ou outro jornal, literatura ligeira e, ocasionalmente, livros técnicos relativos a qualquer matéria que esteja a estudar e em que o simples raciocínio possa ser insuficiente.
A literatura propriamente dita quase abandonei. Podia lê-la por aprendizagem ou por prazer. Mas não tenho nada a aprender, e o prazer que se obtém dos livros é de um género que pode ser substituído com proveito pelo que o contacto com a natureza e a observação da vida me podem proporcionar directamente. ]


(“Notas Pessoais”, p. 137; trad. Manuela Rocha)